ATENÇÃO
Tragédia em exame de ressonância magnética repercute em cuidados
Episódio ainda sob investigação gerou onda de preocupação em pacientes e familiares sobre segurança
Por Gabriel Vintina*
A recente tragédia envolvendo um paciente que perdeu a vida durante um exame de ressonância magnética em Santos (SP), retomou o debate sobre os cuidados necessários e as medidas de segurança que envolvem o procedimento. O episódio, ainda sob investigação, gerou uma onda de preocupação entre pacientes e familiares, especialmente aqueles que já enfrentam certo receio do exame por questões de fobia a espaços fechados.
O caso do empresário Fábio Mocci Rodrigues Jardim, de 42 anos, que morreu enquanto realizava um exame de ressonância magnética na cabeça em uma clínica em Santos, ainda está sendo investigado em necropsia, pelo Instituto Médico Legal (IML), para descobrir o que provocou a morte.
A ressonância magnética é considerada um exame seguro, com baixos riscos para a maioria dos pacientes. No entanto, há uma série de recomendações rigorosas que devem ser seguidas para garantir a segurança de todos, especialmente quando há histórico de problemas de saúde preexistentes. "Os procedimentos de imagem têm que ser, primeiro, solicitados por algum médico, a respeito de alguma doença que esteja sendo investigada", explica Otávio Marambaia, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Ele ressalta que o prestador de serviços de saúde deve ter uma equipe capacitada e pronta para agir diante de qualquer emergência.
Michel Fonseca, tecnólogo em radiologia e professor, também reforça que o procedimento, quando realizado com todos os cuidados, é muito seguro. “A ressonância não utiliza radiação ionizante como o raio X, o que reduz efeitos a longo prazo. O campo magnético e as ondas de rádio usadas são seguros, e o contraste da ressonância é um dos mais seguros em exames de imagem”, afirma Fonseca, destacando, no entanto, a importância do cuidado com materiais metálicos, que podem interagir com o forte campo magnético do aparelho.
Atenção ao paciente
Segundo Fonseca, "a maioria dos incidentes registrados não é causada pelo aparelho, mas por condições de saúde que o paciente já apresenta." Ele cita, por exemplo, a necessidade de precauções em relação a dispositivos metálicos, como marca-passos e clipes cirúrgicos, que podem ser afetados pelo campo magnético intenso do aparelho de ressonância.
Além disso, o paciente precisa passar por uma triagem rigorosa, relatando, entre outros detalhes, se possui dispositivos metálicos ou tatuagens, pois estes podem interferir durante o exame. "Pacientes com tatuagens mais antigas, por exemplo, podem sentir certo incômodo devido ao aquecimento da tinta, mas isso é, em geral, de baixa gravidade”, comenta Fonseca.
O medo de espaços fechados, comum em procedimentos de ressonância, também é uma questão a ser levada em conta. Para alguns pacientes, o exame em si já é um motivo de tensão, especialmente para aqueles que não gostam de se sentir presos, como Romilda Oliveira, de 54 anos. “Eles prendem as mãos com uma fita, e aquilo me dá pânico. Eu procuro ter autocontrole para não mexer, porque se eu me mexer, eles falam que tenho que repetir”, relata Romilda. “Quem tem ansiedade e medo realmente sofre. Eles pedem para que a gente segure um alarme, então, se sentir algo, aperto e eles vêm ao meu encontro”.
Preparo das clínicas
Diante do temor que episódios como este geram, profissionais da área de radiologia recomendam que clínicas mantenham uma equipe médica presente em todos os exames para auxiliar em casos de urgência. "Se o paciente tem fobia e precisa ser sedado para realizar o exame, é essencial que haja um médico monitorando o procedimento para qualquer eventualidade", explica Fonseca. Segundo ele, a presença de uma equipe preparada é fundamental para minimizar riscos.
“Compete ao prestador de serviços manter, sempre, médicos durante a realização do exame [...] deve haver estrutura da clínica capacitada para atender essas intercorrências", destaca Otávio Marambaia, do Cremeb.
Para especialistas, uma comunicação clara e precisa sobre os riscos e benefícios do exame pode ajudar a tranquilizar pacientes e familiares, principalmente depois do recente caso. Fonseca acredita que, apesar do medo natural, a ressonância magnética continua sendo uma tecnologia crucial no diagnóstico de diversas condições médicas.
"Acredito que a educação e a comunicação correta são os melhores caminhos para evitar o pânico e prevenir incidentes", finaliza Fonseca, ao comentar que as clínicas devem investir em treinamentos frequentes e em um ambiente acolhedor.
A perda do paciente em Santos é um lembrete da importância do rigor na prática médica e da atenção à saúde como um direito que deve ser exercido com segurança e responsabilidade. Os desdobramentos das investigações poderão revelar com mais precisão as causas da morte e apontar eventuais falhas, contribuindo para que novas medidas possam ser aplicadas, se necessário.
Profissionais e instituições agora aguardam o desfecho do caso, enquanto a sociedade questiona se o temor do exame, natural para alguns, pode aumentar após episódios como este.
*Sob a supervisão da editora Isabel Villela
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