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10/10/2024 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Gabriel Vintina*

DEPENDÊNCIA

Vício em jogos online afeta saúde mental

Especialistas alertam para um fato atual: cada vez mais pessoas no mundo têm vício em jogos online

Marcus Barbosa, psicólogo do CAPS: ‘a prevenção sempre é o melhor caminho’
Marcus Barbosa, psicólogo do CAPS: ‘a prevenção sempre é o melhor caminho’ -

No Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado hoje, especialistas aproveitam a data para alertar sobre uma preocupação crescente: o vício em jogos online, que vem comprometendo a saúde mental de um número crescente de pessoas. Enquanto para muitos os jogos são uma forma de entretenimento, para outros eles se tornam um vício com consequências devastadoras, afetando suas vidas pessoais, familiares e profissionais.

Pablo Sauce, psicólogo e coordenador do Programa de Dependência Química da Holiste Psiquiatria, afirma que o vício em jogos online é comparável ao vício em substâncias, como o álcool e as drogas. “O sinal de dependência surge quando a diversão se transforma em uma compulsão. A pessoa sabe que está ultrapassando limites, mas não consegue parar. É uma força maior que ela”, explica Sauce. Ele ressalta que o comportamento compulsivo é marcado pela ansiedade, que impulsiona o indivíduo a repetir a ação de jogar, mesmo quando há prejuízos financeiros ou pessoais.

A dependência em jogos online pode passar despercebida pela família e amigos, já que muitas vezes o indivíduo tenta esconder seu comportamento. “A pessoa se isola, fica mais retraída, e como grande parte desses jogos acontece no celular, ela está sempre conectada, alimentando o vício”, relata Sauce. Esse isolamento social, segundo ele, agrava ainda mais a situação, levando a uma desconexão emocional e afetiva com o mundo ao redor.

O impacto financeiro é outro aspecto alarmante. Muitas vezes, o vício leva o indivíduo a gastar quantias significativas de dinheiro, colocando em risco o sustento da família. Pablo Sauce destaca que, em muitos casos, a pessoa aposta com a ilusão de recuperar o que perdeu, mas o ciclo vicioso continua. “Por mais que aposte, ele sempre perde, e isso afeta diretamente sua saúde mental e relações familiares”.

Serviço de acolhimento

Nas Clínicas da Família disponibilizadas nos CAPS - Centros de Atenção Psicossocial, que atendem pacientes com transtornos mentais graves, o vício em jogos online ainda não é uma demanda expressiva. Marcus Vinícius Barbosa, gerente do CAPS III Jardim Armação, observa que o perfil dos pacientes que procuram atenção é voltado principalmente para dependências químicas e quadros psicóticos avançados. “Até agora, não recebemos demandas relacionadas aos jogos online, mas estamos preparados para acolher quem precise de ajuda”, afirma.

Por outro lado, ele salienta que o tratamento de qualquer vício envolve um processo de acolhimento, terapias e, em casos mais graves, internação. O CAPS oferece um suporte que inclui psicólogos, assistentes sociais e oficinas terapêuticas. Segundo Barbosa, o acolhimento inicial é fundamental para avaliar a gravidade do caso e direcionar o tratamento adequado. “Temos uma rede de suporte que inclui até 14 dias de cuidado intensivo, mas a prevenção é sempre o melhor caminho”.

Campanhas educativas

Marcos Gêmeos, presidente do Conselho Estadual de Saúde da Bahia, aponta que o vício em jogos online é uma questão de saúde pública que merece mais atenção. “O Conselho tem acompanhado os impactos disso na população e entende que é preciso regulamentar os jogos online para evitar que o vício se torne mais disseminado”, afirma. Ele também defende que o debate sobre os riscos do vício em jogos deve ser levado para dentro das escolas, com campanhas educativas voltadas para os jovens.

Além dos danos à saúde mental, o presidente do Conselho Estadual de Saúde ressalta que o vício em jogos online gera um alto custo para o sistema de saúde pública. “Estamos lidando com algo estrutural. Esse vício leva a transtornos como depressão, ansiedade e, em casos extremos, até suicídio. Precisamos tratar essa questão com seriedade e ampliar a rede de assistência para essas pessoas”, explica Gêmeos.

Marcus Vinícius Barbosa acrescenta que, para aqueles que já estão viciados, a rede de saúde mental oferece suporte contínuo, com acompanhamento psicológico e oficinas de reabilitação. “É importante que a pessoa e sua família busquem ajuda o quanto antes, pois quanto mais cedo o tratamento começa, maiores são as chances de recuperação”, explica o psicólogo.

O vício em jogos online não é apenas um problema individual, mas um fenômeno que afeta toda a sociedade, como ressaltado por Pablo Sauce. “É um vício silencioso, que pode começar como um simples passatempo e acabar destruindo vidas”.

Rede de apoio

Apesar das recentes discussões a respeito dos vícios em jogos online, a questão já é um caso de saúde pública há alguns anos, antes mesmo desses jogos ganharem as plataformas digitais, como conta o ex-jogador, que preferiu se manter anônimo. "Eu tive um problema, sou jogador em recuperação e estou há 15 anos limpo, permanentemente. Entrei em um grupo de Jogadores Anônimos porque não havia outro jeito de parar de jogar. Procurei ajuda e encontrei o que precisava para iniciar minha recuperação", conta.

A dependência de jogos pode ser devastadora. Muitas pessoas não conseguem perceber o impacto negativo que isso causa em suas vidas. “Eu diria que o jogo tem uma característica própria, insana e progressiva. Quando estamos com a adicção ativa, os prejuízos só aumentam, seja no campo emocional, financeiro, espiritual ou profissional. Quanto mais cedo a pessoa buscar ajuda para parar, melhor. É um processo difícil, principalmente para os jovens de hoje com tanta exposição à internet”, relata.

Segundo o jogador, que hoje integra a parte de acolhimento do Jogadores Anónimos, o perfil das pessoas que procuram o grupo mudou nos últimos anos, com o jogo online sendo o principal foco. "Hoje, eu sou uma das pessoas que atendem as ligações. Eu atendo quem está buscando ajuda, e essa demanda está muito grande. Quase 100% das pessoas que procuram o grupo são dependentes de jogos online, especialmente jovens", conta.

Notícias sobre pessoas vendendo seus bens, ou até, como no caso recente, seu filho, para manter a dependência nos jogos, têm rodado a internet nos últimos dias, ganhando cada vez mais espaço no noticiário. Revelando a gravidade do problema da dependência em jogos não só na Bahia, como no mundo. “Essas loucuras acontecem o tempo todo, e milhares de pessoas estão vivendo isso. Então, é fundamental que quem está nessa situação busque ajuda em um local apropriado, como os Jogadores Anônimos, onde há muitas sugestões e apoio para a recuperação. Quando estamos no vício, perdemos tudo. Chegamos a cometer atos desonestos para continuar jogando. Esse é um dos maiores prejuízos que uma pessoa pode sofrer”, explica o jogador.

Na Bahia, existe um grupo de apoio dos Jogadores Anônimos que atua há 18 anos no Centro Comunitário da Igreja da Pituba, sala número 14, e se reúne todas as quartas-feiras, das 19h às 21h. Essa rede de suporte tem sido fundamental para ajudar pessoas a lidarem com a compulsão por jogos, oferecendo acolhimento e tratamento para aqueles que buscam recuperação. O grupo já está presente no Brasil há 35 anos, reforçando a importância de espaços de apoio mútuo no combate a esse vício, que, com o crescimento dos jogos online, se torna uma questão de saúde pública cada vez mais urgente.

*Sob a supervisão da editora Isabel Villela

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Tags:

Dia Mundial da Saúde Mental jogos online

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