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17/06/2024 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Andreia Santana

SAÚDE

Peeling de fenol só pode ser feito por médico e com o paciente monitor

Pacientes que tiveram queimaduras graves e passaram mal após o procedimento, com o registro de uma morte

Imagem ilustrativa da imagem Peeling de fenol só pode ser feito por médico e com o paciente monitor
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O peeling de fenol, procedimento da medicina estética, virou o assunto mais comentado dos últimos dias no país depois que dois pacientes submetidos à técnica tiveram problemas graves. Em 03 de junho, o empresário paulista Henrique Silva Chagas, de 27 anos, morreu pouco tempo depois de fazer o peeling com a digital influencer Natália Fabiana de Freitas, conhecida nas redes sociais como Natália Becker. Após a repercussão da morte dele, essa semana surgiu um segundo caso, no Paraná: uma mulher de 64 anos foi internada com queimaduras de terceiro grau. A aplicação dela ocorreu em 25 de maio. Nas duas situações, as responsáveis são investigadas. A influencer deverá responder por homicídio com dolo eventual.

Tanto o paciente paulista quanto o paranaense não fizeram o peeling com médicos, únicos profissionais habilitados a aplicar a técnica. E, ainda assim, não basta ser formado em medicina e ter o registro no conselho de classe, é preciso ser capacitado para lidar com o procedimento, diz a Dra Marilusia Maia Costa, dermatologista, professora de pós-graduação e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Estética - Seção Bahia.

“O fenol é um ácido altamente corrosivo, bactericida e bacteriostático, que deriva do alcatrão. No século XIX, por volta de 1830, ele era usado como antisséptico. Em 1932, mais ou menos, foi descoberta uma fórmula capaz de atuar na reestruturação da pele. O peeling de fenol é o superstar dos peelings profundos. Ele atua reestruturando totalmente a pele nos casos de flacidez extrema e rugas ultra profundas”, explica a especialista.

A dermatologista acrescenta que o fenol age na camada reticular da pele, que é altamente vascularizada. “Quando ele chega nessa área reticular, é absorvido por esses grandes vasos, metabolizado no fígado e excretado pelos rins”, diz.

Antes de fazer o tratamento com fenol, o paciente passa por uma série de exames e uma entrevista detalhada, acrescenta a dermatologista e cirurgiã dermatológica Vanessa Queiroz, do Instituto Cláudio Bacelar, em Salvador. Ela cita ainda que a técnica apresenta bons resultados para tratar cicatrizes de acne daquele tipo que compromete a textura da pele e ficam bem marcadas, que geralmente incomodam bastante.

As duas profissionais advertem que os pacientes em tratamento com fenol precisam ficar constantemente hidratados com soro fisiológico e monitorados durante o procedimento, caso o produto químico vá ser aplicado em toda a extensão da face, que antes é dividida em unidades cosméticas para a aplicação. Isso significa que o médico vai dividir a face do paciente em seis partes, a partir da linha do cabelo ao queixo, na vertical, e de um lado a outro do rosto, na horizontal. O fenol será aplicado em cada unidade, uma de cada vez, e com intervalos de até 15 minutos, entre uma aplicação e outra, para que o organismo vá absorvendo aos poucos.

“O soro faz o sangue ficar mais fluido, diluindo melhor a substância [o fenol] e reduzindo o impacto sobre o fígado, que vai metabolizar a substância”, diz a Dra Marilusia.

Antes de usar o fenol é preciso também fazer uma bateria de exames para conferir as funções hepática, renal e cardíaca do paciente, para que ele esteja apto ao procedimento. “Essas funções precisam estar preservadas justamente para que a metabolização do fenol não cause nenhuma intercorrência”, acrescenta a presidente da SBME-BA.

“Esse ácido também não pode ser utilizado em áreas corporais, precisa ser em área de regeneração de pele com unidades pilossebáceas, como é o tecido da face, que tem 40 vezes mais tecido pilossebáceo do que outras partes do corpo”, completa.

