COMIDA
Alergias alimentares demandam cuidados durante os festejos de rua
É preciso redobrar a atenção quando há oferta restrita e difícil acesso a informações sobre os ingredientes
Por Jane Fernandes

Cerca de 3,5% dos adultos e 6% das crianças do Brasil têm alergia a algum alimento, segundo estimativas do Alergia Alimentar Brasil, um projeto criado por mulheres que convivem com o problema em suas famílias.
Quem apresenta reações alérgicas a itens alimentícios costuma ter muito cuidado quando vai a restaurantes e festas, e redobra a atenção em situações com oferta restrita e difícil acesso a informações sobre os ingredientes, a exemplo do Carnaval.
Nos circuitos carnavalescos, quem não está em camarotes conta apenas com a comida de rua para aliviar a fome. Quem é alérgico à camarão não vai comer um salgado com esse recheio, mas há sempre o risco de ter um toque de camarão seco sem aviso prévio. Para pessoas com alergia mais relacionada a aditivos alimentícios, o cachorro-quente é vetado por conta da salsicha, mas é quase impossível garantir que eles não estão no tempero do churrasquinho.
Essa incerteza quanto à segurança para alérgicos fez com que a professora Ana Cristina Rosário Lima, 49 anos, passasse a evitar consumir alimentos vendidos na rua a todo custo. “Evito lanchar na rua devido aos corantes e os embutidos que colocam nos alimentos. E ando sempre com os antialérgicos na bolsa, na carteira, porque quando inicia o processo é rápido, a língua incha e não consigo mais ingerir nada”, conta.
“Meu primeiro processo alérgico foi a medicamentos. Com o passar do tempo fui percebendo que ao comer alguns alimentos eu começava um processo de coceiras e inchaços nos lábios. Tive várias vezes em clínica de alergologia, mas os médicos diziam que era difícil detectar em exames ao que realmente eu era alérgica, e que eu teria de observar o meu corpo ao comer alguns tipos de alimentos: ver as reações e fazer um diário dos alimentos ingeridos no dia. A partir daí o que eu comia e inchava, eu tirava do meu cardápio”, conta Ana.
Associando suas reações alérgicas a corantes e conservantes, a professora precisa sempre tomar muito cuidado com alimentos industrializados. Já aconteceu de comer uma moqueca de peixe na qual o garçom havia garantido só ter temperos naturais e, depois de começar o inchaço e coceira pelo corpo, descobrir que ele estava equivocado. Os problemas podem ocorrer até mesmo em alimentos aparentemente insuspeitos, como uma pamonha, na qual descobriu tardiamente a adição de essência de baunilha.
Entre os condimentos naturais, a pimenta é o único a gerar alergia em Ana. Item comum na culinária baiana, a pimenta é o alérgeno envolvido no caso da jovem Thaís Medeiros que ficou com lesões cerebrais após uma reação anafilática. Segundo divulgado na imprensa, a trancista não chegou a ingerir pimenta, tendo apenas pego o condimento para cheirar.
Vias
O alergologista e imunologista Carlison Oliveira, do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/Ebserh-Ufba), reforça que não é necessário o consumo de um alimento para o disparo de uma reação alérgica a ele. Quando a pessoa tem alergia conhecida ou tem essa predisposição e já foi exposta anteriormente ao alérgeno, que é um componente daquele alimento, a reação pode ser provocada por contato com a pele e/ou inalação deste item.
Segundo o médico, as alergias estão mais relacionadas aos diferentes tipos de proteína presentes nos alimentos, embora existam casos também disparados por outros componentes. Ele ressalta que para haver uma reação alérgica é preciso que a pessoa tenha tido contato prévio com aquele componente, gerando uma sensibilização inicial. A pessoa pode não ter ingerido algum alimento com o alérgeno, mas ter absorvido pela pele ou vias respiratórias.
Oliveira ressalta que a alergia não se confunde com intolerância a determinado alimento, pois a reação alérgica é uma resposta do sistema imunológico, que passa a identificar um componente alimentar como agressor ao organismo. Geralmente isso ocorre em pessoas com predisposição genética a desenvolver alergia alimentar ou pode acontecer de forma transitória na infância, quando o sistema imunológico ainda é imaturo.
“Existem proteínas que estão em várias fontes diferentes, o que a gente chama de pan alérgeno. Existe uma proteína que está no amendoim, está na soja e está em algumas plantas, então se você tiver uma reação a essa proteína, você pode reagir com vários alimentos diferentes, alimentos que não são aqueles que levaram ao diagnóstico”, detalha o alergologista, destacando que muitas vezes é difícil identificar exatamente o componente disparador da reação.
Essa dificuldade se aplica aos casos de alergia a corantes e conservantes, comenta Oliveira, que são muito raros, principalmente se aplicados a um grupo de produtos e não algo específico. Um exemplo de conservante alérgeno é o bissulfito de sódio, às vezes usado na conservação do camarão e gerador de uma reação semelhante à provocada pelo próprio alimento. “Por isso tem paciente que às vezes tem reação quando come camarão e outras vezes não tem”, comenta.
Independentemente do alérgeno envolvido, uma emergência deve ser procurada imediatamente quando a pessoa apresentar sintomas relacionados à reação anafilática. Os primeiros sinais destacados pelo médico são queda de pressão, sonolência e tontura, características de uma manifestação cardiovascular provocada pelo alérgeno. “Tem pacientes que vão a óbito porque não conseguem identificar essa reação”, alerta.
“O segundo é o estridor laríngeo”, diz o especialista referindo-se à produção de um ruído durante a inalação, resultante da obstrução parcial da área da garganta, provocado pelo edema da glote. O terceiro alerta de gravidade é a presença de desconforto respiratório. As manifestações dermatológicas, como coceira e aparecimento de placas vermelhas, isoladamente não sinalizam reação anafilática, mas se estiver combinado com um dos sintomas mais graves também caracteriza uma emergência.
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