IMUNIZANTE
Estudo investiga cura para o câncer de pele
Baianos podem fazer parte de pesquisa que desenvolve a vacina contra o câncer de pele não melanoma
Por Madson Souza
O câncer de pele é uma doença que faz parte do vocabulário popular. Basta ver alguém próximo tomando sol desprotegido que a enfermidade é citada. Não à toa é o tumor maligno mais comum no país (com 31,3% do total de casos), de acordo com a publicação Estimativa 2023, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A modalidade do câncer de pele não melanoma, a mais comum, possui um tratamento simples quando diagnosticado de forma precoce. Porém, quando a doença não é tratada pode levar a graves consequências e é para esses casos que está sendo desenvolvida uma vacina por meio de estudo mundial, que baianos poderão fazer parte.
O tratamento para os casos mais graves de câncer de pele não melanoma acontece por meio de cirurgia, que é considerada mutilante, de acordo com o oncologista da Clínica Amo, investigador do Etica Pesquisa e Ensino e um dos responsáveis pelo estudo na Bahia, Iuri Santana. “Quando essa cirurgia é no olho ou na orelha é preciso tirar um pedaço grande, às vezes metade de uma face, um olho, ou orelha. O que causa uma complicação na qualidade de vida por estética e funcional”, afirma.
A vacina que será testada é parte de um método que busca ser uma alternativa menos invasiva para esse tratamento. A ideia é reduzir o tumor para que seja realizada uma cirurgia menor e a vacina viria em seguida para evitar a reincidência da doença. O que o estudo busca averiguar é a eficiência e segurança do imunizante no combate à enfermidade, por isso a pesquisa possui três braços.
Um grupo de pacientes vai receber o procedimento padrão que é a cirurgia para retirar o tumor, enquanto um segundo grupo receberá um medicamento já testado e utilizado, que funciona no sentido de diminuir o tumor para tornar a cirurgia menor, e um terceiro grupo vai passar pelo mesmo processo, porém com a adição da vacina após o procedimento. O papel do imunizante no fim do esquema é garantir a imunidade do paciente, já que a doença pode reincidir - inclusive num estado mais grave - mesmo após a cirurgia.
O aspecto inovador da pesquisa é que o imunizante será desenhado molecularmente para cada indivíduo. O investigador da pesquisa chamou o processo de “terapia individualizada” e explica o funcionamento. “A vacina vai ser composta de RNA mensageiro produzido através do código genético do tumor. Vamos pegar o código genético do tumor do paciente, colocar numa ‘bolsinha’ de lipídios, gordura, e injetar no paciente para produzir anticorpos contra o tumor. Não é a vacina que vai tratar o tumor, a vacina vai estimular o sistema na produção dos anticorpos”, explica.
O grande desafio do projeto - considerando que demonstre sua eficácia - são os custos envolvidos. As estimativas de Iuri são de que cada dose tenha o custo de produção de R$100.000 ou R$200.000. “É uma tecnologia que está chegando agora e que sabemos que com a escala tende a baratear”, comenta o oncologista.
Pacientes e pesquisa
Pacientes com casos avançados de câncer de pele não melanoma do subtipo espinocelular - condição que é chamada de carcinoma -, que sejam candidatos a cirurgia serão considerados para a investigação. A pesquisa vai acontecer em vários países para determinar se o novo tratamento é eficaz e seguro para então ser aprovado comercialmente.
Vale ressaltar que em todos os estudos pregressos o imunizante demonstrou efetividade e segurança, conforme Iuri. “É um medicamento que já tem resultado, já foi testado em pacientes e mostrou ganhos, com benefício em sobrevida e redução do risco de metástase (estágio mais avançado do câncer). A gente sabe que consegue induzir imunidade e o mais importante é que ele é seguro”, pontua.
São os médicos de diversas unidades hospitalares da Bahia que irão identificar os possíveis candidatos e os encaminhar para o centro de pesquisa independente sem fins lucrativos, Etica Pesquisa e Ensino, sediado em Salvador. Pacientes vindos do interior terão custeados o deslocamento. Os candidatos farão exames médicos - também por conta do estudo - e os que forem selecionados serão sorteados para participar de um dos três braços já citados da pesquisa.
O estudo está para começar e deve permanecer aberto até 2027. Segundo Iuri Santana, um dos responsáveis pela pesquisa no estado, o sonho é que em três anos o estimulante esteja disponível no mercado.
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