PREVENÇÃO
Cuidados com saúde são fundamentais para curtir Carnaval sem problema
Alimentação adequada é fundamental, mas ossos, músculos, pele, olhos e ouvidos precisam de atenção
Por Jane Fernandes

Um Carnaval com disposição para curtir cada instante começa na alimentação, que irá fornecer energia e nutrientes, como ressalta a nutricionista Denise Dourado. Na parte energética, os carboidratos são essenciais e ela orienta a incluir: pão, arroz, macarrão, massas em geral, banana da terra, batata doce, aipim, banana da prata, açaí, cuscuz, pão de queijo, pão de batata, milho verde e aveia. “No café da manhã não pode faltar nosso cuscuz nordestino com ovos”, sugere.
Apontando que as proteínas também são fundamentais para aproveitar a folia, Denise indica carnes magras de aves, peixes, carnes bovina e suína, camarão, crustáceos, atum, ovos, queijos magros, creme de ricota e creme de queijo, entre outros. Muitas vezes esquecidas no dia a dia, ainda mais no Carnaval, as frutas têm importância ressaltada pela nutricionista, sempre com preferência pelas da época.
Enquanto alguns grupos de alimentos funcionam como carregadores de bateria, existem também aqueles capazes de roubar energia, reduzindo o rendimento físico. Denise recomenda evitar alimentos gordurosos e frituras; os ultraprocessados e sua grande quantidade de sódio, açúcares, gorduras saturadas e trans, edulcorantes, acidulantes e conservantes artificiais; e também o excesso de embutidos, a exemplo de salsicha e toscana, que favorecem a retenção de líquidos.
Riscos
Além de diminuir a disposição, uma alimentação inadequada pode acabar com a festa e até mesmo exigir cuidados médicos. Na hora de comprar comida na rua é preciso estar atento aos sinais de alerta quanto à infecção intestinal, que pode ser provocada tanto por vírus quanto por bactérias, segundo a gastroenterologista Andrea Cavalcanti, da Clínica Ibis.
“A transmissão desses microrganismos se dá por gotículas de saliva ou pela higiene inadequada das mãos de quem produz ou manipula esses alimentos. A exposição ao ar livre, acondicionamento em vasilhames mal higienizados ou em temperatura inadequada favorecem a multiplicação desses agentes. Portanto, para evitar as infecções tentar adquirir alimentos frescos e o mais bem acondicionados possível”, adverte a médica.
Entre os alimentos mais suscetíveis à contaminação, Andrea destaca maionese, queijos, molhos, embutidos - salsichas, linguiças, presunto - e frutos do mar. Diante da impossibilidade do consumidor fazer a higienização adequada de vasilhames e latas, ela recomenda sempre verificar se tampas e lacres não foram violados.
Uma infecção gastrointestinal pode se manifestar com diferentes intensidades, desde enjoo, vômito, dor abdominal e diarreia, a sintomas mais graves, a exemplo de redução da pressão arterial, diminuição da quantidade de urina, distensão abdominal e alteração do nível de consciência.
“Um dos parâmetros mais importantes para avaliar a repercussão da infecção gastrointestinal no organismo é a quantidade de urina eliminada pelo paciente. Idosos e crianças merecem maior atenção e devem ser levados a unidades de emergência a qualquer sinal de gravidade para hidratação venosa e medicamentos”, ressalta a gastroenterologista.
A hidratação também é fundamental para evitar efeitos indesejados do consumo de bebidas alcóolicas, enfatizando que não existem medicamentos capazes de evitar ressaca, Andrea recomenda a ingestão de líquidos não alcoólicos e uma alimentação adequada. Se a pessoa contrair uma infecção, o álcool é contraindicado pois pode agravar o quadro por conta da desidratação.
“O corre da folia nos faz perder muitos líquidos e sais minerais através do suor, da urina, da saliva e etc. A sudorese intensa pode levar à desidratação e perda importante dos sais, principalmente de sódio, logo, mantenha sempre uma garrafa de água abastecida por perto. Beba muita água de coco, pois possui sais minerais para reposição e equilíbrio eletrolítico”, completa a nutricionista Denise.
Pomadas para cabelo podem provocar lesões nos olhos
Para quem não abre mão de uma produção caprichada para atravessar a maratona carnavalesca, os olhos são um ponto de atenção especial. Alvo de restrições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2022, as pomadas capilares usadas para modelar e fixar penteados podem escorrer - por conta do suor ou se cair uma chuva - e atingir os olhos, causando desde irritação até problemas capazes de comprometer a visão.
“Essas substâncias podem provocar uma espécie de queimadura química ocular, levando à inflamação da pálpebra, conjuntiva e córnea”, conta o oftalmologista Murilo Barreto, da OftalmoDiagnose. Em dezembro do ano passado, a Anvisa cancelou o registro de mais de 1200 pomadas, então a primeira recomendação do médico caso a pessoa queira usar o produto é escolher uma pomada aprovada pela Anvisa.
“Outros cuidados envolvem testar previamente se o usuário não possui qualquer tipo de alergia ao produto em questão. Utilizar a quantidade adequada e seguir as orientações do fabricante”, aconselha. Ele lembra que a pomada pode permanecer por horas ou até dias, então não deve ser usada se a pessoa pretende tomar banho de piscina ou se expor a outras situações que provoquem o escorrimento.
Lesões traumáticas
Na folia, os olhos também ficam expostos ao risco de lesões traumáticas e quadros infecciosos, então Murilo recomenda atenção com espumas, confetes, cílios postiços e maquiagem excessiva, enfatizando a importância de evitar o uso de glitter e purpurina perto dos olhos. Se houver contato com uma substância inapropriada a recomendação é lavar os olhos com água limpa, evitar coçar ou esfregar os olhos, e procurar um atendimento oftalmológico.
Por fim, como não existe música baixa no Carnaval, o folião não pode esquecer que uma longa exposição ao som dos trios pode levar a problemas auditivos. “É possível haver lesões quando os ouvidos ficam expostos a ruídos acima de 50 dB (decibéis) por períodos prolongados. O volume máximo do trio elétrico é de 110 dB, mais que o dobro do limite”, alerta o otorrinolaringologista André Apenburg, da Otorrino Center.
Zumbido e redução temporária na audição são os sintomas mais comuns, mas há risco de perdas irreversíveis. Para minimizar o impacto sobre os ouvidos, o médico indica evitar longos períodos próximos ao trio elétrico e evitar som alto em casa.
É necessário usar calçado confortável e alongar
As muitas horas de folia diária durante o Carnaval também envolvem pular atrás de trio, encarar aglomerações e se deparar com latas jogadas no chão, além de outros obstáculos. Todos esses cenários aumentam o risco de impactos negativos sobre o sistema musculoesquelético, fazendo com que alguns serviços reforcem suas equipes para atender emergências ortopédicas.
“Os problemas mais comuns incluem entorses, fraturas, contusões, luxações e lesões musculares. Quedas durante desfiles e blocos, acidentes em locais de aglomeração, e esforços físicos intensos, podem contribuir para esses problemas”, comenta o coordenador da equipe de ortopedia do Hospital Mater Dei Salvador, Camilo Tavares.
Para evitar lesões e aproveitar a festa sem incidentes, o ortopedista afirma que é essencial estar com o preparo físico em dia, usar calçados confortáveis e roupas leves, fazer alongamentos antes da folia, manter-se hidratado e principalmente respeitar os limites do corpo. “Faça pausas para descansar!”, orienta, explicando que a regra vale para cada dia e também no decorrer da semana carnavalesca, na qual é fundamental dormir bem.
As altas temperaturas esperadas para os dias de folia exigem ainda cuidados com o maior órgão do corpo humano: a pele. Diante da longa exposição característica da festa, a dermatologista Priscila Froes, da Clínica Ibis, alerta para a necessidade de aumentar a atenção na aplicação da quantidade correta de protetor solar e de não abrir mão da reaplicação.
Sol
Se após a exposição ao sol, a pessoa tiver dor de cabeça intensa, tontura, náusea, vômito, pele quente e seca, pulso acelerado, sudorese excessiva ou falta de suor, fraqueza, fadiga, pode estar com insolação.
Os sintomas podem surgir de forma gradual e incluir até mesmo convulsões e perda de consciência. “Em qualquer sinal de insolação, é crucial buscar abrigo, hidratação e assistência médica”, adverte a médica.
Combinadas com o calor, a umidade do ar de Salvador e a aglomeração de pessoas favorecem o surgimento de micoses, frieiras, infecções bacterianas, alergias de contato e herpes labial, elenca Priscila. Para se prevenir é preciso evitar roupas e calçados úmidos, evitar contato com sumos, sucos e produtos cosméticos antes e durante a exposição, e enxugar adequadamente as áreas de dobras da pele e espaços entre os dedos dos pés.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes