SAÚDE DA MULHER
Demora no diagnóstico afeta vida de mulheres com endometriose
Cerca de 40% das mulheres com endometriose apresentam transtornos psicológicos
Por Da Redação
A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A endometriose é uma doença relativamente comum e bastante conhecida pelos médicos ginecologistas. Entretanto, estudos revelam que o diagnóstico demora entre 7 e 9 anos, como aconteceu com a cantora Anitta, que em 2022 revelou ter sido diagnosticada com a doença após passar nove anos sofrendo com dores.
A enfermeira Luciana Valente relata ter sofrido com dor menstrual atípica desde os 12 anos, apresentando sintomas como cólicas, diarréia, dor lombar e enxaquecas. “Durante anos fui diversas vezes para emergência para controle de dor. Sempre tive acompanhamento médico e a frase que sempre ouvia era que era normal sentir tais sintomas. Meus marcadores laboratoriais sempre foram normais. E exames convencionais de ultrassom nunca mostraram nada de anormal”, relata Luciana.
Segundo ela, somente aos 25 anos, depois de ter comprometimento de suas atividades laborais e de qualidade de vida, encontrou um especialista em endometriose que indicou ressonância magnética e ultrassonografia com preparo intestinal. “E aí então veio o diagnóstico de endometriose profunda com comprometimento de diversos órgãos, como bexiga, intestino, fundo de saco e adenomiose”, conta a enfermeira.
Demora no diagnóstico de endometriose
De acordo com o médico ginecologista Dr. Jorge Valente, a demora no diagnóstico ocorre muitas vezes em função de três principais fatores. São eles: não valorização da queixa da paciente por parte dos profissionais, normalização da dor, com indicação do uso de anticoncepcionais como “solução” para sanar as dores e por último, e não menos importante, a demora da paciente na busca por ajuda.
“É preciso destacar que nenhuma dor deve ser considerada normal e que anticoncepcional não é tratamento e a falta de investigação pode atrasar o processo terapêutico”, alerta o especialista.
Um outro fator que impacta na dificuldade de diagnosticar o problema é que os exames de imagem como ultrassom e ressonância magnética precisam ser realizados por profissionais treinados e acostumados a identificar o problema, caso contrário ele pode passar despercebido, principalmente nas fases iniciais e em mulheres assintomáticas.
“Também é importante que o médico ginecologista utilize para o diagnóstico a história clínica da paciente e a avaliação do exame de toque”, ressalta Dr. Jorge Valente. Entre os sinais que devem ser observados pelos profissionais e pelas mulheres o especialista destaca: dor pélvica crônica que ultrapassa o período menstrual, cólicas menstruais fortes, dor ao evacuar, sangramento na urina, dor na relação sexual, ressecamento vaginal, redução do desejo sexual, infertilidade e até mesmo mudança em seu perfil psicológico.
Segundo o especialista, essa influência no fator psicológico tem muitas vertentes desde o início da doença e acomete cerca de 40% das mulheres diagnosticadas com o problema. “Isso acontece porque a endometriose é uma doença inflamatória com características autoimune que se inicia no intestino e, esse processo inflamatório no intestino, mexe com a produção de neurotransmissores que vão interferir na ansiedade, na depressão e nesse aumento de TPM, de estresse e nervosismo”, explica o médico.
O ginecologista alerta que a escolha do tratamento ideal para reduzir os impactos da endometriose na saúde e qualidade de vida das mulheres deverá ser feita de maneira individualizada, de acordo com os sintomas apresentados por cada uma delas. “Entre as alternativas estão o bloqueio da menstruação e ovulação e/ou a adoção de tratamentos hormonais, associados a uma mudança no estilo de vida, com a redução do consumo de alimentos inflamatórios e a prática regular de atividade física”, avalia o Dr. Jorge Valente.
“A endometriose é uma doença que afeta as mulheres em duas searas muito importantes, primeiro na qualidade de vida, com a dor pélvica crônica e segundo na possibilidade de gestar, causando infertilidade. Por esse motivo, devemos ter uma visão mais ampla e tratar a paciente e não apenas a doença”, conclui o especialista.
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