Campanha Outubro Rosa prevê realizar 20 mil mamografias na Bahia

Foi em mutirão de mamografias realizado exatamente quatro anos atrás, durante a campanha Outubro Rosa de 2019, que a secretária Marilene Ferreira, de 56 anos, descobriu um pequeno nódulo no seio esquerdo. “Era muito pequeno, não tinha sintomas, nem era palpável”, lembra. “Na época, fiz o exame mais por curiosidade e pela questão da prevenção. Acabou sendo fundamental para minha vida.”

Poucas semanas após o exame, foi realizada a retirada do nódulo – que foi diagnosticado como maligno – e Marilene não ficou com nenhuma sequela após o tratamento. “Hoje, faço o acompanhamento e aconselho a todas as mulheres que já passaram dos 40 anos a fazer o exame, mesmo que não tenham nenhum sintoma, como era meu caso”, afirma. “Descobrir cedo pode ser a diferença entre ter um tratamento rápido, como o meu, e ter alguma complicação.”

Referência nacional no rastreio, diagnóstico e tratamento do câncer de mama, a Bahia realizou 3.384.408 exames de mamografia nos últimos dez anos, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). Neste mês, dentro das ações do Outubro Rosa, a secretaria volta a promover ações voltadas à detecção precoce do câncer de mama, realizando mamografias em unidades móveis.

Serão ofertadas cerca de 20 mil mamografias para mulheres entre 40 e 69 anos. Para ter acesso aos exames, o agendamento deve ser feito pelo site outubrorosa.saude.ba.gov.br. A Sesab também disponibilizará mais de 2,7 mil consultas com ginecologistas e mastologistas, agendadas pelo mesmo site. Em Salvador, a ação da Sesab tem início em 1º de outubro e vai até 4 de novembro. No interior do Estado, as Policlínicas Regionais de Saúde terão vagas extras para os municípios consorciados agendarem exames de mamografia.

De acordo com a Sesab, na capital serão quatro carretas equipadas com mamógrafos com capacidade para fazer, no mínimo, 140 exames por dia. Elas estarão estacionadas em pontos estratégicos, como o campus da Uneb no Cabula, o Salvador Norte Shopping e a Vila Militar dos Dendezeiros.

O serviço de mamografia da Parceria Público-Privada (PPP) de Imagem instalado no Centro Estadual de Oncologia, em Salvador, e nos hospitais estaduais em Jequié, Vitória da Conquista e Guanambi também ofertarão exames extras e farão ações educativas.

1 milhão de exames

Na última década, a estratégia itinerante percorreu os 417 municípios do Estado, tendo realizado cerca de 1 milhão de mamografias e 82 mil ultrassonografias, segundo a Sesab. “O cuidado com a saúde feminina deve ocorrer o ano todo, não apenas no mês de outubro”, explica a superintendente de Gestão dos Sistemas de Regulação da Bahia, Mônica Hupsel Frank. “Os municípios também devem ofertar exames ao longo do ano, pois a maior parte dos mamógrafos disponíveis no SUS estão em unidades municipais ou contratadas pelas prefeituras.”

Moradora de Salvador, Célia Maria da Conceição foi uma das que fez a mamografia durante uma ação itinerante. “Busco fazer o exame regularmente, pois se surgir algum problema tem a possibilidade de tratar precocemente”, afirma. “Ainda incentivo minhas conhecidas a fazerem.”

Rogéria Maria Jesus da Silva é também uma das que fazem mamografia regularmente. “Tenho histórico de câncer de mama na família”, destaca. “Minha mãe teve o câncer e sei o quanto é importante fazer a mamografia periodicamente.”

O coordenador do Serviço de Mastologia do Hospital da Mulher, o médico André Dias, explica que a mamografia é o exame que consegue detectar o câncer de mama em seu estágio mais inicial. “Se conseguirmos fazer um diagnóstico precoce do câncer de mama, a gente chega a uma possibilidade de cura de até 95%, refletindo diretamente na taxa de sobrevivência”, afirma o médico, apontando a importância de se fazer a mamografia anualmente a partir dos 40 anos de idade.

