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CELEBRAÇÃO

Lavagem do Bonfim mantém viva devoção pelo padroeiro dos baianos

Festa evolui com o passar do tempo, mas sem perder caráter religioso

Por Gabriel Vintina*

16/01/2025 - 0:00 h
Ápice da comemoração acontece quando as escadarias e o átrio da igreja são lavadas por cerca de 200 baianas vestidas de trajes típicos
Ápice da comemoração acontece quando as escadarias e o átrio da igreja são lavadas por cerca de 200 baianas vestidas de trajes típicos -

A Lavagem do Bonfim, um dos maiores e mais tradicionais eventos religiosos da Bahia, acontece hoje, mais uma vez, atraindo milhares de baianos e turistas para a celebração que mistura fé, cultura e festa popular.

Realizada anualmente na cidade de Salvador, a festividade reúne fiéis e foliões para acompanhar a lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, um dos maiores símbolos da crença na Bahia. Com o passar dos anos, a festa tem evoluído, incorporando novos elementos, mas sem perder a essência de sua origem religiosa.

Ao longo de sua história, a Lavagem do Bonfim tornou-se um evento multifacetado, em que a fé se mistura com a música, a dança e a alegria das ruas. Para muitas pessoas, como a baiana de acarajé Claudina Silva, a festa é uma verdadeira manifestação de devoção, mas também de resistência cultural.

“Faz uns três anos que não vou até o Bonfim, porque as pernas não estão mais fortes como antes. Agora eu coloco o grupo e deixo com eles. Vou até a Conceição, e depois volto para o memorial, mas não deixo de participar”, conta

Maria Luzia dos Santos, que nasceu nas proximidades da Igreja do Bonfim, conta com saudade das memórias que marcaram sua vida desde a infância. “Eu nasci atrás da Igreja do Bonfim, naquela ladeira. Desde pequena, eu tinha o pensamento de sempre ir à festa do Bonfim”, relembra Luzia, que cresceu acompanhando a festa de perto.

A baiana de acarajé, que participou da celebração por mais de 50 anos, recorda com carinho a época em que se vestia com traje típico e caminhava pela procissão. “Meu pai me vestia de baiana, com um saco de farinha, colocava um laço e flores do jardim, e me levava para a lavagem”, conta Luzia.

“Era um tempo bom, mas agora não consigo mais ir. Estou com 88 anos, as pernas não ajudam”, completa.

Luzia recorda o prazer de jogar “água de cheiro” pelas escadarias da Igreja do Bonfim, um dos momentos mais simbólicos da festa. “Era uma alegria, uma felicidade que não cabe em palavras. A gente sentia a energia daquela lavagem, a fé das pessoas que estavam ali”, diz.

A água de cheiro, que é jogada sobre os degraus da igreja, tem um significado profundo de purificação e devoção, simbolizando a renovação espiritual dos participantes. Luzia explica também sobre o encontro com outras baianas ao longo do caminho. “A gente se encontrava com as outras baianas, trocava aquele olhar de cumplicidade e dava um abraço, como se fosse uma grande família”.

Embora a festa tenha mudado ao longo dos anos, Luzia ainda carrega consigo a lembrança da energia daqueles tempos. “Sinto saudade, sim. Da época que a festa era mais tranquila e mais simples. Agora, com essa mudança toda, é difícil acompanhar, mas o Senhor do Bonfim está sempre em meu coração”, afirma.

Embora as mudanças na festa tenham afastado-a das ruas, Luzia ainda conserva sua devoção. “Eu tenho muita fé no Senhor do Bonfim. Sinto saudade dos velhos tempos”, conta.

Ela também fala sobre a transformação da festa ao longo dos anos, especialmente após a morte de figuras políticas importantes como ACM. “Quando ele estava vivo, a festa era diferente. Depois que ele faleceu, não consegui mais ir”, diz, refletindo sobre como a celebração perdeu parte da espontaneidade que ela conheceu.

