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SAÚDE

Para além do bem-estar, musicoterapia ajuda a tratar deficiências

Técnica é procurada para auxiliar no processo de recuperação de funções ou promoção do desenvolvimento

Por Isabela Cardoso

24/08/2022 - 6:00 h | Atualizada em 24/08/2022 - 10:04
O musicoterapeuta Peu Alves e o aluno Tom durante a sessão de musicoterapia
O musicoterapeuta Peu Alves e o aluno Tom durante a sessão de musicoterapia -

A música é uma forma de arte que provoca sensações de bem-estar, nostalgias, sentimentos, além de poder auxiliar no tratamento de doenças e deficiências. Neste sentido, criou-se um campo de estudo chamado “Musicoterapia”, uma ferramenta que utiliza sons, ritmos, melodias e harmonias, com o objetivo terapêutico de atuar na comunicação, expressão e aprendizagem.

Atualmente, a técnica é procurada para auxiliar no processo de recuperação de funções em caso de lesões cerebrais ou promoção do desenvolvimento, restaurando a saúde humana e gerando uma maior qualidade de vida. A terapia pode servir de crianças a idosos, podendo ser uma prática que tanto os pacientes como o profissional podem tocar os instrumentos e produzir sons, ou receberem estímulos sonoros produzidos pelo musicoterapeuta.

Segundo Jamile Chastinet, neuropsicóloga e sócia do Instituto Lúria, em Salvador, as pessoas comumente dão mais importância ao desenvolvimento da escrita e da leitura, desconsiderando a música como uma ferramenta cultural rica para o funcionamento cerebral.

“A música, assim como a leitura e a escrita, é uma das poucas atividades que envolvem quase todo o cérebro e suas funções, solicitando o funcionamento cognitivo desde a percepção e captação do som até as respostas motoras e emocionais. A musicoterapia é uma área de atuação profissional que pode garantir esse favorecimento e ampliação das capacidades cognitivas”, afirma.

Alguns estudos mostram que o córtex é uma área altamente influenciada pelas experiências musicais. De acordo com a neuropsicóloga, os teóricos associam o córtex auditivo primário, como receptor das informações auditivas, capaz de receber os sons e tons musicais. Já as áreas auditivas secundárias e de associação, se supõe que há o processamento dos padrões musicais mais complexos, como harmonia, melodia e ritmo.

“Assim, consideram que aprender a tocar um instrumento faz com que haja uma reorganização de diversas áreas cerebrais como as áreas motoras, o corpo caloso e o cerebelo. Existem também os estudos que analisam a diferença da participação de cada um dos hemisférios cerebrais, considerando que o lado esquerdo do cérebro parece processar elementos básicos como intervalos musicais e ritmos ao passo que o lado direito se relaciona com o reconhecimento de características como a métrica e contorno melódico”, explicou.

A profissional também explicou como a música se torna importante no desenvolvimento da atenção. A musicoterapia pode trazer uma percepção mais ampla, além de atuar como estratégias de atenção em um bebê.

“A percepção estimulada pela música pode favorecer a distinção dos aspectos relevantes e ignorar os irrelevantes, favorecendo principalmente, neste caso, a atenção concentrada. Outra habilidade cognitiva que é bastante descrita na literatura como resultado favorável do aprendizado da música é a velocidade do processamento cognitivo que apresenta maiores resultados em sujeitos que tiveram estimulação com a música”, disse.

A neuropsicóloga já trabalhou com pacientes de diferentes diagnósticos e citou um caso em que a musicoterapia foi capaz de melhorar a qualidade comunicativa da pessoa.

“De modo particular, é possível citar um caso de uma paciente surda oralizada, que apresenta dificuldade na articulação de fonemas específicos. Meu trabalho com ela, em intervenção neuropsicológica, é direcionado para as funções executivas. A melhoria na qualidade comunicativa repercutiu diretamente no funcionamento dela como um todo e consequentemente sobre o processo de intervenção que realizo com ela”, comentou.

Musicoterapeuta

Cantor, professor de música e musicoterapeuta, Peu Alves oferece sessões para crianças, adultos e idosos. Em suas experiências, ele já trabalhou com alunos com Síndrome de Down, Síndrome de Turner, Autismo, Parkinson, Alzheimer e TDAH. Ele explicou que o tratamento da musicoterapia traz equilíbrio, mais ritmo e mais compreensão de tempo.

“O TDAH, por exemplo, digamos que é um instrumento desafinado e não afina porque não está na frequência certa. Então, a gente afina a pessoa na musicoterapia, a ponto de que, o ritmo entre a conexão dos órgãos, entre a fala, entre o que se pensa e o que se fala, entre o que se pensa e se anda, age, esse ritmo começa a ganhar mais harmonia, mais tempo”, disse.

Tom Pereira, 11 anos, tocando violão durante a sessão de musicoterapia
Tom Pereira, 11 anos, tocando violão durante a sessão de musicoterapia | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

Segundo Peu Alves, os efeitos da musicoterapia podem agir já na primeira sessão e, em um mês, os resultados se tornam claros. Ainda assim, o tempo de tratamento será diferente de acordo com as idades e necessidades cognitivas.

O musicoterapeuta tem uma frequência maior de sessões para crianças de 3 anos, nas quais procura desenvolver mais o campo lúdico dos pequenos.

“Eles têm uma conexão muito grande com a musicalidade. A música é uma linguagem que a gente consegue se comunicar, principalmente com os não verbais. É um processo que eu os vejo desenvolverem falas, desenvolver motricidade. O bater o pandeiro quem era apático. Se nota a criança com mais presença, mais contato visual, com mais tempo rítmico de resposta, de ação, se organiza melhor, articula melhor, tanto o corpo quanto as palavras”, contou.

Peu Alves tem uma variedade de instrumentos para que os pacientes possam experimentar e aprender.

“Geralmente, levo os instrumentos que são mais difíceis de quebrar como xilofone, meia lua, pandeiro, megafone, fantoches, tamborzinho. Tem o setting de Sound Healing, como o trovão, a taça tibetana, o gongo. Mesmo com muitas opções, eles se identificam mais com o pandeiro e o xilofone”, comentou.

Síndrome de Down

A jornalista e coordenadora da ONG Avante Educação e Mobilização Social, Andrea Fernandes, tem um filho chamado Tom Pereira, de 11 anos, com Síndrome de Down. A profissional contou que sempre procurou formas de cuidar dele com mais atenção, com alfabetização em casa, homeopatia e a musicoterapia.

“As pessoas universalizam e acham que toda pessoa com síndrome de Down tem um gosto por música, não acho que é assim. Acho que eles têm bastante sentidos sensíveis, mas nem todos tem a mesma sensibilidade para a música. Tom tem um gosto musical incrível. Ele adora MPB, rock, música clássica. Gosta muito de cantar, de escutar música e desde pequeno que ele gosta de tocar uma guitarrinha de brinquedo. Agora, ele já está tocando violão. Ele gosta de todos os instrumentos, sonoridade de uma forma geral, mas o violão ele tem mais chamego”, disse.

A jornalista Andrea Fernandes e o filho Tom
A jornalista Andrea Fernandes e o filho Tom | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE | 15.04.2021

Andrea contou que Tom havia deixado de fazer musicoterapia no início da pandemia de Covid-19, quando começou o isolamento social. Essa condição acabou deixando Tom mais fechado e com pouca socialização.

“Ele já não estava se relacionando mais com as outras pessoas, com os outros ele não interagia muito. Então eu resolvi voltar para a música, porém queria uma musicoterapia que acompanhasse o amadurecimento dele. Queria alguém que desse uma aula de violão para ele, foi aí que cheguei em Peu Alves, ele já tinha experiência de trabalho com crianças”, comentou.

Segundo a jornalista, cantar ajudou no progresso da fala de Tom, auxiliando na articulação das palavras, a captação do ritmo da música e no desenvolvimento do raciocínio matemático.

“O ritmo e a pulsação colaboram muito. Ele canta, vem falando mais frases, desde pequeno que a palavra sai melhor quando ele canta. Esse cantar vem proporcionando o aumento do vocabulário dele, ele venceu aos poucos essa praxia”, acrescentou.

As primeiras aulas de musicoterapia foram de aproximação para Tom, com uma dificuldade de interação, precisando de outros recursos para acessar a comunicação com ele.

“No início, ao mesmo tempo que era difícil dialogar com Tom, ele só fazia o que queria. Ele ficava louco com os instrumentos, mas não interagia. Com o tempo, ele foi compartilhando aquele momento, foi se abrindo para se comunicar. Antes, Peu usava fantoche para poder chegar nele, megafone, outros recursos”, disse.

Com o tempo, Andrea foi percebendo como as aulas de musicoterapia foram facilitando o processo de socialização de Tom. “Peu chega e ele já pega o violão, cantam, fazem altos sons tocando juntos, ele curte isso. Isso ajudou ele nesse processo de sair da concha. Acho que ele se comunica bem através da música, vai permitindo a expressividade dele, por meio desse canal. Colabora muito na socialização na expressão, nesse estar no mundo de alguma forma”, concluiu.

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