Sedação

O peeling profundo de fenol precisa ser feito com o paciente sedado, porque provoca dor intensa tanto durante quanto depois do procedimento. “Durante, precisa ter sedação e monitoramento constante do batimento cardíaco, do nível de hidratação com soro, então o profissional médico precisa ter outros profissionais na sala cuidando desse monitoramento e da sedação”, orienta Dra Marilusia Maia Costa.

Segundo ela, uma pós-graduação em medicina estética dura dois anos e, nem assim há muitos profissionais habilitados para fazer o procedimento. “É uma técnica que possibilita excelentes resultados, a pele chega a rejuvenescer 20 anos. Se o profissional é capacitado, não se trata de um bicho de sete cabeças. Mas, se você fizer uma pesquisa, há poucos médicos que realizam o procedimento porque requer um investimento alto de tempo em capacitação”.

Além do tempo de preparação dos médicos, não se trata de um procedimento barato. Os custos para o paciente variam de R$ 10 mil a R$ 30 mil. Se alguém oferece por valores muito abaixo disso, vale desconfiar da procedência do ácido usado e da perícia do esteticista.

A presidente da SBME-BA reforça que é importante a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - melhorar a fiscalização da importação das substâncias, porque existem produtos que às vezes entram no país sem regulamentação e as pessoas acabam comprando de forma aleatória. “O fenol também é utilizado na indústria farmacêutica, está na fórmula de outros tipos de medicamentos, de outros insumos químicos, o problema é usar o produto errado”, afirma.

A cirurgiã dermatológica Vanessa Queiroz lembra, ainda, que a técnica não é indicada para a pele negra, pois pode causar manchas. Além disso, o fenol só deve ser utilizado em casos de grau 4 de envelhecimento da pele ou com cicatrizes muito profundas de acne.

“O uso é também contraindicado em casos de cicatrizes hipertróficas ou queloides na face, para pessoas fumantes, para quem tem transtornos psiquiátricos ativos e podem ter baixa tolerância ao procedimento ou não aderir aos cuidados após o peeling. Doenças médicas que alteram a cicatrização de feridas, uso de medicamentos que prejudicam a cicatrização, doença cardíaca, hepática e renal, amamentação e gravidez também contraindicam”, diz.

Fiscalização

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiu nota técnica logo após a morte do empresário paulista reconhecendo que o peeling de fenol em toda a face é um procedimento estético que demanda extrema cautela, “considerando sua natureza invasiva e agressiva”.

Ainda segundo o texto da entidade, “é essencial que [o peeling] seja conduzido por médicos dermatologistas habilitados, preferencialmente em ambiente hospitalar, com o paciente devidamente anestesiado e sob monitoramento cardíaco. É fundamental que, antes de se submeter a qualquer procedimento clínico ou cosmiátrico, o paciente busque a orientação de um dermatologista. Este profissional está capacitado para preparar a pele, avaliar adequadamente suas condições e indicar a melhor abordagem individualizada para cada caso, além de orientar sobre os cuidados necessários para evitar as possíveis complicações”, adverte a entidade.

Em Salvador, a Vigilância Sanitária é o órgão que fiscaliza as atividades das clínicas estéticas. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), pasta à qual a Visa é ligada, explica que os estabelecimentos precisam se regularizar junto ao órgão e possuir licença sanitária, ou seja, o Alvará de Saúde. “Os serviços de estética devem funcionar em condições sanitárias que possibilitem a prestação de serviços de forma segura. Para a Visa, os serviços de estética são classificados como de interesse da saúde e/ou serviço de saúde, a depender do profissional que oferta o serviço, bem como dos procedimentos realizados. Nos serviços de estética de interesse da saúde, as atividades realizadas não exigem a presença de um profissional de saúde e só podem utilizar produtos cosméticos, que são de uso exclusivamente externo, sendo proibido o uso de medicamentos e a realização de procedimentos invasivos”, diz nota da pasta.

Entre as irregularidades mais comuns nos estabelecimentos fiscalizados estão a falta de habilitação do profissional que realiza as atividades, falta de esterilização de instrumentos, armazenamento inadequado de produtos e estrutura física inadequada para as atividades.

