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Cenário pandêmico ficou no passado, mas vírus da covid se mantém

Quatro anos após OMS decretar emergência mundial, infecção ainda requer atenção da sociedade e governo

Publicado segunda-feira, 18 de março de 2024 às 06:51 h | Autor: Jane Fernandes
Vânia Rebouças, coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Sesab
Vânia Rebouças, coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Sesab -

Neste dia, há quatro anos, Salvador havia começado a adotar as primeiras medidas restritivas para a contenção da pandemia de covid-19. Embora a Organização Mundial da Saúde tenha declarado o término da “emergência de saúde pública” do coronavírus em maio de 2023, os números mostram que o vírus continua circulando. E não é possível prever se em algum momento deixará de contaminar os seres humanos.

Em todo o Brasil, apenas este ano, cerca de 250 mil casos de covid-19 foram registrados, 7.614 deles na Bahia. No mesmo período, mais de 1300 brasileiros morreram em decorrência da infecção causada pelo Sars-CoV-2 e 56 desses óbitos aconteceram na Bahia.

Das mortes registradas no nosso estado, 75% ocorreram em pessoas acima de 70 anos, com maior concentração no público com mais de 80, segundo dados da Secretaria da Saúde (Sesab). Foram 17 vítimas entre 70 e 79 anos, e 25 a partir dos 80. Apesar dos idosos em idade avançada serem os que mais morrem pela covid-19, a maior parte dos casos acontece na população de 20 a 59 anos, correspondendo a 65% (4.942) dos diagnósticos realizados este ano.

Os números incluem a aposentada Carla Moreira, 64 anos, que driblou a covid por mais de três anos, mas contraiu a infecção em janeiro deste ano. Com o esquema de imunização completo, incluindo a vacina bivalente, ela não precisou de internamento nem teve qualquer complicação de saúde, o que não significa ter achado leve. “A comida não tinha gosto e o corpo doía muito”, recorda.

Carla conta ter apresentado sintomas gripais uma ou duas vezes entre 2020 e o ano passado, sem realizar teste para confirmar o diagnóstico. Há dois meses, diante do impacto sobre o olfato e o paladar, ela pediu para o marido comprar um teste de farmácia e o resultado foi positivo. Com exame ou sem, ela garante sempre usar máscara, até mesmo dentro de casa, quando apresenta sintomas respiratórios.

As estatísticas também mostram que mesmo requerendo atenção, os níveis de contágio da covid-19, principalmente de casos graves com desfecho fatal reduziram bastante. No ano passado, a Bahia teve 54.157 casos e 460 mortes, com distribuição por faixa etária bem semelhante à verificada agora em 2024. Em 2021, pior ano da pandemia, o estado teve 17.552 óbitos pela doença.

A coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Sesab, Vânia Rebouças, ressalta que a redução na incidência da infecção por coronavírus não significa ter uma situação epidemiológica confortável. “Observe que é uma doença imunoprevenível, tem uma vacina. Se as pessoas tivessem com seus esquemas vacinais atualizados esse número seria praticamente inexistente, a gente ia diminuir bastante esse risco”.

Ela chama atenção especialmente para a baixa cobertura no público infantil, destacando que a vacina contra o Sars-CoV-2 integra o calendário de imunização de crianças maiores de 6 meses e menores de 5 anos. A meta é atingir pelo menos pelos 90% dos meninos e meninas nessa faixa etária, mas a realidade está muito aquém. Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas 23,7% das crianças brasileiras entre 3 e 4 anos estão com o esquema vacinal contra covid completo.

A Sesab registrou duas mortes de crianças este ano, ambas as vítimas tinham menos de 5 anos. Em 2023, sete crianças abaixo de nove anos morreram e outros três óbitos foram notificados em vítimas de 10 a 19 anos. De janeiro até agora, a faixa até nove anos teve 414 casos de covid confirmados, e o público dos 10 aos 19 recebeu 463 diagnósticos.

“A gente faz a vigilância das síndromes gripais e tem dados de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que inclui covid-19, influenza e outros vírus respiratórios. O que chama a atenção é que a covid-19 ainda continua sendo uma das principais causas de síndrome respiratória aguda grave, entre os agentes etiológicos que provocam a síndrome”, enfatiza.

Dos casos de SRAG registrados este ano, a coordenadora de Imunizações comenta que 18,3% foram causados pelo Sars-CoV-2, vírus da covid-19, enquanto 12,4% estavam relacionados à influenza e 10,5% a outros vírus sazonais. No entanto, em 35,6% o vírus envolvido na síndrome não foi identificado.

“No caso de sintomatologia as pessoas precisam se dirigir às unidades de saúde para realizar a testagem para covid-19. E além do teste rápido, que está disponível em algumas unidades, existe uma recomendação de a gente realizar o padrão ouro para o diagnóstico, que é a técnica de RT PCR. Apenas com o RT PCR é que a gente vai confirmar e realizar um sequenciamento genômico para verificar qual é a variante que está circulando mais aqui no estado da Bahia”, alerta.

Cenário de maior gravidade é improvável

“Enquanto o vírus circular vai haver casos de covid, mesmo em pessoas vacinadas”, declara a doutora em imunologia Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz). Isso porque a vacina é efetiva na proteção contra a infecção, especialmente em relação às formas graves, mas tanto essa imunidade vacinal quanto a adquirida pós infecção natural diminuem gradualmente com o passar dos meses e têm duração limitada.

“Então mesmo nessa situação de uma cobertura vacinal boa, sempre vai ter pessoas que não estarão vacinadas ou que estarão nesse prazo de redução da imunidade”, explica a pesquisadora. Uma forma de tentar reverter esse cenário seria estabelecer uma vacinação geral com periodicidade bem pequena, o que ela não acha aplicável ao momento epidemiológico atual.

Em sua opinião, a vacinação a cada seis meses é interessante para públicos específicos, como tem sido preconizado pelo Ministério da Saúde (MS). A pasta recomenda uma dose semestral da vacina bivalente para a população acima dos 60 anos, pessoas imunocomprometidas, gestantes e puérperas.

Dados do MS apontam que atualmente 84,11% da população adulta do país está vacinada com duas doses e 51,4% com três doses. Na Bahia, as coberturas estão em 85,65% e 54,81%, respectivamente. No público baiano acima de 60 anos, o indicador de imunização atual é de 76,3%, chegando a 100% na faixa entre 75 e 79 anos.

Para Fernanda, a disponibilidade de vacina contra o Sars-CoV-2 sinaliza que o retorno a um cenário de maior gravidade é improvável, pois o histórico da doença no Brasil demonstra claramente o impacto da vacinação na redução do número de casos e da mortalidade.

Por outro lado, ela esclarece que ainda não é possível afirmar se o vírus causador da covid-19 vai permanecer eternamente. “O que a gente pode dizer é que teve a variante ômicron, que chegou e se estabeleceu. As outras variantes desapareceram, a a gente tem um predomínio de ômicron e seus subtipos, que são diversos”. A ômicron é uma variante com maior poder de infecção, mas em compensação tem menor gravidade.

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