Prevenção

Dias também explica que existem alguns fatores de risco, que se evitados podem reduzir as chances de se ter câncer de mama. Entre eles estão o consumo de bebida alcoólica, obesidade, tabagismo, sedentarismo, alimentação com muita fritura. “Se conseguirmos afastar estes fatores de risco, temos uma redução de até 36% de incidência do câncer de mama”, aponta o profissional.

De acordo com ele, existem ainda fatores imutáveis, como idade, menarca (primeira menstruação) antes dos 12 anos, menopausa após os 55 anos e alteração genética. “A partir dos 40 anos, o risco é maior, principalmente entre 50 e 69 anos”, afirma. “Outro fator imutável é a paciente ter herdado um gene familiar, que está dentro do contexto de histórico na família.”

Rastreamento durante todo o ano

O movimento Outubro Rosa foi iniciado na década de 1990, com o objetivo de alertar a sociedade sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama, que é um dos tipos de câncer que mais acomete mulheres no Brasil e no mundo – 25% dos novos casos de câncer por ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O aumento dos casos de câncer de mama fez o movimento ganhar força no decorrer dos anos e a cor rosa é utilizada durante todo o mês, em várias cidades do mundo, para chamar a atenção da sociedade para a causa.

O mês costuma concentrar ações relativas à prevenção e ao combate à doença, mas há realizações de mamografias ao longo de todo o ano, tanto nas unidades fixas de saúde, como as policlínicas regionais, quanto em unidades móveis que percorrem todas as regiões do estado. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), desde que a primeira policlínica foi inaugurada, em 2017, já foram realizados quase 280 mil exames do tipo nas 23 unidades hoje instaladas pelo interior do estado, por exemplo.

Em Salvador, a Policlínica de Escada, no Subúrbio Ferroviário, é que oferta a mamografia. O agendamento do exame pode ser feito pelo SAC Digital, pelo site https://sacdigital.ba.gov.br/. “Na unidade, os exames são realizados de segunda a sexta-feira, mediante agendamento”, explica a diretora da policlínica de Escada, Milena Pamponet. “Além da mamografia, dispomos de médico mastologista e de biópsia mamária. É importante ressaltar que é necessário ter, além da documentação pessoal, a guia com a solicitação médica.”

A moradora de Paripe Elizabete Paula, de 45 anos, fez sua primeira mamografia na semana passada, na unidade de Escada. “Foi tudo bem tranquilo e agora vou recomendar o serviço para as amigas e parentes”, conta.

Tratamento

Além do rastreamento do câncer de mama realizado nas unidades móveis e em unidades de saúde, o tratamento das pacientes que tenham alguma alteração detectada é garantido pelo Estado, de acordo com a Sesab. “Caso necessário, serão feitos exames confirmatórios e, em casos positivos, as pacientes terão à disposição as unidades de oncologia, inclusive no interior do estado, em cidades como Irecê, Porto Seguro e Juazeiro”, afirma a secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana.

Uma das unidades que presta atendimento para pacientes com suspeita ou diagnóstico de câncer é o Centro Estadual de Oncologia (Cican), em Salvador. É lá que Gizele Souza de Oliveira faz seu tratamento. Diagnosticada com a doença em 2021, ela vem tendo, desde lá, assistência da equipe multidisciplinar da unidade. “Os profissionais me receberam de braços abertos”, afirma ela, que costuma ir às consultas fantasiada. “Quero dar leveza e este momento que por vezes é difícil de enfrentar.”

Novos casos

De acordo com estimativas do Inca, em 2023, o número de novos casos de câncer de mama no Brasil alcança 73.610. Na Bahia, a estimativa é de 4.230.

Dados da Sesab apontam que, na Bahia, em 2023, até 5 de setembro, ocorreram 2.100 internações por conta do câncer de mama, o que representa 21,4% do total de internações de mulheres por conta de neoplasias malignas. No ano inteiro de 2022, foram 3.876 internações, enquanto em 2021 foram 3.664.

Ainda segundo levantamento da Sesab, na Bahia, em 2023, até 5 de setembro foram registrados 724 óbitos decorrentes do câncer de mama, sendo 16,7% do total de óbitos de mulheres por conta de neoplasias malignas. Em 2022, no ano inteiro, foram notificadas 1.083 mortes por conta do câncer de mama. Já em 2021, este número chegou a 1.071.