SAÚDE
Hipnose: técnica auxilia no tratamento de doenças físicas e mentais
Hipnoterapia pode ser utilizada para resolução de fobias, medos, depressão, ansiedade, vícios e traumas
Por Isabela Cardoso

É comum assistir apresentações artísticas de hipnose como um entretenimento, mas muitos não sabem que a técnica pode ser uma grande aliada em tratamentos auxiliares de doenças físicas e mentais. A hipnoterapia tem se mostrado eficaz na resolução de fobias, medos, depressão, ansiedade, vícios, traumas e até mesmo o câncer.
Além da hipnose ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a alternativa também é autorizada, no Brasil, pelos conselhos de odontologia, psicologia, medicina, fisioterapia e enfermagem, para fins científicos, de pesquisa e tratamento. O método também é indicado como terapia alternativa pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele também é aplicado na área da dor, como partos naturais, e em algumas cirurgias, substituindo a anestesia.
O hipnoterapeuta Diego Wildberger, graduado em odontologia e um dos principais trainers de Hipnose Clínica e Terapêutica do Brasil, começou a praticar hipnose quando ainda atuava como dentista. Ele aplicava o método para controle de ansiedade, fobias e medos relacionados à odontologia. Começando na área da saúde e hoje trabalhando com a terapêutica, Diego explica que existem ainda outras duas linhas da prática: a de palco e a conversacional.
“Todo mundo que fala de hipnose, o que mais pensam é que a pessoa vai ficar inconsciente, vai fazer o que não quer, vai ser mandada pelo outro. Tudo isso é mito, essa é a hipnose de palco e é voltada somente para entretenimento. Depois a gente tem a hipnose aplicada na medicina, na odontologia, que tem o objetivo do controle da dor, melhora o sistema imunológico, o tratamento do câncer, melhora da cicatrização, hipnose do parto. Também temos a hipnose terapêutica, ou hipnoterapia, que é aplicada para autoconhecimento, controle de ansiedade, depressão, transtorno do pânico, fobias, medo em geral, traumas do passado, da infância. Você ainda tem a hipnose conversacional, que é utilizada para vender, no marketing, na propaganda, muito usada na Black Friday”, explicou.
Na sessão de hipnose, os pacientes entram em uma espécie de transe, mas não ficam adormecidos. Eles ficam conscientes e atingem um estado de alta concentração como qualquer outra atividade que exija esse foco, incluindo estudar ou assistir a um filme. O hipnoterapeuta explica que o método funciona como comunicação, com uma maior capacidade de resposta às sugestões dadas pelo profissional.
“Para o cérebro, é tudo verdade. Se você acredita nos seus pensamentos e você fica ansioso, com medo, com raiva, o seu cérebro ativa a verdade, mesmo que, na realidade, seja mentira. Então a hipnose vem como uma ferramenta para ensinar ao paciente como o cérebro e a mente dele funcionam”, diz.

Não há risco de não acordar do transe ou contar segredos durante a sessão de hipnoterapia. Segundo Wildberger, cada pessoa tem os próprios princípios morais que são obedecidos e protegidos pela própria mente inconsciente, por isso, não fará nada que vá de encontro a eles.
Além disso, o hipnoterapeuta esclarece que a hipnose é um método que deve ser utilizado junto com outra terapia, para que tenha resultados mais rápidos e suficientes.
“A hipnose é uma ferramenta que, sozinha, não faz nada. Ela tem que ser associada com outras ferramentas de desenvolvimento humano, de autoconhecimento. Então, para ela ser suficiente, você precisa associá-la com outras linhas, a psicologia, a psicoterapia, a psicanálise, a psicologia junguiana, a cognitiva comportamental, associar com meditação e outras coisas”, contou.
Algumas pessoas podem não conseguir entrar em estado de transe, por isso é essencial estar à vontade com o profissional e ter segurança no tratamento. O hipnoterapeuta buscar avaliar o quanto alguém é capaz de responder à hipnose dentro da realidade pessoal de cada um. De acordo com Wildberger, alguns pacientes com doenças crônicas, que atuam diretamente no cérebro, não podem fazer hipnoterapia ou possuem restrições.
“A pessoa precisa querer e acreditar que a técnica vai ajudar ela. A hipnose não é uma técnica mágica como a maioria das pessoas pensa. É uma ferramenta que qualquer pessoa pode fazer, que esteja disposta a se conhecer, a trabalhar suas questões emocionais, seus traumas, qualquer pessoa que tenha uma capacidade de entendimento normal. Uma pessoa que tem Alzheimer não consegue fazer. Já pacientes com Síndrome de Down e autistas têm algumas restrições”.
A quantidade de sessões necessárias que um paciente precisa para o tratamento varia de cada pessoa, podendo ser suficiente em apenas um encontro, que leva cerca de 1h, ou levar meses para finalizar. O paciente é hipnotizado para tratar apenas a questão que buscou na hipnoterapia, mas pode desenvolver bons resultados em outras áreas da vida, explica Diego.
“Se a pessoa trabalha apenas a fobia, esquece o resto. Ela é bem objetiva, então a gente acaba não mexendo em outras áreas. Mas, por exemplo, uma pessoa que tem medo de falar em público, ela passa a se relacionar melhor com as pessoas, ela melhora na família, dentro do trabalho. Uma pessoa que tem medo de agulha, você a vê fazendo outras coisas além de exame de sangue, faz uma cirurgia plástica, coloca Botox”, concluiu.
Medo de cachorro
Durante toda a vida, a aposentada Thamar Costa, de 72 anos, teve medo de cachorro e foi deixando de sair de casa por causa disso. Ela conta que não tinha controle sobre as emoções quando ficava diante do animal.
“Estava me prejudicando muito, não estava tendo vida social mais, não saía, não descia no meu condomínio, porque todos os lugares têm cachorro. Bastava eu ver, não precisava estar junto, isso já impedia que eu estivesse no lugar. Eu estava literalmente presa dentro de casa. Quando me via perto de um cachorro, me urinava de medo, tinha reações que não eram eu, as pessoas que me conhecem não entendiam", explicou.
Depois de tentar curar esse medo de várias formas, a aposentada cedeu à hipnose, uma técnica que ela mesma não acreditava. Segundo Thamar, ela optou pelo método depois de ver uma entrevista de Diego na televisão sobre os resultados da hipnoterapia.

