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SAÚDE

Gravidez silenciosa: por que algumas mulheres só descobrem a gestação

Obstetra explica causas e riscos da chamada gravidez oculta

Isabela Cardoso

Por Isabela Cardoso

31/12/2025 - 9:00 h
Os casos mais comuns envolvem mulheres que não desconfiam da gestação
Os casos mais comuns envolvem mulheres que não desconfiam da gestação -

Casos em que uma mulher só descobre que está grávida no momento do parto causam surpresa e viralizam nas redes sociais. Mas, apesar do impacto, esse tipo de situação é extremamente raro e, segundo especialistas, costuma estar associado a fatores sociais, emocionais e de acesso precário à saúde.

Conhecida como gravidez silenciosa ou oculta, a condição desafia o senso comum e levanta dúvidas sobre como é possível uma gestação passar despercebida por nove meses.

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“O próprio conceito de gravidez silenciosa está dentro daquela situação em que uma mulher não consegue reconhecer a gravidez até o parto ou pelo menos até o último trimestre. É raro, muito raro. Em 20 anos de experiência profissional, eu tive duas situações que eu poderia classificar como uma gravidez silenciosa ou oculta”, explica o obstetra Caio Lessa, da clínica AMO, em entrevista ao Portal A TARDE.

Sintomas leves, confusão com outras condições e negação

Uma das razões para o diagnóstico tardio é a ausência ou leveza dos sintomas iniciais, o que leva mulheres a não desconfiarem da gravidez. “Os sintomas de gravidez são mais comuns nesse primeiro trimestre, até 14 semanas, marcado por essa sensação de fraqueza, muito sono, até redução de apetite. É comum até perder peso”, diz Lessa.

“Como é muito comum os sintomas gastrointestinais na população geral, até por maus hábitos alimentares, as pacientes acabam confundindo esses sintomas. E como eles melhoram, ela se dá como se tivesse sido uma melhora de uma condição gastrointestinal anterior”, completa.

Há ainda casos em que a mulher está amamentando ou apresenta obesidade, o que pode mascarar sinais evidentes da gravidez. “Pacientes mais obesas têm uma menor percepção da movimentação do bebê. Mesmo com gravidez planejada, desejada, supervisionada, isso é comum”, destaca o obstetra.

Além dos fatores físicos, questões emocionais e sociais também interferem. “Às vezes, por ser uma gravidez não planejada, até indesejada, a paciente, meio que voluntária ou involuntariamente, nega em reconhecer aqueles sintomas, aquela mudança, e aí acaba retardando o diagnóstico da gravidez ou mesmo o gerenciamento da gravidez”, pontua.

Uma das razões para o diagnóstico tardio é a ausência ou leveza dos sintomas iniciais
Uma das razões para o diagnóstico tardio é a ausência ou leveza dos sintomas iniciais | Foto: Agência Brasil

Falhas no acesso à saúde e ausência de planejamento reprodutivo

Embora o avanço da tecnologia e a popularização dos testes de farmácia tenham tornado o diagnóstico mais rápido e acessível, o Brasil ainda sofre com grandes desigualdades no acesso à saúde, especialmente nas regiões mais pobres e afastadas dos grandes centros.

“É um país continental que tem vazios assistenciais, e eles têm ficado mais marcados nessa área da saúde materno-infantil. Então, são situações que geralmente acontecem concorrendo com problemas sociais: pouca idade, desconhecimento do corpo, baixo acesso à saúde pública ou privada, e baixa noção de educação em saúde”, aponta Lessa.

Segundo o médico, o baixo investimento em políticas de atenção básica dificulta a prevenção e o diagnóstico precoce. “O acesso seria basicamente em pronto atendimento, por sintomas pontuais, e isso acaba de fato dificultando. A mesma situação ocorre em relação ao planejamento reprodutivo. Uma paciente que, assim que começa a ter atividade sexual, tem acesso a atendimentos e serviços de ginecologia, obstetrícia, medicina geral, consegue compreender as noções do ciclo, da contracepção e identificar mudanças do padrão”, diz.

Casos reais

Lessa compartilhou dois casos que atendeu ao longo de sua carreira. “O primeiro caso foi há mais de 20 anos, uma paciente da zona rural da Bahia que tinha 145 quilos. Ela reconheceu a gravidez em um trabalho de parto prematuro, por chegar com dor num pronto atendimento e uma dor que não cessava com os analgésicos. Um clínico suspeitou que pudesse ser um trabalho de parto e fez o diagnóstico adequado”, conta.

O segundo caso foi de uma paciente jovem com dependência química atendida em um hospital privado de Salvador. “Ela desenvolveu um quadro de pré-eclâmpsia grave, precoce, que evoluiu com convulsão. Foi atendida como se fosse um problema neurológico. Mas ao fazer tomografia, a radiologista passou o ultrassom e diagnosticou a gravidez após o exame”, relata.

Nessas situações, tanto a mãe quanto o bebê correm riscos, já que não houve o devido acompanhamento pré-natal. “Ela não tem os benefícios de uma assistência pré-natal ou planejamento de parto. E quando a gravidez é diagnosticada, geralmente é por intercorrência, o que dificulta intervenções oportunas”, completa.

Gravidez silenciosa geralmente não evidencia a barriga
Gravidez silenciosa geralmente não evidencia a barriga | Foto: Pixabay

Teste de gravidez pode falhar?

Com os testes atuais, a chance de erro é mínima. Testes de farmácia e exames laboratoriais de sangue conseguem detectar a presença do hormônio hCG (gonadotrofina coriônica humana), responsável por indicar a gestação, com grande precisão.

“É muito improvável que uma paciente que se dispõe a fazer um teste de gravidez muito precoce, porque suspeita de gravidez, não repita isso com a manutenção. Em geral, são pacientes que gerenciam muito o seu ciclo menstrual, reconhecem o atraso. A gravidez silenciosa acaba não sendo comum nesse perfil”, explica o obstetra.

“O teste já tem uma grande sensibilidade com alguns dias após o atraso. Hoje você tem testes tão sensíveis que, mesmo antes do atraso menstrual, um teste de farmácia já é capaz de diagnosticar uma gravidez”, completa.

Em resumo, a falha nos testes não é a principal explicação para uma gravidez passar despercebida. Os casos mais comuns envolvem mulheres que, por diferentes razões, não desconfiam da gestação e, portanto, não chegam a realizar exames.

Educação e saúde como prevenção

Para o obstetra, a chave está na educação em saúde e no fortalecimento da atenção básica. “A primeira questão aqui é aquilo que a gente chama de prevenção primária, que é noções de educação e saúde. As pacientes acabam tendo baixo acesso a informações seguras ou com boa curadoria. A população brasileira é muito heterogênea. Tem dados mostrando que talvez 30% da população não consegue fazer uma interpretação adequada de determinadas informações. Isso dificulta não só na perspectiva do emissor, mas também do receptor”, explica.

Apesar dos desafios, Lessa acredita que a tendência é que casos como esses se tornem cada vez mais raros. “A internet, apesar de a gente criticar a qualidade, fornece uma barreira muito menor de acesso à informação. E os recursos tecnológicos concorreram para não só oportunizar tecnologias de excelente qualidade, mas com o tempo essas tecnologias vão ficando mais baratas e acessíveis”, conclui.

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