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SALVADOR

Terreiros repudiam profanação de cadáver atribuído ao Candomblé

Objetivo foi estabelecer um protocolo de ética e uma frente de repúdio ao vídeo de uma sacerdotisa

Isabela Cardoso

Por Isabela Cardoso

28/10/2025 - 20:28 h | Atualizada em 29/10/2025 - 14:22
Encontro dos líderes religiosos na Casa do Benin
Encontro dos líderes religiosos na Casa do Benin -

Em um ato de urgência e defesa da fé, líderes de terreiros de Umbanda e Candomblé de Salvador e Lauro de Freitas se reuniram na tarde desta terça-feira, 28, na Casa do Benin, no Pelourinho. O encontro foi convocado pela Yalorixá Jaciara Ribeiro, coordenadora estadual do GT de Mulheres de Axé da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO-BA).

O objetivo foi estabelecer um protocolo de ética e uma frente de repúdio ao vídeo da sacerdotisa Mãe Iara D'Oxum, que fez apologia a supostos rituais envolvendo vilipêndio de cadáver, uma prática criminalizada pela Constituição.

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O debate contou com a presença de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a expectativa de um diálogo com o Ministério Público para a elaboração de um documento oficial e um protocolo de coibição.

Contradições do vídeo

Para Mãe Jaciara, referência nacional na luta contra a intolerância religiosa, o vídeo representa um retrocesso e uma distorção grave das práticas do Candomblé.

“As redes sociais têm feito de retrocesso para a nossa religiosidade. De exposição, de barbáries que estão sendo expostas, que não conduz com a nossa religiosidade. Tem pessoas que estão achando que é do Candomblé, mas não é. Eu sinto que é uma nova religião com alguma essência do Candomblé, porque quem é de Candomblé não faz isso”, afirmou a Yalorixá.

Yalorixá Jaciara Ribeiro
Yalorixá Jaciara Ribeiro | Foto: Divulgação

A fala de Mãe Iara D'Oxum, que menciona "troca de cabeça" e "violar um túmulo para tirar uma cabeça fresca de um corpo", foi classificada por Jaciara como um crime e uma perversidade, por promoverem uma narrativa que alimenta o preconceito contra as religiões de matriz africana.

“O que ela fala de troca de cabeça e o que ela diz de violar um túmulo para tirar uma cabeça fresca de um corpo, é muito violento, porque já está na Constituição que isso é um crime. Mas embora ela diz que faz, ela faz uma apologia ao crime. De qualquer forma, ela pode trazer outras consequências para a nossa liberdade de culto. [...] Ela foi muito perversa de trazer algo que não é real. Ela criou esse ritual que não é do Candomblé,” enfatizou Jaciara Ribeiro.

Posicionamento de Mãe Iara

Após a repercussão, a equipe jurídica de Iaraci Santos Brito, conhecida como Mãe Iara D'Oxum, divulgou uma nota oficial. O advogado Tiago Marback afirmou que o vídeo foi publicado em resposta a uma seguidora e tinha como intenção “valorizar os ritos sagrados do culto afro-brasileiro”.

O comunicado reconhece, no entanto, que o tom não foi o melhor: “Mãe Iara encontra-se profundamente abalada com a repercussão do vídeo e reconhece que a forma que utilizou determinadas palavras foi infeliz, uma vez que abriu margem para inúmeras interpretações, não refletindo a sua verdadeira intenção.”

A sacerdotisa também declarou que seguirá “firme no propósito de educar, dialogar e combater qualquer forma de intolerância religiosa”, reiterando o compromisso com a legalidade e o respeito à diversidade cultural.

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Medo da intensificação da intolerância

Apesar do esclarecimento, os líderes religiosos expressaram receio de que o vídeo reforce estereótipos violentos e coloque os praticantes das religiões de matriz africana em maior risco. A Yalorixá Jaciara fez questão de reafirmar os fundamentos da fé:

“Não cultuamos o diabo. Não matamos criancinhas. Não bebemos sangue. Cultuamos a força da natureza, os Orixás, a divindade", completou.

Uma religiosa presente, que preferiu não revelar a identidade, ressaltou o perigo político e social do conteúdo.

“Ela entrega de bandeja, para uma nação que é extremamente violenta para a gente, uma política contra o nosso povo. É como se a gente profanasse os túmulos que são da fé e religião para fazer troca de cabeça, isso não fazemos. Não é nosso, das religiões de matrizes africanas. Um culto que profana, que fere a constituição. [...] A gente corre mais risco a partir daquele vídeo,” desabafou.

Os líderes esperam coibir a continuidade de tais exposições, que, segundo eles, mancham e criminalizam indevidamente uma fé baseada no culto à natureza e ao respeito.

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Tags:

candomblé Intolerância religiões de matriz africana vilipêndio

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