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Brasil repete erros cometidos na pandemia de covid

Presidente do conselho nacional de secretários de saúde defende testagem e imunização em massa

Publicado terça-feira, 26 de julho de 2022 às 15:18 h | Autor: Da Redação
Sanitarista defende ampliar testagem e teme disseminação da varíola dos macacos no Brasil
Sanitarista defende ampliar testagem e teme disseminação da varíola dos macacos no Brasil -

O presidente do Conselho Nacional

de Secretários da Saúde (Conass) prevê um cenário sombrio com o avanço da varíola dos macacos no Brasil caso não sejam adotadas medidas urgentes para conter a disseminação do vírus. Para ele, o que tem sido feito agora é insuficiente.

O médico sanitarista Nésio Fernandes, que também é secretário de saúde do Espírito Santo, falou à BBC News Brasil sobre a emergência global declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e defendeu que é preciso ampliar a testagem, atualizar as orientações de isolamento de casos e correr atrás de vacinas.

"Na nossa avaliação, o Brasil corre o risco de repetir os erros cometidos no começo da pandemia de covid-19", alerta.

"Com o coronavírus, não tivemos critérios de testagem para casos

suspeitos logo no início. À época, isso impediu que o país conhecesse o

real tamanho do problema com o qual estávamos lidando", contextualiza.

Fernandes classifica a postura das autoridades como um "silêncio

epidemiológico" sobre o vírus monkeypox, o causador da condição, o que pode estar levando o patógeno a se espalhar sem ser detectado pelos

serviços de saúde.

"Por ora, cada Estado está agindo de forma independente e tem critérios próprios de testagem e acompanhamento de casos", diz Fernandes. "Precisamos

de uma coordenação nacional para atualizar e padronizar a estratégia em

todo o território e não permitir que o monkeypox se torne uma ameaça

ainda maior."

Para o sanitarista, a falta de uma iniciativa coordenada prejudica o combate ao vírus. "Sem coordenação nacional, a aquisição de insumos, medicamentos e tecnologias também fica muito mais difícil", completa. De acordo com o portal Our World In Data, há mais de 17 mil casos confirmados de varíola dos macacos no mundo. Desses, 813 foram diagnosticados no Brasil.

Na

avaliação de Fernandes, o decreto de emergência de saúde pública de

importância internacional feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS)

em 23 de junho foi um acerto. "A decisão permite acelerar ações de vigilância e desenvolvimento de tecnologias para responder rapidamente à doença."

O

médico sanitarista considera um erro comparar o

coronavírus e o monkeypox. "Não

podemos usar a covid como critério para reconhecer outras situações

como uma emergência de saúde pública. A doença causada pelo monkeypox,

mesmo com uma letalidade mais baixa, circula numa velocidade relevante e

em proporções internacionais", diz.

Fernandes

também argumenta que a noção distorcida de que a doença só acontece em

grupos específicos, como jovens, gays, bissexuais ou homens que fazem

sexo com homens, representa uma armadilha das grandes. "É normal e esperado que algumas enfermidades afetem com mais frequência alguns grupos específicos", explica.

"Porém,

pelas próprias características do monkeypox, é questão de tempo, talvez

de apenas algumas semanas, para que ele comece a ser encontrado cada

vez mais também em outros grupos, como heterossexuais ou idosos."

Questionado

pela BBC News Brasil sobre quais são as ações concretas que o Brasil

precisa tomar agora para lidar com o monkeypox, o presidente do Conass

resumiu a necessidade de mudar as políticas públicas em três aspectos. Primeiro, reconhecer que todos os Estados estão em risco e aumentar a capacidade de testagem.

Em

segundo lugar, Fernandes diz que é preciso ter uma atenção especial com

os critérios de isolamento dos casos confirmados, uma vez que a principal forma de

transmissão do patógeno acontece por meio do contato direto com as

feridas de um paciente. Outras vias infecção são gotículas de saliva e o

compartilhamento de objetos contaminados.

A

restrição de contato de alguém que está com a varíola dos macacos é

essencial para quebrar as cadeias de transmissão do vírus na comunidade e

impedir um aumento ainda mais acelerado do número de casos. "Nos

preocupa o cenário atual, em que se recomenda apenas o isolamento de

quem teve contato direto com alguém infectado. Vemos que, em muitos

casos, a doença evolui com sintomas leves e poucas lesões, que podem

passar despercebidos", avalia.

A terceira e última ação urgente, na visão do especialista, é acelerar a busca por vacinas que protegem contra a enfermidade. "O Brasil está lento e precisa de esforços mais vigorosos para adquirir esses imunizantes", critica.

A

BBC News Brasil entrou em contato com o Ministério da Saúde para buscar

um posicionamento oficial a respeito das ações que estão sendo tomadas

para lidar com a varíola dos macacos no país, mas não houve resposta .

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