SALVADOR
Povo de candomblé discute sobre a preservação da religião
Intolerância religiosa e regularização fundiária são debatidas em encontro
Por Marcela Magalhães*

O Parque Pedra de Xangô e o Ilê Axé Obá Paleomon sediaram o 2º Encontro dos Povos e Comunidades de Terreiro, uma reunião com lideranças, estudiosos e membros das comunidades de terreiro para discutir a preservação da religião, intolerância religiosa e regulamentação fundiária. Com rodas de conversa e visitas guiadas, o evento visa fortalecer os laços comunitários e promover o reconhecimento e o respeito pelas práticas religiosas de matriz africana.
A discussão sobre regulamentação fundiária foi um ponto central do encontro. De acordo com Celso Almeida, doutorando em arquitetura na UFBA e Vodunsi do Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe (um terreiro Jeje Savalu tombado como patrimônio cultural), o tombamento de terreiros de candomblé é uma política de preservação de um elemento crucial constituinte de nossa própria identidade cultural brasileira, que é a cultura afro-diaspórica que veio com os negros escravizados e sobrevive hoje sobretudo nas comunidades de terreiro. Além de ser um instrumento de enfrentamento ao racismo e à intolerância religiosa, legitimando as práticas culturais e religiosas de uma população que sempre foi historicamente vulnerável e marginalizada socialmente. “A regularização fundiária é crucial para assegurar a continuidade das comunidades de terreiro e suas práticas religiosas, principalmente frente a desafios como a especulação imobiliária e a insegurança pública”, declara.
Pai Josias de Xangô, coordenador dos Povos Tradicionais da pedra de Xangô Obásorun e presidente da Associação Bominfá, destacou a importância de democratizar o acesso à informação sobre regulamentação fundiária. “Precisa ser dado o devido suporte ao nosso povo, pois a regularização perpassa por assumir custos que muitas vezes a maioria das casas não dispõe. Essas rodas de conversa democratizam as informações, garantindo que as políticas públicas beneficiem os terreiros menores, e não apenas os grandes terreiros”, explicou Josias. No evento houve uma visitação guiada ao Ilê Axé Obá Paleomon, que permitiu ao público conhecer de perto os espaços sagrados e suas práticas, visando o entendimento e o respeito pela religião.
A busca por uma regulamentação fundiária eficiente enfrenta diversos desafios, como a falta de recursos financeiros e a complexidade do processo burocrático. Celso Almeida ressaltou que, apesar de haver legislação vigente, a implementação efetiva depende da adequação das comunidades e do suporte do governo. “A regulamentação fundiária é uma forma de garantir a continuidade da existência das comunidades de terreiro, protegendo-as contra os riscos de exclusão e destruição”. Segundo Tata Eurico, Coordenador de Políticas Raciais da Secretaria Municipal da Reparação, as políticas públicas são essenciais para a preservação dos terreiros. “Estamos empenhados em instruir as lideranças para que possam se adequar às leis de regulamentação fundiária. É um processo que visa não só a proteção do espaço, mas também o reconhecimento das práticas religiosas”, afirmou.
*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre
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