SALVADOR
Roda de conversa celebra o legado de Cid Teixeira no jornalismo baiano
Cid Teixeira ocupou a cadeira 19 da Academia de Letras da Bahia
Por Ian Peterson*
O historiador e intelectual Cid Teixeira, um dos maiores nomes da historiografia baiana, completaria 100 anos hoje (11.11). Sua vida, dedicada à pesquisa e ao ensino da história, deixou um legado inestimável para a cultura baiana. E para celebrar, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) reuniu colegas, amigos e alunos do professor Cid Teixeira em diálogo a memória do comunicador.
Nascido em Salvador, em 11 de novembro de 1924, Cid Teixeira dedicou grande parte de sua vida à História, uma paixão que o levou a se tornar copista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e professor de História na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, além de lecionar na Universidade Católica de Salvador. Dirigiu a Fundação Gregório de Mattos e ocupou a cadeira 19 da Academia de Letras da Bahia, consolidando-se como uma referência intelectual na Bahia.
Entretanto, foi na comunicação que Cid encontrou uma forma de popularizar seu vasto conhecimento. Ao longo de sua carreira como jornalista e radialista, passou pelas redações do Diário da Bahia, do Jornal A Tarde, foi editorialista do Jornal da Bahia e redator-chefe da Tribuna da Bahia. Fundou o serviço de Rádio Educação da Rádio Educativa da Bahia e se destacou como narrador de eventos históricos nas rádios e na TV, aproximando o público baiano de suas próprias raízes e tornando a história acessível a todos.
O presidente da ABI, Ernesto Marques, destacou o papel fundamental de Cid Teixeira na construção de uma identidade cultural baiana, especialmente através de sua habilidade em “transformar informação histórica em produto de comunicação de massa”. Segundo Ernesto, Cid tinha “uma maneira absolutamente singular de traduzir fatos, lugares e personagens”, o que fazia com que a história ganhasse vida para o público. “Era muito comum a gente interromper uma conversa quando ouvia aquela voz grave contando algum aspecto curioso ou pitoresco da nossa história”, relembra Ernesto.
Ernesto revela que não concorda quando ouve que “a Bahia perdeu Cid Teixeira”, por considerar a expressão uma injustiça. Para ele, o correto seria reconhecer que “a Bahia ganhou Cid Teixeira” e que só o perderá se deixar que seu vasto legado material e intelectual se perca. “Uma boa parte já saiu da Bahia, e nós passaremos uma vergonha profunda se os 18 mil livros sobreviventes tiverem o mesmo destino”, alertou o presidente da ABI, enfatizando a importância de proteger esse acervo que representa a dedicação de Cid à Bahia. “A importância do centenário é lembrar que tudo que o professor produziu pela Bahia e para a Bahia não pode se perder”, conclui Ernesto.
O 1º vice-presidente da ABI, Luis Guilherme Tavares, ressalta que uma das memórias mais fortes de Cid Teixeira foi seu papel como radialista, especialmente com o programa “Pergunte ao José”. Segundo Tavares, essa presença na rádio deu a Cid a dimensão de “alguém que tinha a resposta para qualquer questão” e era reconhecido como uma referência. Jornalistas de várias gerações recorriam a Cid para esclarecimentos sobre temas em destaque, sempre certos de que “Cid responderia”, completou Tavares.
O amigo de Cid Teixeira e editor de algumas de suas obras, o artista plástico Fernando Oberlaender, destacou que o grande diferencial de Cid estava em sua capacidade de “popularizar a história” e torná-la acessível a todos, independentemente do nível intelectual. “Algumas pessoas criticavam ele, dizendo que ele era o varejista da história. Ele tinha muito orgulho disso”, lembra Fernando, referindo-se ao orgulho de Cid em lidar com a história de forma que todos pudessem entender. Esse, segundo Oberlaender, foi o grande papel de Cid como homem contemporâneo. “O legado dele é justamente esse papel de quem leva a história para todos. Ele tinha essa peculiaridade”, conclui Fernando, tem Cid como um dos maiores historiadores.
Fernando falou também da importância do professor na vida dele. Segundo ele, Cid foi seu padrinho como editor, acreditando em seu potencial quando ainda era muito jovem e inexperiente. “Ele confiou no jovem editor, em publicar vários livros comigo”, lembra Fernando, destacando a confiança que Cid depositava nas pessoas com quem trabalhava. “Ele dava toda a liberdade, estava sempre atento, mas confiava, apostava na gente”, afirma.
Acervo
O encontro reuniu historiadores, pesquisadores e representantes de entidades culturais, todos com uma preocupação comum: valorizar e preservar o acervo deixado pelo professor. A biblioteca de Cid Teixeira, com mais de 18 mil obras, está sendo oferecida por R$ 100 mil, mas as negociações com instituições interessadas não avançaram. A família do historiador deseja que o acervo seja adquirido em sua totalidade e que permaneça na Bahia.
*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
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