CUIDADO
Mais comum até os 40, doença autoimune pode ser incapacitante
Diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para evitar sequelas
Apesar do nome pouco familiar para a maior parte da população, a espondilite anquilosante (EA) atinge cerca de 1,5% da população mundial e pode provocar danos irreversíveis se não for diagnosticada e tratada na fase inicial. É uma doença inflamatória crônica, de origem autoimune, e causa desconhecida, que atinge principalmente pessoas abaixo dos 40 anos, com maior incidência em homens.
Segundo o reumatologista Rafael Carvalho, da Clínica Ibis, a EA acomete a região da coluna vertebral e evolui de forma ascendente, se manifestando inicialmente próximo da bacia e da coluna lombar, e depois sobe progressivamente até alcançar o pescoço. Uma característica bastante específica da doença é que as dores provocadas melhoram com a movimentação do corpo, o que os especialistas chamam de lombalgia de ritmo inflamatório.
“Mais do que uma dor aguda, como se fosse uma pancada, a espondilite provoca uma rigidez que dá dificuldade de se mexer, uma dificuldade na amplitude do movimento, parece que está dentro de uma armadura”, explica o médico. Essa rigidez matinal será notada especialmente em movimentos de curvar o tronco para a frente, como o praticado quando uma pessoa vai calçar os sapatos, por exemplo.
Quando diagnosticada até um ano após o início do seu desenvolvimento, a espondilite anquilosante habitualmente responde bem aos tratamentos disponíveis, evitando sequelas e possibilitando uma boa qualidade de vida ao paciente. O Brasil tem registrado até oito anos de atraso no diagnóstico da doença, um período de peregrinação em busca de solução, piorando o prognóstico, pois apesar de lenta, a progressão da doença é contínua.
A doença é reumatológica, mas por provocar dores na coluna, os pacientes tendem a primeiro procurar um ortopedista. Carvalho comenta que é comum receber pessoas encaminhadas por esses especialistas e o esperado é que eles sempre tenham essa hipótese diagnóstica na sua avaliação. Um diferencial importante da EA para patologias como a hérnia de disco é a piora com o repouso, pois no caso das hérnias, ficar parado tende a reduzir o quadro de dor.
“Pode acometer articulações fora da coluna, principalmente a inserção do tendão do calcanhar, o tendão de aquiles”, ressalta o reumatologista, acrescentando a possibilidade de atingir os joelhos e a inserção das costelas no osso esterno (na frente do tórax). Há ainda uma manifestação importante fora da parte óssea, a uveíte, uma inflamação nos olhos que ocorre principalmente nos homens com EA.
Assim como ocorre com outras doenças autoimunes, a espondilite anquilosante pode se manifestar associada a outra patologia com origem no sistema imunológico. Na EA, a associação mais frequente é com a psoríase, cuja principal manifestação é dermatológica, também sendo comum que seja acompanhada por doenças intestinais inflamatórias.
Diagnóstico
O diagnóstico da espondilite anquilosante começa no exame clínico, conta o especialista, com a realização de manobras capazes de identificar a presença da lesão lombar típica da doença - principalmente na articulação de encontro da coluna com a bacia, a sacroilíaca. O paciente também fará um exame de sangue para identificação do marcador HLA B-27 e uma ressonância magnética da região.
Geralmente o tratamento começa com o uso de anti-inflamatórios, caso esses medicamentos não tenham o efeito esperado sobre o quadro do paciente, a indicação é utilizar imunobiológicos. Mesmo quando o tratamento é iniciado precocemente, a tendência é que seja mantido por toda vida. “Em alguns casos, a gente consegue reduzir as doses ou aumentar o intervalo entre uma dose e outra, mas é pouco provável que o paciente consiga ficar sem nada”, comenta Carvalho.
Se o tratamento é iniciado tardiamente, o paciente pode provocar danos sem possibilidade de reversão ou que exijam intervenções cirúrgicas para minimizar as perdas funcionais. Entre as sequelas relacionadas à espondilite estão a artrose de quadril, destacada pelo médico como “bem incapacitante”, e a perda de acuidade visual resultante da uveíte.
Pode evoluir para uma sequela de coluna muito grave, com perda funcional muito importante, como não conseguir olhar para cima. O paciente adota uma postura que a gente chama de postura do esquiador, ele fica curvado para frente e uma vez que a sequela se estabelece não tem muito o que fazer”, alerta. Por outro lado, quando o tratamento é “bem precoce, ele volta a fazer exatamente tudo que sempre fez”.
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