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Liberar máscaras em locais fechados é precoce, diz especialista

Em entrevista ao programa Isso é Bahia, médica infectologista alertou para riscos da flexibilização

Publicado quarta-feira, 23 de março de 2022 às 08:54 h | Atualizado em 23/03/2022, 09:01 | Autor: Daniel Brito
Sandra enxerga um movimento muito mais político do que técnico em classificar a Covid-19 como endemia antes da OMS
Sandra enxerga um movimento muito mais político do que técnico em classificar a Covid-19 como endemia antes da OMS -

Diversas capitais e estados brasileiros, após liberarem o uso de máscaras em locais abertos, também estão desobrigando o uso do equipamento de proteção em ambientes fechados, o que ainda não é o caso de Salvador e da Bahia, que mantêm a obrigatoriedade nas duas situações. A medida, no entanto, está sendo implantada de forma "precoce" na avaliação da médica infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), Sandra Gomes de Barros.

Em entrevista ao programa Isso é Bahia, da rádio A TARDE FM nesta quarta-feira, 23, a profissional discorda do movimento e considera que ainda é necessário esperar mais. "A gente ainda precisa mapear os dados do carnaval, em que teve muita aglomeração de pessoas. Estamos com índices baixos nos hospitais, mas ainda há pacientes internados. Acredito que nas áreas abertas, ao ar livre, é possível, desde que não haja muita aglomeração, mas em ambientes fechados são propícios ao vírus se disseminar de uma forma mais rápida e atingir muitas pessoas, principalmente escolas", disse.

Barros citou o fato de que nem todas as crianças ainda foram vacinadas contra a Covid-19 e que medidas de flexibilização devem ser implantadas aos poucos. "Temos crianças com índice vacinal baixo. Acho que devemos investir na educação das medidas e da vacinação, aumentar essa segurança em relação ao vírus. Ficaria mais seguro se as coisas fossem feitas paulatinamente, observando a ocorrência de novos casos a cada vez que vai se tomando uma medida. Não podemos voltar para trás", acrescentou.

A especialista concorda que, com o passar do tempo, a doença será considerada uma endemia, ou seja, presente como todas as outras em uma escala menor, mas que, nesse momento, ainda não é possível avaliar como tal. "Há uma diminuição dos casos, óbitos e hospitalizações em todo o mundo. Precisaríamos ter um registro bem menor para depois de um tempo classificar como endêmica. Acreditamos que ela não vai embora, que isso vai acontecer, mas ainda estamos com registros altos em vários países, então ainda não saímos, não acabou e precisamos ficar atentos".

Sobre o debate de governos classificarem a Covid como endemia antes de uma tomada de decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), Barros enxerga um movimento muito mais político do que técnico e que o quadro não pode ser mudado dessa forma. "Precisamos seguir as orientações dos órgãos como a OMS e sociedades brasileiras e internacionais de infectologia, epidemiologia que vêm acompanhando esse quadro para, no momento em que se achar adequado, com base nas taxas de infecção, hospitalizações e óbitos, declarar o momento dessa transição. Não é de um dia para o outro", analisou.

"Os cuidados ainda precisam ser mantidos. O vírus ainda está sofrendo mutações, ele se torna diferente, ou mais invasivo, mais contaminante. E ainda pode se associar com duas mutações diferentes. Estamos sendo surpreendidos por ele nos últimos dois anos. Enquanto não atingirmos um índice de vacinação satisfatório, não vamos conseguir o controle dessa doença, pois ela está acontecendo no mundo inteiro. É preciso que as pessoas completem seu calendário vacinal", completou.

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