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16/10/2023 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Jane Fernandes

OUTUBRO ROSA

"As mulheres devem perder o medo de receber diagnóstico"

Ana Cátia Mendonça, diretora do Centro Estadual de Oncologia concedeu entrevista para A TARDE

Imagem ilustrativa da imagem "As mulheres devem perder o medo de receber diagnóstico"
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Quando foi criado, em 1974, o atual Centro Estadual de Oncologia (Cican) era voltado apenas para a saúde da mulher. Em 1999, o Centro passou a ser responsável pela implantação de ações de prevenção, diagnóstico e tratamento dos cânceres de colo uterino e mama nos municípios baianos. Nos últimos 20 anos, outras especialidades e serviços foram incorporados gradualmente. No Outubro Rosa, a diretora do Cican, Ana Cátia Mendonça, falou com A TARDE sobre o trabalho desenvolvido no Centro.

De que forma os serviços do Cican auxiliam mulheres no diagnóstico e tratamento do câncer de mama?

O Cican é o centro estadual de referência oncológica, ele teve sua origem num centro de tratamento para doença sexualmente transmissível, e faz parte da rede própria direta da Secretaria Estadual de Saúde. É um centro de referência para todos os 417 municípios que compõem o estado da Bahia, a gente tem como sede cirúrgica o Hospital Roberto Santos, e, além das especialidades obrigatórias para uma unidade de tratamento oncológico, a gente atende dermatologia, cuidados paliativos e clínica da dor. Durante todo o ano, a gente faz o tratamento de pacientes, faz o diagnóstico e faz o rastreio. A mulher deve vir referenciada de uma unidade básica de saúde com um exame - por exemplo, o ultrassom - que seja sugestivo de uma alteração. Se através do autoexame, ela percebe a presença de uma tumoração, uma vermelhidão, uma alteração da forma da mama, ela deve se dirigir a unidade básica de saúde e daí ela vem com esse encaminhamento. Eu tenho triagem durante todo o ano, onde a gente distribui as fichas e passa por um enfermeiro especializado ou por um médico também especializado, que vai encaminhar já para o mastologista. Se ela não tiver, o mastologista vai solicitar a mamografia, a ultrassom de mama bilateral, e de acordo com a avaliação, faz a solicitação de exames específicos que a gente disponibiliza: a core biópsia, que é a biópsia guiada, e a mamotomia, um procedimento para investigação do câncer que na rede própria hoje só é encontrado no Cican. Depois que esses procedimentos escolhidos pelo médico são feitos, a gente inicia o tratamento, daí o mastologista encaminha essa mulher para o oncologista, para o radioterapeuta ou para a cirurgia, cada caso depende exclusivamente da avaliação médica. Todos os tratamentos disponíveis podem ser feitos, se for necessário, incluindo a entrada em cuidados paliativos, lembrando que os cuidados paliativos são para todo e qualquer paciente que tem doença grave e não apenas para paciente terminal, são terapêuticas oferecidas para melhorar a qualidade de vida. O que a gente gosta de deixar muito claro é que legalmente o tratamento tem 30 dias para iniciar após o primeiro diagnóstico confirmatório, mas tem que ficar esclarecido que o que confirma o diagnóstico de câncer é a anatomia patológica, é o estudo do fragmento daquele local feito em laboratório específico, isso é a legalidade para que o paciente seja considerado positivo para câncer.

Apesar dos avanços, ainda temos muitos casos diagnosticados tardiamente. O que é preciso para aumentar o percentual de diagnósticos precoces?

Primeiro tem de haver a desmistificação. Nós mulheres precisamos, além do empoderamento feminino, além da questão do autocuidado, a gente precisa procurar os profissionais na mínima dúvida. Ainda existe um preconceito - um conceito antes - muito forte, tanto no aspecto feminino como no aspecto masculino, lembrando que no próximo mês a gente vai estar fazendo a campanha do Novembro Azul. No aspecto feminino, o meu público-alvo são mulheres em idade fértil, e a mama está literalmente atrelada ao maternar, então quando existe alguma possibilidade de doença na mama há um preconceito da própria mulher em procurar e mostrar, em expor o problema. Então a detecção precoce é uma mão dupla, com campanhas de incentivo para que a mulher procure serviços e faça periodicamente os exames, e que os serviços recebam essas mulheres durante todo o ano e não apenas no mês alusivo ao Outubro Rosa. Mostrando quão importante é essa parceria, uma das alternativas que a gente vem executando no Cican é a sala de espera, em que o acompanhante também é chamado para fazer parte do cuidado daquele que ele está acompanhando, e daí incentivar para ele se observar. A gente sabe que hoje, estatisticamente, câncer de mama e próstata, principalmente no Nordeste, são causadores das maiores incidências de morte por câncer. Quanto mais precocemente o câncer for detectado, maior possibilidade de cura. Tem que ser um movimento contínuo da população e da sociedade, eu costumo dizer que a população tem de ser estimulada, porque afinal de contas quem estudou fomos nós, então a gente tem que ir atrás dessa população.

O Outubro Rosa inspirou a criação de outros meses simbólicos para a prevenção de câncer. Considera que essas ações têm surtido efeito na sociedade?

Enquanto profissional de saúde, eu acho de vital importância. Como a gente vê o Novembro Azul, como a gente teve o Setembro Amarelo, como a gente vai ter o Dezembro Branco, essa cores elas vão refletindo historicamente de forma muito benéfica. O que eu posso dizer é que o que atrai a mulher não é aquela coisa impositiva de que você vai para um espaço de saúde apenas fazer um exame. Não, você vai ser acolhida na sua totalidade, você vai ser estudada e você vai ser conduzida. Daí que a gente vê caminhadas, a gente vê movimentos em shoppings, a gente vê dias de praia, a gente vê vários movimentos de práticas integrativas… O Outubro Rosa nasceu meio que numa necessidade de gritar “precisamos lutar pela causa” e vem trazendo consequências maravilhosas. Eu posso usar o exemplo do nosso primeiro dia D, no dia 7, em que eu tive mulheres previamente agendadas, mas eu tive mulheres que vieram por conta da oferta e da praticidade. Nesse cotidiano que a gente vive foi um divisor de águas, a mulher que pôde passar pelo médico e fazer o exame no mesmo dia, ela não teve como recusar a oferta. A mulher que passou pelo médico e que eu agendei o exame, eu já não tenho tanta certeza que ela volta, pela dinâmica do dia a dia, das múltiplas facetas que nós mulheres estamos fazendo na atualidade. No Outubro Rosa há mais ações que concentram maiores ofertas, a campanha tem esse êxito sem sombra de dúvida.

Em que medida o SUS tem conseguido acompanhar os avanços no tratamento oncológico?

O carro chefe e, talvez, o mais assustador dos momentos do tratamento oncológico é - na minha opinião, com essa vivência que eu tenho tido com câncer - a quimioterapia, porque vai na questão da estética, vai na questão da autoimagem. E os fármacos que são oferecidos na rede pública são exatamente os mesmos que são oferecidos na rede privada. A rede pública se adequa àquilo que aparece de nova formulação e oferece para o usuário, então eu considero que o ganho na oferta desses fármacos é o que vem causando muito menos efeitos colaterais, hoje eu consigo ver pacientes que com o primeiro ciclo - e algumas fazem ciclo a cada 21 dias - começam a ter perda de cabelo, aí fazem a opção de raspar o cabelo e em quatro meses, cinco meses, ela já está com o cabelo nascendo novamente. Há cinco, dez anos a gente não via com tanta rapidez. A gente também fala dos efeitos da radioterapia, e recentemente a gente teve divulgados nacionalmente modelos como o tratamento de Simony, o tratamento de Preta Gil, porque antigamente a gente achava que, uma vez positiva para o câncer, o tratamento começava obrigatoriamente pela quimioterapia ou pela cirurgia. A gente viu, está vendo, Preta Gil começou pela radioterapia e foi para quimioterapia, só então foi para a cirurgia. O SUS acompanha o que a indústria farmacêutica lança e traz de novidade, eu costumo dizer que o plus que a gente do SUS precisa buscar diuturnamente é o acolhimento multiprofissional, é se ater à possibilidade de complicação antes que ela aconteça. O paciente oncológico precisa de todos da multiprofissionalidade, o olhar do nutricionista, o acolhimento do serviço social, a aplicação da terapia ocupacional, o acolhimento psicológico, o acolher e o cuidado prestado pela enfermagem… Isso faz toda a diferença!