"Eu achei que jamais iria me submeter a uma sessão de hipnose, porque eu reagia contra, não aceitava a ideia de ser hipnotizada e, na minha cabeça, eu ia perder o sentido. O que me fez ir realmente foi a decisão de ser a última tentativa para curar a fobia, depois que eu ouvi Diego falar na televisão sobre as pessoas que têm grandes medos, que a hipnoterapia estava causando um efeito muito bom. Pra mim, a hipnose é a ciência do momento. Ela resolveu um problema que nenhum ansiolítico, nenhuma conversa tinha resolvido”, contou.
Thamar realizou o tratamento em uma sessão única, antes da pandemia da Covid-19. Segundo a aposentada, desde então ela não sentiu mais nenhum medo de cachorros.
“Com uma sessão eu perdi completamente o pavor de cachorro. Diego foi extremamente carinhoso e competente. Não sei como, no final da sessão eu já estava completamente desvinculada desse pavor, já estava querendo encontrar um cachorro para ver minha reação. Eu fiz antes da pandemia e, de lá pra cá, não tive mais nenhuma aversão a cachorro. Ele encosta em mim e não tem problema nenhum. Hoje sou capaz de acarinhar um cachorro”, explicou.
Após sentir os resultados da hipnoterapia, a aposentada também planeja iniciar um tratamento para obesidade.
“Eu vou iniciar um tratamento de obesidade, ou seja, um controle alimentar, porque tenho compulsão, gosto muito de comer. Vou usar a hipnose a meu favor, no sentido de controlar a ansiedade. É uma coisa que vem me incomodando”, concluiu.
Formação de hipnose
Há cerca de 3 anos, a psicóloga e hipnoterapeuta Jamile Kruschewsky, de 37 anos, fez a formação de hipnose clínica para potencializar o seu trabalho e também buscou a hipnoterapia para tratar o trauma de engolir remédio.
"Em apenas uma sessão, foi trabalhada o trauma de engolir remédio. Foi algo muito focado, assertivo, para que trouxesse no mesmo momento a cura, a resignação sobre aquela situação vivenciada no passado, para que trouxesse resposta no momento presente", disse.
A psicóloga contou que obteve diversos resultados utilizando a hipnose durante as consultas com os pacientes. Além disso, ela também sentiu que as relações pessoais também melhoraram.
"Eu trago muitos resultados para meus pacientes, de maneira mais assertiva, mais rápida, para tratamento de fobia, medos, ansiedade, depressão. Também surtiu efeito na minha vida pessoal e em todas as áreas, não somente a questão de engolir o comprimido que me trazia transtornos pessoais, mas também alguns outros medos que a gente vai desenvolvendo durante a vida. Hoje, a minha relação com meu marido, meus filhos, colegas e amigos é muito diferente da que eu tinha anteriormente".

Na formação da prática, Jamile Kruschewsky aprendeu a fazer auto-hipnose e hoje aplica nos momentos em que precisa controlar as próprias emoções.
"A hipnose trouxe pra mim um relaxamento profundo diante de situações que antes demandavam muita ansiedade. Eu sempre fui uma pessoa muito perfeccionista em tudo aquilo que eu venho a fazer e nesses momentos eu não conseguia gerenciar a ansiedade. Com a auto-hipnose e as técnicas que eu passo para os meus pacientes, também as utilizo nesses momentos que me deparo com situações que preciso ter uma resposta rápida e racional. Eu consigo racionalizar melhor, ver as formas de uma maneira mais assertiva e não permitir que a emoção me domine no momento. É em uma entrevista, em uma palestra, é em um momento que estou sendo observada por muitas pessoas e isso me causava muitos medos. Hoje, já consigo de uma maneira muito fácil, poder estar transitando, falando, me apresentando com mais tranquilidade", explica.
A psicóloga ressalta ainda a necessidade das pessoas buscarem ajuda para tratar e melhorar as próprias questões pessoais.
"Eu acredito que todo ser humano deveria ter a oportunidade de olhar para dentro de si, de buscar ajuda de um profissional, de fazer psicoterapia, para que venha desenvolver novas habilidades e também melhorar questões pessoais. É importante que estejamos nessa caminhada buscando sempre reconhecer aquilo que eu preciso melhorar e aquilo que eu preciso desenvolver", concluiu.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes