CIÊNCIA & VIDA
Mais de 1,5 bilhão de pessoas no mundo sofrerão redução auditiva
Segunda a OMS, pelo menos 430 milhões precisarão de cuidados relativos à perda de audição
Por Jane Fernandes

Mais de 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo sofrerão alguma redução da capacidade auditiva no decorrer da sua vida, segundo o último Relatório Mundial sobre Audição da Organização Mundial da Saúde (OMS). A depender do grau, essa diminuição da audição pode ocorrer sem impactos na sua qualidade de vida, mas a OMS estima que pelo menos 430 milhões indivíduos, quase um terço do total, precisarão de cuidados relativos à perda auditiva.
Sem medidas efetivas para reduzir as perdas auditivas evitáveis, até 2050, o problema atingirá um quarto da população mundial, segundo a OMS. Desse montante de 2,5 bilhões de pessoas, cerca de 700 milhões precisarão ter acesso a serviços médicos e de reabilitação. Lançado no ano passado, o relatório ressalta a necessidade de investir na prevenção, enfatizando que os custos envolvidos na reparação do problema são muito maiores.
Chamada de presbiacusia, a redução da audição relacionada com o avanço da idade é caracterizada como uma perda neurossensorial, explica o otorrinolaringologista Nivalno Andrade, do Hospital São Rafael. No tipo neurossensorial, a lesão estará localizada na cóclea, parte do ouvido interno que tem uma grande quantidade de células responsáveis pela transformação do estímulo mecânico em elétrico.
O médico explica que o estímulo mecânico transformado pela cóclea é produzido no ouvido médio, onde o som que atravessou o ouvido externo bate no tímpano, sendo transmitido pelos ossículos, que com sua vibração produzem energia mecânica.

A perda auditiva característica do idoso, a presbiacusia, atinge predominantemente as frequências agudas, presentes no toque de um celular, no toque de uma companhia, conforme o especialista. “A zona de fala é mais para o grave, então acaba sendo conservado. Por isso há a insistência do idoso em dizer que está ouvindo bem, ele consegue se comunicar porque a última parte que cai é a zona da fala, mas a família percebe que a audição cai porque aqueles sons do dia a dia”, complementa.
Nos casos relacionados ao avanço da idade, comenta Andrade, a presença de diabetes, hipertensão, lesão renal, lesão hepática e alterações metabólicas em geral interferem de forma negativa nesse processo de perda progressiva da audição. Naquelas pessoas que sofreram traumas sonoros, seja por habitualmente ouvir música muito alta ou por passar longos períodos expostos a ruídos no ambiente de trabalho, sobretudo sem proteção adequada, a redução auditiva pode ocorrer precocemente.
O otorrino ressalta a irreversibilidade das lesões ocorridas no ouvido interno, pois mesmo com a possibilidade de redução da perda auditiva ocorrida, não é possível recuperar totalmente as células da cóclea. O aparelho auditivo é uma opção para que o paciente com presbiacusia, ou outro tipo de perda sensorial, de maior grau possa ter uma vida normal, mesmo que não reproduzam exatamente o padrão auditivo anterior à lesão.
Além da perda relacionada à idade e resultante de traumas sonoros, a audição também pode ser prejudicada por efeito de alguns tipos de antibiótico, medicamentos com conhecido perfil ototóxico. O médico lembra ainda da ocorrência de perdas auditivas súbitas, o que pode ocorrer também em idosos. Uma diferença importante é que a presbiacusia ocorre nos dois ouvidos, enquanto a perda súbita é unilateral.
Obstrução no ouvido
A redução da capacidade auditiva também pode ser do tipo condutiva, ou seja, resultante de algum tipo de obstrução no ouvido, impedindo ou dificultando a transmissão dos estímulos sonoros para dentro do ouvido. O problema pode ser causado por uma rolha de cera, exemplifica o especialista. Perdas com essas características também podem ser provocadas por infecções no ouvido médio, pois elas resultam em acúmulo de secreções que podem interferir na condução dos estímulos.
Para evitar que a cera gere uma obstrução, uma recomendação de Andrade é não utilizar cotonetes. “Nossa cera é semilíquida, vamos dizer assim, tanto que se você tiver o hábito de todo dia limpar o ouvido com a toalha, e tirar aquela cera que está na entrada do conduto, você consegue remover essa cera e não vai fazer uma rolha”, explica.
Quando a cera está nessa área mais externa, onde normalmente existem pelos, mesmo que em quantidade variável entre as pessoas, esses pelos aquecem a cera, dando a ela essa consistência mais líquida, esclarece o otorrino. Quanto mais vai adentrando o ouvido, a cera vai ficando mais seca, pois não sofre o aquecimento gerado por esses pelos. Dessa maneira, ao usar o cotonete, a pessoa acaba empurrando a cera que está nesse espaço, e com o seguimento acaba gerando uma rolha de cera.
Quando a perda auditiva é do tipo condutiva, a pessoa terá a sensação de ouvido tapada, mas o especialista alerta que o mesmo pode ocorrer em perdas súbitas, por exemplo. Por isso, o ideal é que o indivíduo procure um otorrinolaringologista para fazer uma avaliação sempre que sentir qualquer alteração na sua capacidade auditiva, pois sem o exame audiométrico não dá para dimensionar adequadamente a perda, seu tipo e o respectivo grau.
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