Quais são as especialidades adicionais oferecidas pelo Cican?

Segundo a portaria nacional, para ser um centro de atendimento ao câncer você tem que ter as especialidades básicas: mastologia, urologia, coloproctologia e a própria oncologia. O Cican, com o passar do tempo, foi se adequando às necessidades e, num alinhamento muito próximo da Secretaria Estadual, a gente foi buscando aquilo que era pertinente à nossa estrutura física e que tinha também a oferta de profissionais, esse é o grande é agravante em sendo câncer algo muito específico, imagine a dificuldade que a gente encontra de profissionais, principalmente da área médica. Hoje, o Cican tem o serviço de oncohematologia, o serviço de clínica da dor, tem mastologia, urologia, ginecologia, dermatologia e a oncologia propriamente dita, ainda tem um centro cirúrgico que funciona no regime de hospital dia e a quimioterapia que funciona de segunda a sexta. Ao lado do Cican, fazendo parte do complexo, tem o serviço de radioterapia que recebe pacientes dos 417 municípios. Associado a isso a gente tem o núcleo de práticas integrativas que são as práticas ofertadas para o usuário para que ele tente passar pelo período de tratamento de uma forma mais leve, além, claro, da obrigatoriedade da oferta da equipe multiprofissional.

Quais são as vantagens que o tratamento no Cican oferece aos pacientes?

Uma das maiores vantagens é a nossa visão impregnada. Atualmente, conforme a portaria nacional de atenção ao paciente oncológico, o paciente oncológico é um paciente que tem tempo para iniciar o tratamento, mas não tem tempo definido para ele encerrar o tratamento. É muito parecida com a portaria do paciente portador de doença psiquiátrica, você inicia o tratamento, mas você não sabe ao certo, você não tem uma afirmação ou uma previsão de quando vai encerrar esse tratamento. O centro de referência busca aquilo que a portaria coloca em evidência: o paciente. O paciente possuidor de saber quais são as intercorrências, quais são as dificuldades e aquilo que pode acontecer para com o corpo físico dentro desse percurso que ele vai passar. Enquanto centro de referência, a gente busca já tratar pacientes previamente diagnosticados, mas eu, enquanto diretora, ativo para os profissionais a seguinte filosofia: se eu sou referência eu tenho que estar disponível para contar à atenção básica lá do interior a 800 quilômetros de distância daqui como é que ele pode evidenciar e mandar para mim. A gente traz de forma muito forte que se a gente é referência, a gente assumiu e assume a responsabilidade de referência, a gente tem que deixar a comunidade com clareza de que aqui ela vai encontrar procedimentos que não encontra na atenção básica, porque não era para encontrar na atenção básica, pois é para se encontrar em locais de maior afunilamento técnico científico. A mamotomia, por exemplo, na atenção básica não vai ter profissionais formados para fazer, a biópsia e a análise da anatomia patológica do fragmento da mama têm que ser em centro de referência ou em hospital especializado, que é onde condensa a tecnologia e o aparato científico. A pessoa vindo para o centro de referência devidamente encaminhada, o propósito é que ela tenha a fluidez e todas as tecnologias possíveis para que ela dê seguimento e, o mais importante, ela tem algum encorajamento de começar o tratamento. A gente já teve evidências de casos positivos para câncer em que, por medo ou por condições financeiras, as mulheres não iniciam o tratamento.

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