IBGE
Na Bahia, 8 em cada 10 indígenas (78,5%) vivem em áreas urbanas
Aumento na autodeclaração e dificuldade em se manter em suas terras estão entre as causas
Por Madson Souza
Aumento na autodeclaração de pessoas que antes não se viam como indígenas, dificuldade em se manter em suas terras, busca por maior acesso a direitos e serviços; as razões são diversas para explicar o aumento da população indígena em áreas urbanas. Oito em cada dez indígenas (78,5%) vivem nessas áreas, conforme dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número indica um aumento em comparação com dados do Censo de 2010, quando seis em cada dez indígenas estavam nessas áreas.
A Bahia é o estado com a 2ª maior população indígena no Brasil: 229.443 pessoas. O número representa 1,6% dos brasileiros e é a 5ª maior proporção entre os estados, com o dobro da participação nacional: 0,8%. Quando o olhar se direciona exclusivamente para as áreas urbanas, a Bahia possui a 6ª maior proporção de pessoas dos povos originários em áreas urbanas do país, superando a média nacional que é de 54,0%. A razão para este fenômeno tem a ver com fatores que explicam o aumento da população indígena no geral: a autodeclaração.
“Existe um movimento social na sociedade brasileira de valorização dos povos indígenas, de valorização da ancestralidade indígena enquanto país. Efeito das mobilizações do movimento indígena e de uma maior presença dessa população nos espaços de poder. Isso gera uma maior identificação da população com suas raízes, que antes buscavam esconder”, afirma o antropólogo e coordenador da licenciatura intercultural indígena da Universidade Federal da Bahia, Felipe Fernandes.
Outro motivo para essa maior presença indígena nas áreas urbanas da Bahia e no país é a necessidade de migração por conta da dificuldade que essas populações possuem em permanecer em suas terras que não estão demarcadas. Das 202 localidades indígenas da Bahia, apenas 63 (31,2%) estavam dentro de Terras Indígenas delimitadas. Proporção menor que a nacional, em que 71,5% das localidades indígenas (6.130) estavam dentro de Terras delimitadas.
“Existe uma dificuldade de permanecer nas terras que não estão demarcadas, que são invadidas e assediadas pelo agronegócio. Então, comunidades indígenas que têm pouca condição de se manter em seus territórios tradicionais acabam sendo forçadas a migrar para a cidade”, explica o presidente do conselho diretor da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), José Augusto Sampaio.
Ingresso nas universidades, acesso aos espaços de poder e a serviços de saúde, saneamento básicos e outros, além de mais oportunidades de emprego, são pontos que também movimentam um fluxo de indígenas em direção às áreas urbanas, segundo o indígena e bacharel em direito, Taquari Pataxó.
Questões específicas
A taxa de analfabetismo é um dado que chama atenção dentre os apresentados pelo Censo de 2022. Entre os indígenas urbanos na Bahia (13,6%), o número é maior do que o total da população urbana do estado (9,0%). Já nas áreas rurais, 1 em cada 4 pessoas não sabe ler nem escrever, e a taxa é de 25,7% para indígenas e 24,5% para a população em geral. O número é um dos indicadores que demonstra que, mesmo nas áreas urbanas, as condições de vida dos indígenas não são necessariamente as mesmas da população no geral.
“Os povos indígenas ainda são uma minoria na população urbana assim como na população em geral e tem questões específicas suas. É uma população mais envelhecida do que a população urbana em geral e o analfabetismo está muito correlacionado à idade. Está muito concentrado entre as pessoas mais velhas de 40 anos e principalmente de 60 anos ou mais”, explica a supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros.
Na Bahia, a população indígena urbana é mais feminina e envelhecida do que o total. A idade mediana para indígenas baianos urbanos (38 anos) é quatro anos a mais que a idade mediana do total da população urbana do estado (34). Outro elemento indicado por Mariana é que grande parte desta população vem de áreas rurais, afastadas dos grandes centros, em que os indicativos analfabetismo são maiores.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes