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Polêmica em Salvador: mostra de Arquitetura é criticada por falta de diversidade

Publicação da organização com foto dos 40 profissionais brancos gera indignação nas redes sociais

Luan Julião

Por Luan Julião

11/09/2025 - 17:49 h
Foto de apresentação dos 40 profissionais selecionados
Foto de apresentação dos 40 profissionais selecionados -

Em Salvador, a manhã desta quinta-feira, 11, começou marcada por uma intensa discussão nas redes sociais. A VII edição da Mostra Casas Conceito – Experience 2025 anunciou seu quadro de profissionais para a edição deste ano, composto por 40 arquitetos soteropolitanos que atuarão na reconstrução estética de edifícios do Centro Histórico da cidade.

O anúncio, no entanto, provocou críticas imediatas. Todos os profissionais listados são brancos, levantando questionamentos sobre inclusão e representatividade, principalmente considerando que Salvador é a cidade mais negra fora da África, com profunda herança cultural e ancestralidade africana. A foto publicada no perfil oficial da Casas Conceito mostrava os 40 profissionais vestidos de roupas claras no Elevador Lacerda, com vista panorâmica da Baía de Todos os Santos.

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Reações nas redes sociais

Um internauta resumiu a perplexidade que tomou conta das redes: "Acreditem: esse é o time de 40 profissionais envolvidos numa mostra de arquitetura e design em SALVADOR, CIDADE MAIS NEGRA FORA DA ÁFRICA".

Outro comentou: "Desde o início da faculdade, percebi logo que esses tipos de eventos, com a vibe da CASACOR, não são mostras; não são sobre arte nem sobre inovação, mas puramente eventos comerciais e altamente elitistas".

Comentário de um internauta
Comentário de um internauta

A crítica se intensificou com comentários sobre racismo estrutural: "Que o racismo 'choca' não é novidade, mas quando a gente vê imagens assim em Salvador, chega a causar perplexidade", escreveu outro internauta.

Outro usuário fala sobre o caso
Outro usuário fala sobre o caso | Foto: Reprodução / Redes Sociais

O arquiteto e humorista Lucas Dumas também se posicionou em vídeo que já ultrapassa 125 mil visualizações, ironizando a situação: "Na hora de marcar o quesito de diversidade eles deixaram em branco". O vídeo foi compartilhado pelo humorista e professor de História Matheus Buente, reforçando a mensagem.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Lucas Dumas (@lucassdumas)

Entre outras críticas, internautas alertam para o caráter excludente da iniciativa: "Para quem é de Salvador, isso não é novidade, e, com o passar dos anos, só tende a piorar. As Casas Conceito e a CASACOR reforçam o elitismo ao excluir arquitetos negros e ignorar a diversidade da cidade, além de tentar vender uma estética ancestral como se fosse inovação".

A jornalista e escritora Maíra Azevedo também comentou sobre o episódio nas redes sociais: "Tá tudo bem pra todo mundo? O país passou aquela fase em que todo mundo se preocupava em não parecer racista. Existia um esforço de mostrar diversidade nos espaços; de contratar pessoas pretas, indígenas, LGBT, PCD, existia a iniciativa de se discutir inclusão, de mostrar outras caras. Retrocedemos! Muitas empresas não querem nem pensar que diversidade gera mais lucro, amplia clientela, querem seguir com o padrão excludente."

Ela finaliza com um alerta contundente: "Fique ciente, isso não é um caso isolado. Preste atenção nos cargos de comando… precisamos voltar a falar sobre isso, porque não se trata de escolher por competência, é a decisão para a manutenção da opressão!".

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Maíra Azevedo (@tiamaoficial)

O evento é liderado pela empresária Andrea Velame e, conforme sua própria descrição, "a Mostra nasce do sonho de transformar o Centro Histórico de Salvador em um verdadeiro museu a céu aberto, democratizando o acesso à arte, arquitetura, design, moda, gastronomia, música, artesanato e turismo cultural."

No entanto, o simbolismo do palco escolhido para a mostra reforça ainda mais o debate: o Centro Histórico, especificamente o Pelourinho, nome que remete a um instrumento usado para a tortura de negros escravizados no passado. Após a repercussão negativa, a postagem com a foto do grupo de profissionais foi apagada pela organização do evento.

Entrevista com o arquiteto Deneson Ruan

Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o arquiteto soteropolitano Deneson Ruan criticou a ausência de profissionais negros no projeto:

"Estamos em Salvador, a cidade mais negra fora da África, a capital africana do Brasil, um território onde mais de 80% da população se reconhece como preta ou parda, com uma cidade erguida, sustentada e reivindicada pela força e pelo saber do povo negro. No entanto, quando olhamos para essa mostra da arquitetura, nos deparamos com uma ausência gritante. Onde é que estão as pessoas pretas? Eu estou aqui."

Ele acrescenta: "Como pode a capital optar por não enxergar, não valorizar? Não digo apenas da casa em questão, que é conceito, mas também da Casa Cor e de outras casas. Por mais que tenha um ou dois arquitetos, não é o suficiente. Afinal, estamos falando de Salvador, não é isso?".

Ruan ressalta ainda a desigualdade histórica no campo da arquitetura: "Na área da arquitetura, hoje em dia, os arquitetos pretos conseguem um pouco furar a bolha, mas ainda assim, em sua grande parte, a profissão é majoritariamente branca. Não abrir espaço para aqueles que carregam em sua pele, como eu, em sua vivência, em sua ancestralidade, a verdadeira identidade dessa cidade, não é por falta de talento, não é por falta de capacidade, é pela falta de oportunidade. Por que não convidar os arquitetos que fazem parte da cidade? Os arquitetos que são pretos? Por que não convidar?".

Ele compara a ausência de negros no evento com a própria cultura da cidade: "Realizar um evento desse em Salvador, sem falar da presença de arquitetos pretos, é como falar em samba sem batuque, é falar de candomblé sem atabaque, é como falar da cidade sem o povo. É um vazio que grita, que denuncia, que precisa ser reparado. Espero que 2026 tenha uma visão totalmente diferente, já que estamos falando de Salvador."

Ruan conclui enfatizando a necessidade de reparação histórica: "Incluir esses pretos não é um favor, é uma justiça, é uma reparação histórica. É reconhecer que a cidade é negra, que a cultura é negra, que a cultura precisa, sim, ter negros. E daqui em diante, nenhuma exposição, nenhum projeto, nenhuma iniciativa em Salvador deve se permitir apagar aqueles que são a alma dessa cidade. Porque não vale só celebrar a capital afro no discurso. É preciso dar voz, dar espaço, dar protagonismo àqueles que sempre foram silenciados."

A reportagem entrou em contato com a organização da VII edição da Mostra Casas Conceito – Experience 2025, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.

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Tags:

Bahia discussão polêmica racismo redes sociais Salvador

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