Pagode

Para Edvaldo Santos, o pagode sempre foi uma das grandes atrações da Lavagem do Bonfim. Ele, que participa da festa desde 1983, lembra com carinho da época em que acompanhava o cortejo junto à sua turma, celebrando a tradição com música e alegria.

“Toda quinta-feira (de lavagem do Bonfim), por volta das 8h30 ou 9h, eu descia para a Conceição (da Praia) para acompanhar o cortejo até a Igreja do Bonfim. A gente fazia pagode, tomava uma cerveja, batia papo”, recorda Edvaldo.

Para ele, o clima descontraído era um dos maiores atrativos da festa, algo que sente falta hoje. “Eu tenho muita saudade da festa daquela época. Hoje, ela mudou muito”, lamenta, mencionando como as mudanças nas últimas décadas afetaram a atmosfera do evento.

Edvaldo também observa que, com o tempo, a festa perdeu um pouco da sua antiga essência, em que a liberdade e a informalidade reinavam. “Antes era mais tranquilo, a gente ia curtindo sem pressa, comendo, bebendo e se divertindo”, lembra.

Origem

Para ele, as alterações no estilo da festa, com a introdução de trios elétricos e a maior participação de turistas, fizeram com que o evento perdesse um pouco da sua espontaneidade. No entanto, ele ainda vê a Lavagem do Bonfim como um momento único de encontro e celebração. “Mesmo com todas as mudanças, ainda é uma festa importante para todos nós”, aponta.

A Lavagem do Bonfim tem uma origem marcada pela religiosidade e pela busca dos baianos por bênçãos e proteção. Historicamente, a festa foi instituída no século XVIII para celebrar a devoção ao Senhor do Bonfim, uma das figuras religiosas mais veneradas da Bahia.

De acordo com o historiador Murilo Mello, a festa sempre foi um reflexo das mudanças sociais e culturais de Salvador. “Antigamente, a festa era uma manifestação estritamente religiosa, com a lavagem das escadarias da igreja e a participação dos devotos. Com o tempo, a festa foi incorporando outras influências culturais, como o samba, o pagode e, mais recentemente, os blocos de rua”, explica Murilo.

Segundo o historiador, a festa também reflete a história da cidade de Salvador, especialmente no que diz respeito à presença de diferentes grupos culturais e religiosos. “A festa é uma das manifestações mais visíveis da resistência cultural e da diversidade religiosa de Salvador. O que começou como um evento de caráter religioso se transformou em uma grande festa popular, que atrai turistas de todas as partes do mundo”, diz.

Além disso, a participação de baianas, que se tornaram ícones da festa, também é um reflexo da valorização da cultura afro-brasileira na Bahia. “As baianas representam a identidade da festa e da própria cidade, trazendo consigo toda a riqueza cultural do povo negro da Bahia”, observa.

Murilo também destaca como a festa foi se adaptando às novas demandas da sociedade, especialmente com a crescente participação de grupos de corrida e ciclistas. “Nos últimos anos, temos visto uma transformação na dinâmica da festa, com a inclusão de grupos de corrida e pessoas de bicicleta. Isso é reflexo das mudanças no comportamento das pessoas e da sociedade, que busca um evento mais saudável, mas sem perder a essência popular e festiva”, fala o historiador.

Ele ressalta que, apesar dessas inovações, a Lavagem do Bonfim continua sendo uma festividade que representa a religiosidade e a cultura baiana, mantendo sua importância como um dos maiores eventos do calendário de Salvador.

Outras inovações, como a presença de food trucks e o aumento da oferta de opções gastronômicas, também têm contribuído para transformar a festa.

“A Lavagem do Bonfim tem se tornado cada vez mais inclusiva, permitindo que diferentes públicos se sintam à vontade para participar, desde os mais tradicionais até os mais alternativos”, afirma Murilo.

Para ele, essas mudanças são positivas, pois garantem que a festa continue atraindo pessoas de diferentes gerações e origens, sem perder sua essência.

*Sob a supervisão da jornalista Hilcélia Falcão

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Tags:

devoção lavagem do bonfim padroeiro dos baianos

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