O professor da Unifacs Inácio Patrício, que é advogado especialista em defesa do consumidor, lembra que o exercício ilegal da medicina é crime e que no caso da morte de um paciente, como ocorreu em São Paulo, o responsável pode ser indiciado por homicidio. “Há um agravante no caso do profissional atuar de forma irregular ou praticar a profissão ilegalmente, como no caso de alguém que não é médico e que aplica uma técnica que só pode ser feita por médicos”.

Inácio Patrício também diferencia o erro médico da intercorrência: “uma intercorrência é algo que acontece efetivamente sem uma previsão, mesmo num procedimento simples ou invasivo, ele não é previsível e por isso não se configura em erro. Já o erro médico pode ocorrer por negligência, por imperícia e nesse caso existem algumas esferas de resposta diante da Justiça, como a civil, a administrativa e a criminal”, enumera.

O especialista lembra, ainda, que além do direito a indenização na esfera civil, é possível denunciar o caso junto aos conselhos de classe, no caso ao Conselho de Medicina se há a prática ilegal da profissão. “As pessoas têm a ideia de que os conselhos são criados para proteger os profissionais, mas na verdade é para proteger o exercício da profissão, justamente para evitar que pessoas incapacitadas, sem a qualificação devida cometam erros”.

É possível também fazer denúncias para o Procon e outros órgãos fiscalizadores, como a Anvisa e as vigilâncias sanitárias locais.

Pressão externa por juventude e beleza podem abalar a autoestima

Negligenciar a investigação do profissional e da clínica estética antes de se submeter a um procedimento pode ter uma explicação nos abalos na autoestima causados pela pressão social por juventude e beleza. Segundo a psicóloga clínica Ana Paula Nunes, da AMO Saúde da Mulher, sempre que as pessoas buscam melhorias no rosto ou no corpo é porque existe uma insatisfação, que é ampliada diante do que está exposto nas redes sociais, gerando ansiedade.

“Isso ocorre principalmente devido às comparações. Há estudos que mostram que as redes sociais aumentam em muito os índices de insatisfação corporal, porque as pessoas são bombardeadas o tempo todo com propagandas de produtos e conselhos dados por influencers que tem um padrão de vida muitas vezes bem distante daquele da sociedade”, afirma.

Ainda segundo Ana Paula Nunes, a pressão estética faz as pessoas buscarem procedimentos mas deixarem de levar em consideração a segurança, porque estão mais vulneráveis na sua autoestima, o que também afeta a capacidade de discernimento.

“Hoje em dia, com a internet, que apesar de ter muitas coisas ruins também tem algumas coisas boas, porque a informação circula, as pessoas têm como buscar o currículo dos profissionais, saber se a clínica tem todos os licenciamentos de Vigilância Sanitária, se os medicamentos e as fórmulas estão dentro das regras da Anvisa. No entanto, as redes sociais podem afetar essa capacidade de discernimento principalmente quando as pessoas buscam o imediatismo e soluções mágicas para dar conta do seu desconforto. Elas agem mais impulsivamente”.

Perdas e danos

Pessoas que estão vivendo um processo de luto, angústia ou crises de ansiedade costumam buscar na renovação estética uma forma de eliminar a emoção negativa e o desconforto, diz Ana Paula. “Mas o ideal seria justamente observar as emoções. Quando as pessoas não querem fazer isso, usam qualquer ação como um tampão emocional”, acrescenta.

Mas, ainda conforme a especialista, não tem como eliminar um desconforto que nasce de uma angústia, crise de ansiedade ou processo de perda apenas mexendo no exterior. “Nesses momentos é indicado buscar a psicoterapia para elaborar melhor o que está acontecendo, que não é algo que apenas mexer na estética vai resolver, é mais profundo”, orienta.

A psicoterapia também pode ajudar tanto no antes quanto no depois de um procedimento estético, explica a psicóloga, porque quando a pessoa busca a intervenção física é porque tem relação também com a autoestima. “A autoestima é um sentimento que se desenvolve, a gente não nasce com ele, aprende dos nossos pais, dos nossos cuidadores, das pessoas com quem interagimos. E isso repercute em todas as outras esferas da vida. A psicoterapia vai dar as ferramentas que permitem ao indivíduo construir um repertório de autoestima, autoconhecimento e a se questionar se o procedimento estético está sendo feito por ele mesmo ou por uma cobrança social”.

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