SALVADOR
Uso de patinetes elétricos entra em nova fase na cidade
Com o fim do período experimental de 90 dias, prefeitura vai publicar edital estabelecendo as regras de uso e exploração do serviço
Por Ana Cristina Pereira

Os azulzinhos vieram para ficar. Desde janeiro, os patinetes elétricos fazem parte da paisagem de Salvador, sobretudo na orla, onde podem ser vistos da Barra a Itapuã. E juntamente com as bicicletas amarelas trouxeram um toque colorido e aumentaram a oferta de mobilidade urbana sustentável na capital. Com o fim do período experimental de 90 dias, a prefeitura vai estabelecer as regras de uso e exploração do serviço, por enquanto operado apenas pela empresa JET.
Nestes três meses, o grupo formado pela Secretaria de Mobilidade (Semop) Transalvador e secretarias da Fazenda (Sefaz), Turismo (Saltur) e da Ordem Pública (Semope) acompanhou e fiscalizou a chegada do modal por aqui. O assessor especial da Semop, Guillermo Petzhold, informa que o edital de credenciamento vai ser lançado nos próximos dias, com a definição das regras claras de circulação para os usuários e para os prestadores de serviço interessados.
“O patinete elétrico é mais uma opção sustentável para as pessoas se deslocarem pela cidade em seu cotidiano. Temos acompanhado a expansão do número de viagens e de usuários”, afirma Guillermo, que acredita que o modal veio para somar nos pequenos deslocamentos, garantindo mais acessibilidade à população. O serviço já foi expandido, por exemplo, para algumas áreas internas da Barra e Ondina e bairros como Campo Grande, Itaigara, Caminho das Árvores e Garcia. E já conta com 800 patinetes, 500 a mais do que no começo da operação.
Boa adesão
Pioneira do serviço em Salvador, a JET avalia positivamente o período de teste e comemora a “boa adesão” dos baianos e turistas. E reafirma o interesse em continuar explorando o modal. “Como todo início de operação, sempre há pontos a melhorar no relacionamento dos usuários com os patinetes elétricos, mas notamos que houve uma grande aceitação desde o Verão”, pontua Lincoln Silva, assessor da empresa. Segundo ele, houve um acesso crescente nas manhãs dos dias úteis, o que pode ser interpretado como um uso complementar no trajeto do soteropolitano para o trabalho.
Os patinetes elétricos da JET estão em mais 20 municípios de nove estados, em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Florianópolis, Aracaju e Fortaleza, somando mais de 1 milhão de viagens por mês. “Compreendemos que o soteropolitano abraçou o novo modal no seu cotidiano, e já está se habituando no uso dos veículos conforme as regras de trânsito, à medida que um número ínfimo de usuários tiveram contas bloqueadas por infrações”, diz Lincoln.
Mais precisamente 550 contas, entre os quase 70 mil usuários cadastrados na plataforma, que realizam uma média de 25 mil viagens por semana. Os bloqueios, anunciados na semana passada, foram feitos durante fiscalizações realizadas pela empresa, com supervisão de técnicos da Semop. Entre as principais irregularidades estão o deslocamento com mais de uma pessoa por patinete e adultos que liberaram os equipamentos para menores de idade. Vale ressaltar que os patinetes possuem placa de identificação e GPS, facilitando a identificação dos infratores - punidos inicialmente com a suspensão por sete dias.
Quedas e machucados
As duas irregularidades mais comuns são proibidas pela resolução 996 do Còdigo Nacional de Trânsito (Contran) que definiu, em 2023, algumas regras para o uso dos patinetes elétricos. O órgão também orienta que a circulação deve acontecer em ciclovias e ciclofaixas e quando ocorrer em vias locais, precisa acompanhar o sentido de circulação dos veículos. A lei não exige capacete e outros equipamentos de segurança, mas esse é um ponto que divide opiniões.
“Acho que as pessoas deveriam usar capacete, pois é um veículo e quando elas caem são projetadas e podem bater a cabeça e acabar se machucando com gravidade”, afirma o tenente coronel Luide Souza, que é especialista em trânsito e professor da Escola Pública de Trânsito do Detran- BA. Ele também acha importante o uso de joelheiras e a circulação exclusiva em ciclovias e ciclofaixas, além de seguir as outras regras básicas do Contran.
Entusiasta do modal como mais uma opção de circulação sustentável na cidade, o tenente Luide achou caro o valor cobrado pelo serviço. “Achei o valor da hora um pouco oneroso para o padrão de vida em Salvador”, pontuou. Os valores atuais variam de R$ 0,25 a R$ 0,69 o minuto; já a assinatura, que fica mais em conta, custa R$ 14,99 (mensal) e R$ 49, 99 (anual). Para acessar o patinete elétrico é preciso baixar o aplicativo da JET, onde o usuário encontra as instruções básicas.
Aulas na Orla
Foi na parte da tecnologia que os amigos Luiz Fabiano e Cauã de Jesus se enrolaram um pouco no primeiro uso do patinete elétrico. Os soldados saíram do quartel na sexta-feira à tarde, resolveram experimentar e estavam adorando. “A gente se bateu um pouco na hora de pagar e acabamos optando pelo pix”, contou Fabiano. A dupla, no entanto, não teve dificuldade em operar o equipamento, que atinge a velocidade máxima de 20 km/h, sendo que, nas áreas de maior circulação de pedestres, o limite chega a 10 km/h.
Mas para quem precisar de ajuda - tanto no aplicativo quanto no uso prático - basta recorrer aos instrutores da empresa, que ficam nos pontos principais de aluguel. O instrutor Maicon Nascimento disse que costuma orientar as pessoas a realizar o cadastro e as formas de pagamento, mas também sobre o uso dos freios, os locais e a forma de entrega do patinete. Há ainda a possibilidade de fazer uma aula gratuita de direção,para a qual não é preciso realizar inscrição prévia: basta comparecer aos locais divulgados pela empresa por meio do aplicativo e apresentar um documento oficial com foto.
E aqui uma curiosidade, para quem ficou impressionado com um patinete circulando a quase 60 km/h na Paralela, no último dia 26, com a imagem viralizando nas redes sociais: aquele equipamento era de uso privado, caso contrário ele teria sido bloqueado e deixado o condutor irresponsável à pé.
Projetos na Câmara e na Assembleia propõem regras para o serviço
O vereador Marcelo Guimarães Neto (União Brasil) apresentou na semana passada um projeto de lei à Câmara Municipal de Salvador (CMS) que regulamenta a circulação dos patinetes elétricos na cidade.
Uma das medidas propostas no documento diz respeito sobre as características técnicas dos veículos, além de estabelecer locais permitidos para circulação e requisitos de segurança, bem como o uso de sinalização noturna, velocímetro e limitador de velocidade.
“Precisamos de regras para evitar conflitos entre pedestres, ciclistas e motoristas e assegurar que a mobilidade sustentável não coloque a segurança da população em risco”, disse o vereador novato. A proposta será analisada pelas comissões temáticas, e caso aprovada, segue para discussão no plenário do Legislativo.
No mês passado, o deputado Hassan (PP) encaminhou à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) um projeto de lei para obrigar as empresas que operam serviços de aluguel de patinetes a fornecer capacetes de proteção aos seus usuários, como condição para a utilização do veículo.
“A empresa deverá assegurar que os capacetes sejam higienizados e mantidos em boas condições de uso, providenciando a substituição em caso de desgaste ou danos”, diz o texto, que segue em tramitação na Alba e deve passar por análise nas comissões temáticas antes de ser votada em plenário.
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