SAÚDE
Bahia registra alta de 16,5% no número de embriões congelados
Maternidade tardia tem impulsionado procura por técnicas de reprodução assistida no estado
Por Thiago Conceição
A Bahia registrou alta de 16,5% no número de embriões congelados entre 2020 - ano que marcou o começo da pandemia de Covid-19 - e 2022, passando de 2.067 para 2.408. Em todo o Nordeste, a alta é de 13%, saindo de 9.268 para 10.467 no mesmo período. O cenário é puxado principalmente pela maternidade tardia, pois o procedimento de reprodução assistida favorece a gestação quando a mulher começa a sofrer declínio considerável de sua fertilidade. Os dados são do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O congelamento de embriões é feito a partir de ciclos de fertilização in vitro, processo em que a mulher recebe estímulo ovariano para a retirada do óvulo e posterior realização da reprodução assistida. Neste cenário, o embrião pode ser implantado para dar início a uma gestação ou congelado para uma futura gestação no momento desejado, como explica a Dra. Maria do Carmo Souza, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
“A melhor faixa para a gestação está dos 20 aos 30 anos. No entanto, na pandemia, as mulheres ficaram mais em casa, conheceram poucos ou nenhum parceiro. E isso foi gerando a alta na procura pela técnica de reprodução assistida. E o cenário de maior autonomia da mulher moderna, com o avanço da participação econômica dela [na sociedade], tira aquele ‘peso’ de ter um parceiro imediato, de querer ter ou não um filho em determinado momento. E isso é importante. Mas é preciso ter o acesso à informação de qualidade, a conversa com seu ginecologista sobre planejamento familiar, que pode levar ao congelamento de seus óvulos em uma idade mais jovem, por exemplo, em um centro de reprodução assistida”, explica Maria do Carmo.
Planejamento
Na Bahia, existem três clínicas de reprodução humana assistida, ainda segundo dados SisEmbrio. Em uma delas, localizada em Salvador, a estudante de medicina Maria Carolina Miranda, de 29 anos, planeja fazer o congelamento de óvulos. A jovem conta que a decisão está relacionada com a busca por seguir uma carreira profissional, visando estabilização econômica, além da realização de objetivos pessoais antes da maternidade.
“Estou no último ano de medicina, vou me formar no próximo ano. O fato da formatura próximo dos 30 anos me fez pensar sobre a possibilidade [do congelamento de óvulos]. O objetivo é realizar outros sonhos, sem deixar o da maternidade para trás. Como tenho namorado, o planejamento [familiar] é feito em conjunto. E acredito que quanto mais cedo a mulher consegue ter acesso à informação [sobre a reprodução assistida], melhor é a condução de todo o processo”, conta a estudante.
O interesse da jovem pela fertilização in vitro tem justificativa científica. Como todos os óvulos já estão presentes no organismo feminino desde o nascimento, eles sofrem o efeito do tempo. Diante do panorama, o congelamento aparece como alternativa para aumentar a chance de uma gestação tardia sem intercorrências.
A médica Gérsia Viana, especialista em reprodução humana e diretora médica do Centro de Medicina Reprodutiva (Cenafert), que tem sede em Salvador, explica que a preservação da fertilidade é um dos principais desafios da medicina reprodutiva, pois o relógio biológico é uma das causas mais frequentes de infertilidade no sexo feminino. A clínica onde atua contabiliza mais de 3.500 bebês nascidos através de diferentes técnicas de reprodução assistida.
“A mulher pode protelar a gestação. No entanto, ela precisa ficar atenta com a programação reprodutiva, cujo ideal [de realização] é antes dos 35 anos. Com o passar dos anos, ocorre uma queda na qualidade dos óvulos da mulher. E apesar de não existir uma determinação de até quantos anos posso congelar [os óvulos], existe um ‘bom senso’. No congelamento após os 40 anos, sabemos que a qualidade dos óvulos fica comprometida”, explica a médica.
A maternidade tardia, a partir dos 35 anos, apresenta crescimento há mais de duas décadas no Brasil. Em 2000, apenas 9,1% dos bebês eram nascidos de mulheres nessa faixa etária. Vinte anos depois, em 2020, o percentual passou para 16,5%. Em contrapartida, a fecundidade entre 20 e 34 anos passou de 67,4% para 57,8%, uma queda de quase dez pontos percentuais, segundo o Ministério da Saúde.
A advogada Ana Flávia Menezes, de 35 anos, decidiu congelar os óvulos por causa da pretensão de ser mãe em um futuro próximo. Na capital baiana, ela procurou o Cenafert para a realização do procedimento, que aconteceu após receber todas as informações necessárias dos médicos especialistas.
“Não queria ser mãe tão cedo, casei aos 28 anos. E como meu relacionamento não ia bem, não me sentia segura de engravidar. Quando aconteceu o divórcio, este ano, procurei a clínica para me planejar. Fiz duas captações [de óvulos], sendo que a última foi concluída em setembro. Daí a importância da necessidade de que as mulheres possam ser informadas do procedimento, que é simples”, diz Ana Flávia.
Congelamento
O congelamento de embriões para futura implantação no útero é uma das técnicas mais utilizadas por mulheres que desejam ter a preservação da fertilidade. Nesse caso, é feito o procedimento que conhecemos como fertilização in vitro.
Os óvulos coletados são fertilizados com o espermatozóide do parceiro ou sêmen do doador e os embriões obtidos são congelados para serem implantados no momento que a paciente decidir pela gravidez.
No entanto, a indicação de cada técnica aplicada na área médica é individualizada. Em outras palavras, depende de diferentes fatores, que devem ser alinhados adequadamente entre a paciente e o especialista em reprodução humana.
Pacientes oncológicos
A especialista Gérsia Viana acrescenta que a criopreservação de óvulos pode ser indicada para casos de pacientes diagnosticadas com determinados tipos de câncer, a exemplo do de mama, que precisem passar por tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Ela explica que os tratamentos podem comprometer a função hormonal e até causar uma infertilidade irreversível por diminuição importante da quantidade de óvulos.
“Como estamos no Outubro Rosa, é importante lembrar que as mulheres que têm o diagnóstico de câncer de mama precisam ser informadas de que podem congelar óvulos, que ficam disponíveis para serem utilizados no final do tratamento. Desta forma, no futuro, elas poderão utilizar óvulos que não foram impactados por agentes fitoterápicos. O oncologista faz o encaminhamento [para o procedimento] antes dos óvulos serem expostos aos agentes, prevenindo uma infertilidade”, diz a médica.
Saúde
Para todas as mulheres que têm o sonho da maternidade, as especialistas ouvidas pelo Portal A TARDE reforçam a importância da prática de atividades físicas regulares, da alimentação equilibrada, de evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, além do cuidado e controle de quadros como hipertensão e diabetes.
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