Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > SAÚDE
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CIÊNCIA E VIDA

Cresce pressão para rotular bebidas alcoólicas como cancerígenas

Confira coluna Ciência e Vida desta segunda

Por Ana Cristina Pereira

13/01/2025 - 7:42 h
Imagem ilustrativa da imagem Cresce pressão para rotular bebidas alcoólicas como cancerígenas
-

Primeiro foi o cigarro, depois os alimentos industrializados e parece que está chegando a vez das bebidas alcoólicas. A pressão para que elas tragam nas embalagens especificações sobre riscos à saúde cresce mundo afora e, na semana passada, ganhou um incentivo de peso: a autoridade máxima de saúde dos Estados Unidos, o médico Vivel Murthy, que ocupa o posto de cirurgião-geral, fez a recomendação formal de que as bebidas deveriam trazer um alerta sobre o risco de câncer.

A posição do cientista tem uma influência muito grande, dentro e fora do país, pois ele é o chefe operacional do Serviço de Saúde Pública americano, com nomeação direta do presidente da república, confirmada pelo Senado.

Na justificativa, Murthy ponderou que o álcool é uma causa bem estabelecida e prevenível de câncer, mas que a maioria dos americanos não têm consciência desse risco. Ele ressaltou que as bebidas alcoólicas são responsáveis por cerca de 100 mil casos da doença anualmente do país, com quase vinte mil óbitos.

“Muitas pessoas presumem que, desde que estejam bebendo nos limites ou abaixo dos limites das diretrizes atuais, de uma dose por dia para mulheres e duas para homens, não há risco para sua saúde ou bem-estar. Os dados não confirmam isso para o risco de câncer”, disse Murthy em entrevista coletiva após a divulgação da recomendação. No trabalho, ele reforça a ligação direta entre o álcool e o desenvolvimento de sete tipos de câncer: mama, colorretal, esôfago, fígado, boca, garganta e cordas vocais.

Exemplo do cigarro

A medida, que está sendo debatida em várias partes do mundo, deve enfrentar forte resistência da poderosa indústria de bebidas alcóolicas. Lá nos Estados Unidos será preciso uma nova legislação e o presidente Joe Biden, que está deixando o cargo, não cumpriu a promessa de criar uma regulamentação a respeito até o final do ano passado.

Aqui no Brasil, onde as advertências se limitam proibição da venda a menores de idade ou ao famoso “se beber não dirija”, o caminho deve ser igualmente árduo. Mas o oncologista Eduardo Moraes, que é a favor da advertência sobre os riscos do álcool à saúde, lembra que com o cigarro foi assim e atualmente o país é referência mundial na diminuição do número de fumantes.

“Acompanhei muito esse processo de mudança em relação ao cigarro. Nós víamos mães com crianças de colo fumando e hoje o Brasil é um exemplo no controle do tabaco. Se a gente puder reproduzir um pouco disso com a bebida será muito importante” afirma Dr. Eduardo, que atua no grupo Oncoclínicas e no Hospital Santa Izabel.

Segundo o médico, a relação entre álcool e os cânceres de cabeça e pescoço - como língua, boca, cordas vocais, faringe e garganta -, além do fígado, já é bem conhecida. Ele explica que o risco é aumentado pelo fato de que, em seu processamento, o álcool libera o acetaldeído, uma substância que altera o DNA da célula. Além disso, o álcool desencadeia processos inflamatórios do organismo e aumenta a produção do hormônio feminino estrogênio, por isso aparece relacionado ao câncer de mama.

A combinação entre álcool e cigarro, que costuma ser a realidade de muitas pessoas que bebem em grandes quantidades, é ainda mais perigosa. “A ingestão combinada de cigarro e álcool dobra as probabilidades de ocorrência de um tumor”, afirma doutor Eduardo. Ele também diz que mais medidas, como a Lei Seca, podem diminuir os acidentes de trânsito, outro mal diretamente ligado à bebida. Ele conta que sua família foi vítima de um motorista embriagado e sua mãe morreu em um acidente em uma quarta-feira de cinzas, no Litoral Norte. “O consumo tem de ser pouco e esporádico”, resume, acrescentando que parar de beber, de fumar e fazer atividades físicas são os três mais importantes fatores de risco preveníveis do câncer.

Quem está no controle

Em 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) abriu um grande debate ao afirmar que não há dose segura para o álcool. Nem mesmo aquele copo de vinho diário, que durante muito tempo foi propagado como benéfico.

O nutricionista Matheus Passos afirma que é muito difícil falar em segurança porque os indivíduos respondem de forma diferente em relação à ingestão. Ele explica que homens costumam ser mais resistentes - devido à massa muscular e ao número maior de enzimas que matabolizam o álcool - e que é preciso levar em conta o histórico clínico de cada pessoa.

Especializado em nutrição oncológica, Matheus diz que pacientes de câncer em tratamento não devem ingerir nada de álcool. “Concessões são feitas em alguns cenários pelo médico, que vai avaliar cada caso”, diz Matheus, que destaca o poder da socialização em torno da bebida. No entanto, reflete, as pessoas precisam assumir o controle e não ser controlado pelo álcool.“Não vamos romantizar a palavra equilíbrio, mas é preciso sim equilibrar a frequência e quantidade do consumo de álcool”, reflete Matheus, que trabalha na clínica AMO.

Por equilíbrio, ele aconselha, por exemplo, não beber de estômago vazio, ingerir água enquanto toma sua cervejinha, não ter bebidas em casa e se atentar para os complementos alimentares. “Não é preciso sacar uma maçã no bar, mas é possível fazer escolhas menos impactantes”, reforça Matheus, acrescentando que a gordura no fígado tanto pode ser proveniente dos alimentos quanto do excesso de bebidas. Ele também acredita que um rótulo com mais alertas pode deixar o perigo mais claro, para os que ainda não se tentaram. “Com mensagens mais explícitas, a pessoa assume o risco de beber ou não, pois viver é cheio de riscos”, pontua Matheus.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Botulismo na Bahia: o que se sabe sobre mortes e casos

Play

Menina de 9 anos convive com a AME na luta por uma vida normal: "Supera Expectativas"

Play

Veja quais são os riscos de fazer bifurcação da língua

Play

Excesso de telas aumenta miopia na infância

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA