COVID-19
Nicolelis diz que Queiroga devia ter registro cassado
Ex-coordenador do Comitê do Nordeste relembrou entrevista de ministro que minimizou mortalidade infantil
Por Luiz Felipe Fernandez
O neurocientista Miguel Nicolelis afirmou nesta terça-feira, 18, em participação no programa Giro Nordeste, da TVE, que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deveria ter o seu registro profissional, certificado do Conselho Regional de Medicina (CRM), cassado.
Dentre tantas declarações polêmicas, além da própria postura no enfrentamento à pandemia que vitimou mais de 620 mil brasileiros, Nicolelis diz que no episódio recente, no fim do ano passado, em que Queiroga disse que as mortes de crianças por Covid-19 estavam um "patamar aceitável", ele deveria ter sido demitido antes que terminasse a entrevista.
"Ele deveria ter o CRM suspensa. A segunda maior casuística de morte nesta faixa etária no mundo, e ele vai na TV falar que está em um patamar aceitável. Em qualquer sociedade civilizada ele teria sido demitido antes de terminar a entrevista, não somente exonerado, do cargo, mas seria aberta uma sindicância contra ele", disse Nicolelis.
Quem deveria, contudo, responsabilizar Queiroga pelas falas, tem assumido uma postura "assustadora" diante da pandemia, e admite que não entende como um dia o médico presidiu a Sociedade Brasileira de Cardiologia.
"Mas a conduta do Conselho [Federal de Medicina] tem sido assustadora desde o início, defendendo cloroquina, um desastre completo [...] me surpreende ele ter sido presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, um choque para mim", lamentou.
NORDESTE
Ex-coordenador do Comitê Científico do Nordeste, Miguel Nicolelis avalia que a os gestores da região relaxaram nesta segunda fase da pandemia e os estados sofreram o impacto da mudança de atitude. Em 2021, o Nordeste tinha uma taxa de mortalidade pela doença menor do que outras partes do Brasil, mas depois foi nivelando.
"Acho que ocorreu depois desse sucesso relativo na primeira onda, quando os gestores do Nordeste acharam por bem deixar de seguir as recomendações, acharam que tinham aprendido tudo, abriram economias de maneira destrambelhada, campanhas eleitorais", lista o pesquisador, que alertou no início de 2021 para a necessidade de um lockdown coordenado em todo o país, para impedir o avanço da doença.
ÔMICRON
A perspetiva para os próximos dias, prevê Nicolelis, é de que o Brasil tenha a maior média móvel de casos desde o início da pandemia, como tem acontecido nos demais países. Mesmo com o sucesso da vacina em prevenir mortes e hospitalizações, o rápido espalhamento e o contingente de pessoas que resistem a se vacinar, assim como de crianças que ainda não receberam o imunizante, é grande.
"Mais de 30% dos brasileiros ainda não tomaram a segunda dose e outros 20% que não tomaram a terceira, essas pessoas têm 10 ou 11 mais chances de serem internadas, as estatísticas dos EUA e Reino Unido já comprovaram", salienta.
Além do risco de morte, a incerteza acerca dos efeitos colaterais a médio e longo prazo mesmo em pessoas sem sintomas graves deveria ser a motivação para que ninguém defendesse a contaminação indiscriminada, ou a tese de que a Ômicron vai ser a responsável por colocar um fim na pandemia de Covid-19.
"Esse é um vírus para não se pegar, para não se ter. Até em pessoas assintomáticas ou casos leves, é imprevisível. Existem doenças crônicas que podem surgir e não temos ainda estudos para a Ômicron [...] podem desenvolver sequelas crônicas, cardíacas, pulmonares, neurológicas, que podem impactar para o resto da vida das pessoas, por isso alerta tem que ser para quebrar a transmissão do vírus", pondera.
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