PESQUISAS
Bactérias da boca podem acelerar doenças do cérebro
Especialista alerta sobre a importância da higiene oral para a prevenção de doenças
Por Ana Cristina Pereira
Apesar da proximidade entre a boca e o cérebro, as infecções orais não costumam aparecer comumente no rol de fatores que provocam o Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas. Mas algumas inflamações crônicas, a exemplo da periodontite, podem fazer com que o acúmulo de bactérias alcancem o nível sanguíneo e atinga as estruturas cerebrais, agravando a perda de memória e a diminuição da cognição.
Quem faz o alerta é a cirurgiã-dentista paulista Sandra Sapienza, destacando que uma série de pesquisas, algumas nem tão recentes assim, já mostraram a relação preocupante entre a falta de cuidados com a higiene bucal e o avanço de doenças que atingem o cérebro.
“Estudos indicam que a periodontite, uma inflamação gengival grave, está associada ao aumento dos marcadores inflamatórios no corpo, impactando diretamente o sistema nervoso central”, explica Sandra, especialista em promoção da saúde pela Faculdade de Saúde Pública de São Paulo.
Entre as bactérias envolvidas, a Porphyromonas gingivalis, comum em casos de periodontite, foi identificada em cérebros de pacientes com Alzheimer, evidenciando a conexão entre essas condições. Entre os trabalhos recentes estão o da equipe da cientista Sim K. Singhrao, da Escola de Medicina e Odontologia na University of Central Lancashire (UCLan), na Inglaterra, que mostraram que bactérias como P. gingivalis e Treponema denticola estão relacionadas a danos cerebrais, favorecendo inflamações sistêmicas que comprometem a memória, aumentam o risco vascular e alteram os níveis de inflamação no corpo.
Limpeza
Segundo a dentista, uma boa profilaxia oral é suficiente para afastar uma série de doenças que podem, literalmente, entrar pela boca. Mas a limpeza deve ir além dos dentes, alcançando a gengiva, a língua e até a garganta. Em casa, afirma, é possível conseguir bons resultados com uma escovação correta, massageando a gengiva e limpando a língua com um raspador lingual, já que a escova não foi projetada para este fim. E não esquecer do fio dental. “A saburra que se acumula na língua é muito prejudicial à saúde”, reforça.
A especialista também chama atenção para a necessidade de lavarmos a escova após o uso, deixando-a secar antes de guardar. E dispensa os enxaguantes bucais, sobretudo os que têm álcool na composição, pois podem prejudicar o tecido da bochecha. “Eles também mascaram o mau hálito, que pode ser resultado, por exemplo, da falta de água no organismo”, alerta. Na hora do banho, ela aconselha fazer um gargarejo com água morna para limpar a garganta.
Já a ida ao dentista deveria ser pensada de forma preventiva e não curativa. “É preciso mudar esse foco”, afirma Sandra, que usa o Protocolo GBT (Guided Biofilm Therapy), tecnologia da empresa suíça EMS (Electro Medical System). Ela destaca que o método é uma solução moderna e eficaz para remover bactérias e reduzir a inflamação. “Esse protocolo garante uma limpeza oral profunda e confortável, e é um método eficaz para prevenir o agravamento de inflamações que podem impactar negativamente a saúde cerebral”, explica.
Neste procedimento, é aplicado um produto com um corante na gengiva do paciente, e depois de retirado o excesso com água morna o dentista pode avaliar, a depender da coloração apresentada, que tipo de bactéria está mais presente na boca para seguir com o tratamento.
A mancha rosa significa uma placa mais recente e fácil de retirar, enquanto a verde traz as bactérias mais perigosas. Também é possível analisar a quantidade e a qualidade da produção da saliva, ou se o paciente está respirando pela boca, hábito que também traz sérios problemas à saúde. “A gente vai muito atrás da doença, mas deveria ir atrás da saúde”, pondera a cirurgiã.
Integrativa
Adepta da chamada odontologia integrativa, Sandra afirma que os pacientes podem ganhar muito na utilização de terapias complementares como yoga, ozonioterapia e laserterapia juntos às técnicas tradicionais. E que é possível tirar ensinamentos de conhecimentos históricos como os da medicina chinesa, que já havia relacionado cada dente a um meridiano do corpo.
Assim, por exemplo, os incisivos se conectam aos órgãos sexuais, bexiga e rins; os caninos ao fígado; os pré-molares e molares à região estomacal e os sisos ao intestino delgado.
“A odontologia precisa deixar de ser só restauração”, reforça a dentista, lembrando que procedimentos como implantes ou a ortodontia seguem a mesma lógica. Isso sem falar na harmonização facial e outras abordagens estéticos, que muitas vezes não levam em conta o estado geral do paciente. “A saúde aflora de dentro para fora”, resume.
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