SAÚDE
Festas populares são palco de campanhas em prol do sexo seguro
Especialistas alertam para risco de contaminação de doenças como Aids, sífilis e hepatites
Por Ana Cristina Pereira
Imortalizado em uma pintura do artista plástico paulista Charlles Cunha, o ‘surubão do Arpoador’ deve entrar para a galeria de casos famosos do Verão 2025. A investigação ainda está em curso e a polícia tenta identificar os cerca de 30 homens que aparecem no vídeo viral fazendo sexo ao ar livre na famosa praia, durante o Reveillon do Rio de Janeiro. Entre o crime e o escândalo, fica a certeza de que o cruising – como é chamada a pegação em lugares públicos, sem compromisso – não é uma exclusividade carioca.
Não por acaso, as autoridades de saúde pública de nossa cidade miram as festas populares como um terreno fértil para alertar sobre os perigos do sexo sem proteção – seja com um ou muitos parceiros. “Carnaval, São João e as festas de largo em geral oferecem uma oportunidade de darmos visibilidade às infecções sexualmente transmissíveis, como em nenhum outro momento”, garante o psicólogo Tiago Jordão, técnico do Programa Estadual de ISTs, da Secretária de Saúde do Estado.
Tiago fala com a experiência bem-sucedida em outras temporadas da campanha Fique Sabendo, que voltará às ruas de quinta a terça de Carnaval. O objetivo é tirar dúvidas sobre saúde sexual, fazer testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites B e C, distribuir preservativos femininos e masculinos, além de autotestes de HIV.
O teste rápido é feito com uma coleta de uma gota de sangue no dedo e o resultado sai em cerca de 30 minutos. Se der positivo para sífilis, por exemplo, o tratamento pode ser iniciado lá mesmo no local ou a pessoa será encaminhada para a rede básica de saúde. No caso do HIV e das hepatites, o tratamento também será agendado para depois da festa.
Rapidez e segurança
Embora pareça que o clima de festa não combina com estas preocupações, Tiago conta que muita gente vai voluntariamente aos postos localizados nos circuitos carnavalescos, e outros são convencidos pelas equipes que circulam nas ruas. “As pessoas têm a segurança de serem atendidas por uma equipe profissional”, afirma, acrescentando que este ano farão o atendimento também em libras.
O vai e vem nas festas e o clima de “liberou geral” também são uma boa oportunidade, na avaliação do psicólogo, para colocar em debate o perigo das ISTs, sobretudo da Aids. “A gente tem hoje a possibilidade de falar de forma mais tranquila do HIV, do tratamento mais eficiente e disponível gratuitamente no SUS”, destaca, acrescentando que, apesar disso, não dá para relaxar ao ponto das pessoas pensarem que ‘se eu pegar tá tudo bem’. “Precisamos incentivar as pessoas a terem um comportamento sexual seguro”, reforça.
A infectologista e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Sylvia Lemos Hinrichsen, destaca que os vírus HIV e das hepatites e a bactéria causadora da sífilis estão entre os que mais circulam no país, ao lado das bactérias que causam a gonorreia, a clamídia e o micoplasma, além do protozoário que provoca a tricomoníase. Todas transmitidas pelo contato sexual.
De acordo com a médica, a sífilis continua sendo um grave problema de saúde, pois é uma doença que pode ser transmitida da mãe para o bebê, com grande impacto na vida da criança. No último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, com dados de 2023, foram registrados 242,8 mil casos de sífilis adquirida e 86 mil casos em gestantes em todo o país.
“Essas doenças precisam de atenção, pois muitas vezes envolvem relacionamentos pessoais e sexuais e principalmente a troca de parceiros durante estas atividades. Então, as pessoas ficam mais vulneráveis, mais propensas a contrair essas doenças”, afirma Dr. Sylvia, que é médica de apoio da Dasa. Ela lembra que o HPV, causado pelo papilomavírus, pode ser prevenido com a vacina disponível para meninos e meninas de 9 a 14 anos, e de 14 até 45 anos para adolescentes e adultos, homens e mulheres.
Já para quem faz coleção de beijos de festa em festa, o perigo pode vir com a mononucleose, popularmente conhecida como doença do beijo, causada por um vírus que invade as células que revestem o nariz e a garganta. A infecção pode ser assintomática e desaparecer com as cinzas, mas também pode apresentar febre, dificuldade para engolir, tosse e outros sintomas. Mas a médica lembra que ela não é considerada uma doença sexualmente transmissível, pois é passada adiante pelo contato oral, por isso muito frequente no pós-Carnaval.
Para ajudar a disseminar a atitude preventiva, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), através da Diretoria de Vigilância à Saúde (DVIS), iniciou na semana passada uma parceria com a loja de ingressos Pida, para disponibilizar, de forma gratuita, preservativos para os foliões. A iniciativa contemplará quatro pontos de vendas nos shoppings Piedade, Paralela, Salvador e Norte Shopping.
“Com a grande circulação de pessoas na alta estação, estaremos com mais uma estratégia para tornar acessível o preservativo para aqueles que vão curtir, mas com responsabilidade. Esse dispositivo, além de proteger contra gravidezes não planejadas, evita a propagação de ISTs” , explica Andréa Salvador, Diretora da Vigilância da Saúde. Além das lojas, o preservativo pode ser retirado nos postos de saúde da capital baiana, de segunda à sexta-feira, entre 8h e 17h.
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