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SALVADOR

#NãoVoltaMaria quer romper ciclo da violência

Campanha alerta sobre perigos para vítimas de relacionamentos tóxicos que cedem a ‘arrependimentos’ e falsas promessas dos agressores

Por Gabriel Vintina*

27/11/2024 - 7:34 h
#NãoVoltaMaria entra na 2ª etapa da intervenção pública, composta por faixas que dialogam com as mulheres
#NãoVoltaMaria entra na 2ª etapa da intervenção pública, composta por faixas que dialogam com as mulheres -

Especialistas e organizações de defesa dos direitos das mulheres alertam para os perigos de permanecer em ciclos de violência doméstica. Segundo dados da ONU Mulheres e do Instituto Glória, a fase de “arrependimento” ou “lua de mel” do agressor — parte de um ciclo que começa com tensão, escalando para violência e retornando ao aparente arrependimento — é uma das mais traiçoeiras para as mulheres, pois frequentemente leva ao retorno do relacionamento abusivo.

Em Salvador, uma campanha de conscientização busca romper esse ciclo, com a mensagem clara: #NãoVoltaMaria. Esta é a segunda etapa de uma intervenção pública lançada em pontos estratégicos da capital baiana, composta por faixas que dialogam diretamente com as mulheres.

Para Fernanda Lordelo, secretária municipal de Política para Mulheres, Infância e Juventude de Salvador, o objetivo é romper com a normalização de comportamentos que alimentam o ciclo de violência. “Dialogamos sobre como essa intervenção poderia sensibilizar as mulheres e a sociedade sobre os perigos do arrependimento durante o ciclo da violência, que muitas vezes agrava as situações. Articulamos com os serviços da cidade para definir os espaços e momentos adequados para a colocação das faixas”, explica.

Inicialmente, a campanha apresentava pedidos de perdão, simulando a retórica de parceiros arrependidos. Agora, com a hashtag #NãoVoltaMaria, a resposta direta visa chamar a atenção para os riscos de ceder a essa dinâmica. A iniciativa, organizada pelo Instituto Glória e ONU Mulheres em parceria com a Prefeitura de Salvador, ocorre no âmbito dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

Apoio e confiança

Neste ano, a Bahia registrou uma redução no número de feminicídios de janeiro a novembro de 2024. Neste período, foram contabilizados 86 casos no estado, em comparação aos 95 registrados no mesmo intervalo de 2023. Em Salvador, o cenário é ainda mais positivo: os casos caíram de 19, no ano passado, para apenas 8 neste ano, representando uma redução de mais de 50%.

Essa queda na capital é atribuída a iniciativas como a Casa da Mulher Brasileira, que desde sua inauguração em dezembro de 2022, já realizou mais de 11 mil atendimentos, reunindo serviços como delegacia especializada, Ministério Público, Defensoria Pública e apoio psicológico em um só local. “Essa integração gera confiança nas mulheres. Muitas conseguem denunciar, obter medidas protetivas e iniciar um processo de superação do relacionamento abusivo”, afirma Neusa Cadore, secretária estadual de Política para as Mulheres.

Segundo o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, em 2024, foram registradas 7.007 denúncias de violência contra a mulher na Bahia. Dessas, 2.230 foram na capital baiana, 52 neste mês de novembro.

Ciclo da violência

Christiane Falcão, especialista de Programa na área do Enfrentamento da Violência contra Mulheres e Meninas da ONU Mulheres, esclarece que parte das ocorrências acontecem através do ciclo da violência doméstica que inclui momentos de tensão, explosão de agressões e um período de arrependimento, conhecido como a “fase da lua de mel”. “É nessa fase que, em tese, [o agressor] está arrependido, e a mulher acaba voltando para aquela relação que é abusiva. A ação do #NãoVoltaMaria busca alertar as mulheres sobre esse ciclo de violência, dando visibilidade a essa etapa da dinâmica abusiva”, afirma.

Falcão também destaca que a dependência financeira e a ausência de uma rede de apoio são os principais fatores que levam mulheres a permanecerem em relacionamentos abusivos. “A falta de uma rede de apoio e a dependência financeira, muitas vezes decorrente dos estereótipos de gênero, são fatores relevantes. Ainda prevalece, em algumas parcelas da sociedade, a ideia de que a mulher deve permanecer em casa, cuidando de assuntos domésticos [...] É essencial que elas tenham condições de romper com situações de abuso e dependência financeira, conquistando autonomia para transformar suas realidades”.

O ciclo da violência é complexo e, como explica a psicóloga Mayrlla Oliveira, é difícil para muitas mulheres romperem com ele. "Existem vários fatores que levam uma mulher a permanecer em um relacionamento abusivo ou a voltar para ele, mesmo sabendo que apanhava, que era xingada. O principal fator é a dependência emocional", afirma. Muitas mulheres se anulam como indivíduos e passam a depender emocionalmente e financeiramente de seus agressores, o que dificulta o rompimento da relação. Além disso, muitas vezes, esse comportamento é aprendido em casa, quando se cresce em um ambiente abusivo.

“A dependência emocional pode ser causada por vários fatores. Muitas vezes, ela é resultado de um espelhamento, como quando a mulher conviveu em uma família abusiva, onde o pai era abusivo com a mãe ou o padrasto com ela. Outro fator importante é a dependência financeira, que também está ligada a essa questão”, explica a psicóloga.

Avanços e desafios

A campanha #NãoVoltaMaria também busca engajar a sociedade como um todo na luta contra a violência de gênero. Para isso, é essencial desmistificar ideias como a de que violência verbal não é grave. “O importante é a gente visibilizar violências que antes a gente considerava normais. Ah, foi só uma coisa que ele falou, não foi uma ameaça. Ameaça também é crime, então a gente quer dar visibilidade a essas formas de continuação do ciclo da violência contra a mulher”, ressalta Falcão.

Além da conscientização, ações como o programa Alerta Salvador, a criação de centros de referência para mulheres e a implementação de políticas públicas focadas na autonomia econômica têm sido fundamentais na capital baiana. Empresas podem, por exemplo, aderir ao selo Pacto pela Mulher, comprometendo-se com práticas de equidade de gênero e combate à violência em seus espaços.

O apelo direto a homens e mulheres para romper com padrões nocivos reforça o papel de todos no combate à violência. “A gente convoca os homens também para uma reflexão sobre a reprodução desses comportamentos, sobre a ideia que se tem do lugar da mulher na sociedade e nos relacionamentos. Fiscalizar as roupas das mulheres, impedir que elas se relacionem com quem quiserem, seja com amigas, amigos ou familiares, são todos aspectos de violência. Esse é o alerta que deixamos tanto para mulheres quanto para homens”, conclui.

Campanhas como #NãoVoltaMaria servem para lembrar que a violência doméstica é um problema estrutural, que exige esforços coordenados de toda a sociedade. Desde a denúncia via canais como o Ligue 180 até o suporte às vítimas por meio de redes de apoio e políticas públicas, cada ação é um passo na direção certa.

Para mulheres em situação de violência, o recado é claro: “Procurem apoio. Há serviços disponíveis e pessoas dispostas a ajudar. Romper o ciclo é difícil, mas é possível e salva vidas”, reforça Fernanda Lordelo.

* Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre.

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Tags:

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