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SAÚDE

Mito de que pessoas pretas não têm câncer de pele afeta diagnóstico e casos avançam

Confira "Ciência e Vida" do jornal A TARDE desta segunda-feira

Por Ana Cristina Pereira

21/04/2025 - 7:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Mito de que pessoas pretas não têm câncer de pele afeta diagnóstico e casos avançam
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O mito de que pessoas negras estão protegidas contra o câncer de pele vai de encontro aos altos números da doença no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o tumor de pele não melanoma é o mais incidente no Brasil, com 31,3% dos 704 mil casos anuais diagnosticados entre 2023 e 2025. Na Bahia, onde o número de pretos e pardos corresponde a 80% da população, foram registrados 1460 óbitos no ano passado - 341 casos de óbito por câncer melanoma e 1119 referentes a outros tipos de câncer de pele.

“É um mito acreditar que pessoas negras não podem ter câncer de pele. Essa crença atrapalha a prevenção. Por não se queimarem facilmente, muitos acreditam que estão mais protegidos e acabam negligenciando cuidados essenciais”, afirma a dermatologista Naíla Nunes, professora do Curso de Medicina da Universidade Salvador (Unifacs). Segundo a médica, a melanina, que é responsável pela pigmentação da pele, oferece uma proteção natural contra os raios solares, mas essa proteção é parcial.

“Pessoas negras também estão em risco e devem usar filtro solar com fator de proteção a partir de 30, além de visitar o dermatologista regularmente”, recomenda a médica, acrescentando que as consultas são essenciais para avaliar áreas de difícil visualização, como costas e nádegas, e identificar lesões discretas aos olhos, mas que podem ter relevância clínica. A falta de prevenção e a demora de procurar tratamento acaba fazendo com que câncer em pessoas negras assuma uma forma mais agressiva, devido ao diagnóstico tardio.

A médica explica que os melanomas são manchas mais escuras que, em pessoas negras, tendem a aparecer em superfícies diferentes, como a palma das mãos, a planta dos pés e até debaixo das unhas. “Por isso, podem passar despercebidos ou ser confundidos com micose ou outras lesões, o que retarda o diagnóstico e o início do tratamento”, pontua.

Estudo baiano

O cirurgião oncológico Carmine de Siervi reforça que a grande exposição ao sol, principalmente na juventude, é a principal causa dos câncer de pele que as pessoas terão ao longo da vida, incluindo os negros. Ele apresentou no início do mês, no 11º Congresso Mundial de Melanoma, na Grécia, um estudo sobre câncer de pele em pessoas negras e pardas, realizado pelo Grupo de Oncologia Cutânea do Hospital Santo Antônio, chefiado pelo oncologista Miguel Brandão.

Classificado como retrospectivo, o estudo identificou os principais tipos de câncer de pele nessa população a partir de 137 casos atendidos na unidade entre 2023 e 2024. E mostrou que, ao contrário do que frequentemente se observa na literatura global, o carcinoma basocelular foi o tumor de maior incidência entre pacientes negros e pardos expostos ao sol - diferindo dos estudos já publicados que consideram o carcinoma espinocelular como o mais comum nesta população.

O médico explica que basocelular é o subtipo mais comum no mundo e é sempre relacionado à exposição ao sol. O principal tratamento é cirúrgico e normalmente ele tem uma capacidade nula de metástase. Já o carcinoma espinocelular é o segundo subtipo mais comum, também relacionado à exposição solar crônica, mas apresenta uma possibilidade maior de metástase. “O que o estudo mostrou é que o carcinoma basocelular é muito mais comum que o espino celular na população de fototipo alto, parda e negra”, detalha o oncologista, que também atua no grupo AMO.

Aprofundamento

O estudo levou em conta a classificação populacional do IBGE entre pretos, pardos e brancos. Segundo o oncologista, os resultados precisam ser aprofundados em novos estudos, levando em conta a nossa diversidade populacional, uma vez que as pesquisas internacionais normalmente são realizadas em países da Europa, Ásia e nos Estados Unidos.

Doutor Carmine ressalta que existe uma escassez de literatura científica relacionada ao câncer em populações negras na América Latina e na África. "Este é um estudo simples, mas o pontapé de um olhar mais amplo sobre as particularidades epidemiológicas dos cânceres de pele em diferentes grupos étnicos, promovendo uma abordagem mais inclusiva e informada no combate à doença", pontua.

O trabalho nasceu a partir da prática clínica no hospital das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), que recebe um grande número de pacientes negros, sobretudo do interior da Bahia. Segundo o oncologista, a ideia é dar continuidade ao estudo, que pode servir de alerta para ajudar na conscientização da população e na elaboração de políticas públicas. “Se as pessoas negras se expuserem ao sol elas vão ter câncer de pele. Precisamos de informações claras, para estimular as pessoas a se protegerem, principalmente as pessoas mais simples, que trabalham no sol e sem proteção”, conclui.

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