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Falar sobre morte ainda é tabu e requer mais espaço na sociedade, alerta psicóloga

Publicado quarta-feira, 29 de setembro de 2021 às 13:45 h | Atualizado em 29/09/2021, 14:50 | Autor: Matheus Calmon
CVV realiza apoio emocional e preventivo a qualquer pessoa que queira ou precise conversar | Foto: Sahil Bhojani / Unsplash
CVV realiza apoio emocional e preventivo a qualquer pessoa que queira ou precise conversar | Foto: Sahil Bhojani / Unsplash -

Um homem não resistiu à queda de um dos andares de um prédio no Alphaville I, em Salvador, no início deste mês. A Polícia suspeita que a queda não tenha sido acidental nem criminosa. Este ainda está longe de ser um caso isolado. Durante o mês de setembro, a sociedade é alcançada pela campanha Setembro Amarelo, que valoriza a saúde mental e apresenta possíveis riscos a ela.

Entretanto, falar sobre morte ainda é tabu e o assunto ainda é envolto por uma série de questões, incluindo os sinais apresentados que requerem atenção. Cristiana Kaipper, psicóloga e professora do curso de psicologia da Faculdade Santa Casa, alerta que, às vezes, o suicídio é antecedido por indícios visíveis. Mas, em outros casos, é uma grande surpresa.

"É delicado, pois passa a impressão de que dá pra evitar, caso a gente perceba um pouco antes. Às vezes, há sinais, mas é muito comum as pessoas dizerem 'ah, ela estava aqui normal, conversando, tudo bem aparentemente e, de repente, ela faz isso'. Para pessoas muito próximas, muitas vezes o ato é uma surpresa total e absoluta. Elas ficam tentando encontrar sinais e não encontram", explica.

Entre eles, está a fala. "Muitas vezes a pessoa fala sobre, dá indícios, e as outras pessoas não dão muita atenção, não levam tão a sério. Às vezes isso está ligado a algo que ela está planejando fazer". Ela conta que não são poucos os casos em que quem ficou para trás se sentiu responsável pelo ato. 

"A família se sente culpada, pois parece que não cuidou, não viu, se sente responsável. Já vi casos de um marido tentar e a mulher ficar chateada, pois é como se ele tivesse tentando abandonar ela. Então, tem uma série de sentimentos envolvidos que potencializam a dor da própria morte. Todos esses elementos acabam entrando para construir esse tabu".

Diante da necessidade de abordagem do tema, a professora alerta para a delicadeza de uma possível abordagem nas escolas. "A criança tem formas diferentes de lidar com as coisas, de compreender. Tem que ter um ajuste, adequação na linguagem, para que as crianças consigam entender, digerir do jeito delas".

Pandemia

Com o início da crise sanitária causada pela Covid-19, psicólogos alertaram para os possíveis danos causados pela brusca mudança de vida. Kaipper avalia que a pandemia contribuiu de muitas formas para alterações de humor e aumento de quadros de transtornos psicológicos que comumente estão associados a pensamentos à autodestruição. Ela pontua que quadros que seriam agravados em anos foram potencializados em meses.

"Tem o efeito psicológico muito presente na pandemia, que foi a redução do número de distrações. Antes, as pessoas saíam, passavam tempo na rua e é como se não tivessem que lidar com algumas questões de uma maneira tão forte. Então, quando ela se volta para casa, diminui imensamente o número de distrações, saídas, coisas que as tiram desse contato com as pessoas e com elas mesmas, ela teve que lidar. Essas questões que levam as pessoas à terapia, que se não forem bem cuidados, podem desencadear quadros de transtornos mais graves".

A quem sente que pode ter pensamentos preocupantes, a professora alerta que o nível de sofrimento no momento pode ser tão intenso que oculta saídas e possibilidades.

"Sse a pessoa puder, é bom encontrar outros recursos, talvez amigos, pessoas que ela possa conversar. Buscar ajuda é muito importante para que a pessoa não precise recorrer a isso para lidar com o sofrimento. Às vezes, é um momento de desespero. Se ela conseguir passar por aquele momento, aquelas horas, pode não colocar tudo a perder. É muito comum a pessoa olhar depois e se perguntar o que aconteceu".

Procure ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e preventivo a qualquer pessoa que queira ou precise conversar por telefone, email e chat 24 horas por dia. O sigilo é total e absoluto. Se precisar de ajuda, ligue 188 ou acesse o site.

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