CONSERVAÇÃO
Restauro de obras ajuda a preservar memória da capital
Trabalho de cuidar do patrimônio histórico e artístico de Salvador conta há mais de 50 anos com a dedicação de José Dirson Argolo
Por Leo Prado*

Museus, igrejas, esculturas, monumentos, estátuas e pinturas. Estes são alguns dos elementos que compõem o patrimônio histórico e artístico de Salvador, e que ajudam a contar um pouco da história dos 476 anos da cidade. Para preservá-los, a capital baiana conta com a ajuda de um importante personagem, o restaurador José Dirson Argolo.
Com mais de 50 anos de ofício, Argolo pode ser considerado uma espécie de guardião das figuras que preservam a memória da capital, tendo chefiado as grandes restaurações dos maiores patrimônios históricos da cidade ao longo da carreira. Hoje, aos 80 anos e dono do próprio ateliê, ele estima que o número de obras que ajudou a reformar já passou das cinco mil.
“Eu faço isso por puro prazer. Até hoje, todos os dias da minha vida, sigo respirando restauração. A minha grande realização da vida é a minha profissão”, afirma.
Natural de Jaguaquara, no interior baiano, o restaurador iniciou a trajetória em terras soteropolitanas no ano de 1971, quando ingressou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Lá, ele conta que, já no segundo ano do curso, decidiu que queria ser restaurador. Após a graduação, foi selecionado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil para especializar-se em Conservação e Restauração de Obras de Arte, na Università Internazionale Dell’Arte, em Florença, na Itália.
De volta a Salvador, em 1978, trabalhou no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), no Museu de Arte Sacra, e lecionou na Ufba. Em 1983, quando se viu conquistando um certo prestígio na área, fundou o Studio Argolo Antiguidades e Restaurações Ltda., seu próprio ateliê de restauração de obras.
“Nessa época, eu comecei a ganhar uma clientela particular, com senadores e deputados, por exemplo. Eu estava com um número muito grande de clientes, e não conseguia dar conta sozinho. Então, criei o meu ateliê, que é o mais antigo de Salvador”, lembra.
Entre os grandes trabalhos, Argolo faz questão de destacar as restaurações que realizou no Monumento ao Dois de Julho, que considera como o principal de Salvador. Instalado na Praça Castro Alves, no Campo Grande, a estrutura imponente faz referência à participação dos povos nativos na Independência da Bahia em 1823.
Segundo Argolo, foram três vezes em que o símbolo da independência passou pelos reparos de sua equipe, por conta de desgastes e até roubo de peças e vandalismo. Em 2003 foi quando ocorreu a maior reforma, quando os profissionais tiveram de lidar com danos extremos e a perda de partes da estrutura. “Estava extremamente danificado, com perdas importantes dos seus elementos. Foi um trabalho duro, mas de grande satisfação”, enfatiza.
Ainda no contexto da independência, o restaurador cuida há 28 anos dos caboclos e carruagens usados no desfile do 2 de julho. Em 1997, ele fez a primeira grande reforma das figuras. Desde então, é acionado todo ano, nas vésperas da comemoração, para deixá-las nos mais perfeito estado.
Outro trabalho importante, lembrado com carinho pelo profissional, é a restauração dos quadros e painéis artísticos da Escola Parque Salvador, complexo escolar criado sob o projeto do educador Anísio Teixeira, localizado no bairro de Caixa D’água. Segundo Argolo, as obras, repaginadas na década de 1990, têm grande importância para a história da arte baiana. “Elas representam o início da arte modernista no estado. São os primeiros grandes painéis feitos aqui, e tem a autoria de artistas renomados, como Jenner Augusto, Carybé, Mário Cravo, Carlos Mangano e Maria Célia Calmon”.
As igrejas também não ficam de fora da lista dos trabalhos do especialista. Constam no seu currículo de restaurações a Igreja de Santana, de Nossa Senhora da Graça, Catedral-Basílica, Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, Igreja de São Raimundo, entre outras.
“Esses patrimônios são testemunhas da história e da cultura de Salvador e da Bahia. Eles são o que de mais significativo existe da civilização, a verdadeira essência do desenvolvimento cultural do nosso povo. Preservá-los é uma obrigação da sociedade”, defende.
*Sob a supervisão do jornalista Fábio Bittencourt
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