VALORIZAÇÃO
Mansão do Caminho celebra novembro negro com desfile de penteados afro
Desfile é uma devolutiva de todos os ensinamentos aprendidos pelas crianças e adolescentes
Por Marcela Magalhães*
A Obra Social Mansão do Caminho, no bairro de Pau da Lima, foi palco do Desfile Consciência Negra e Empoderamento Capilar. O evento integra as celebrações do Novembro Negro, promovendo reflexões sobre identidade, ancestralidade e autoestima por meio da valorização dos penteados afro. O desfile é uma devolutiva de todos os ensinamentos aprendidos pelas crianças e adolescentes ao longo do ano.
Apresentando criações que simbolizam resistência e orgulho da cultura negra, as alunas do Curso de Tranças realizaram diversos penteados nas colegas, além de desfilarem também. A trilha sonora do evento foi composta por apresentações dos alunos do Curso de Percussão, reforçando a importância da cultura afro-brasileira.
O curso de tranças integra o projeto “Um Salto para o Futuro”, iniciado em 2024 através da Lei Rouanet, que oferece 16 modalidades artísticas e atende 557 crianças e adolescentes dos bairros periféricos de Salvador. Entre as atividades disponíveis estão: balé, dança moderna, violão, percussão, letramento, ética, cerâmica, artesanato, cabeleireiro, tranças afro, flauta doce e pintura.
Resiliência e resistência
Sabrina França, coordenadora do projeto, destaca que o objetivo vai além do aprendizado técnico: “Não se trata apenas de ensinar a trançar cabelos. Aqui, eles aprendem a história e a ancestralidade dos penteados afro, além de desenvolverem autoestima e senso de pertencimento. Esse desfile é um símbolo de resiliência e de resistência, especialmente no Mês da Consciência Negra”.
O curso de tranças afro é composto por jovens de 11 a 15 anos que estão em fase de aprender a cuidar do próprio cabelo, então são ensinados cuidados básicos como lavar e desembaraçar, e a partir disso são aprendidas técnicas de tranças variadas.
A professora do curso, Marília Aragão, explica que busca contextualizar a história das tranças por meio de filmes, aulas teóricas e o cotidiano dos estudantes: “Esse conjunto de história, cultura, atualidade e as coisas que eles vivenciam em casa e na escola, servem para fazer com que eles se sintam bem com esse cabelo. É importante que eles se sintam confortáveis no próprio cabelo, na própria pele”.
Para as alunas, o curso é um marco de mudança pessoal e familiar. Sara Aniceto, de 15 anos, compartilha que aprendeu a cuidar do cabelo da irmã e mudou a forma como enxerga suas origens:
“Minha mãe usava química porque não sabia cuidar do cabelo. Eu aprendi e ensinei em casa. Descobri que as tranças têm uma história, que não é só um penteado bonito, mas um símbolo de resistência dos nossos ancestrais”. No desfile Sara trançou os cabelos de suas colegas e revela qual o penteado mais desafiador: “A trança nagô em zigue-zague na cabeça inteira da menina foi muito complicado, mas ficou bonito. Eu nunca tinha feito antes”.
Já Ana Letícia, de 13 anos, ressalta o impacto cultural e emocional do aprendizado: “Antes, eu achava que trança era só um penteado qualquer. Hoje vejo que é algo especial, cheio de significado”.
As alunas afirmam que não pretendem seguir carreira no mundo da beleza, porém é uma forma de gerarem uma renda extra para suas famílias. Sabrina destaca histórias de jovens que já empreendem com as técnicas aprendidas: “Nosso projeto começou as aulas práticas no mês de janeiro e hoje a gente já tem alunas aqui do curso de tranças afro que já trabalham como empreendedoras, trançando os cabelos de pessoas da sua comunidade e ajudando suas famílias”.
Para a coordenadora, o maior presente é ver a alegria nos olhos dos estudantes: “A felicidade maior é ver a felicidade deles. Então aqui é justamente a oportunidade que a gente tem de mostrar o que eles aprenderam em sala de aula”.
*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
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