CIÊNCIA E VIDA
"Precisamos de 500 a 550 doações de sangue diárias para manter os estoques"
Confira a coluna Ciência e Vida desta segunda-feira, 18
Por Ana Cristina Pereira
Novembro é um mês importante para a Fundação Hemoba e sua meta principal de aumentar as doações voluntárias de sangue na Bahia: no dia 25 é celebrado o Dia Nacional do Doador de Sangue, uma oportunidade para a instituição, que está completando 35 anos de atuação, chamar atenção para seu trabalho fundamental para a saúde pública. Para marcar a data, na última semana do mês, a instituição realiza a segunda edição da Gincana do Bem, que mobiliza os profissionais de saúde dos hospitais e maternidades de Salvador para a doação de sangue, até dia 30.
O objetivo é fomentar o sentimento de co-responsabilidade pela doação dentro das equipes de profissionais de saúde e de seus amigos e familiares. Além disso, intensificar a captação e formar novos doadores nas campanhas que acontecem ao longo do ano. Porque, como afirma o hematologista Luiz Gonzaga Catto, a fundação pensa todos os dias e o tempo inteiro em como conseguir mais voluntários. Nesta entrevista, o diretor geral da Fundação Hemoba fala sobre a atuação do centro nestas três décadas, sobre suas principais atribuições, da expansão das atividades pelo interior do estado e da importância de estar mais próximo desse possível doador.
E para quem quiser doar, o Hemocentro Coordenador, localizado na sede do órgão, na Vasco da Gama, funciona de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30, e aos sábados, das 7h30 às 16h30. Na capital, as doações podem ser feitas também no Hospital do Subúrbio, Ana Nery, Roberto Santos e Santo Antônio (OSID). Mais informações no site www.hemoba.ba.gov.br .
A Fundação Hemoba está completando 35 anos. Qual o balanço que o senhor faz da atuação e da importância do órgão?
Estamos comemorando os 35 anos da Fundação Hemoba, que vem se prezando durante todo esse período pelo crescimento, qualificação técnica e qualificação de seus profissionais. É um prazer a gente estar podendo comemorar esses 35 anos. A Fundação é composta por cinco unidades na região metropolitana, além dos três hemóveis que fazem parte da coleta na região metropolitana e mais 21 unidades distribuídas no interior do estado. Em termos numéricos, nós temos mensalmente em torno de 17 mil candidatos a doadores, colhemos algo em torno de 13 mil bolsas mensalmente, isso para dar suporte a toda a rede SUS no que tange aos produtos hemoterápicos. A Fundação é muito importante porque, como todos nós sabemos, muito dos procedimentos médicos e das necessidades dos pacientes estão relacionados ao suporte transfusional. Então, essa é a primeira e grande função da Fundação. Além disso, ela atende também todos os pacientes com doenças hematológicas benignas. Chegar aos 35 anos com essa conformação em número de unidades e de atendimentos é uma função extremamente importante para a saúde pública da Bahia.
Além da coleta e processamento do sangue, quais as outras atividades realizadas pelo Hemoba?
Além do suporte hemoterápico, a Hemoba também tem uma parte clínica, que faz parte diretamente de todo atendimento SUS das doenças hematológicas, que a gente chama de não-oncológicas: todas as anemias, hipoplasias medulares, mielo-displasia, ou seja, as doenças hematológicas que não são consideradas malignas, não são tumores hematológicos. Aí entram todas as anemias, insuficiências medulares, doenças autoimunes hematológicas e outra grande patologia, a doença falciforme. Nós fazemos parte do grupo que participa diretamente do atendimento aos pacientes com doença falciforme e também das coagulopatias, ou seja, aquelas doenças hemorrágicas e as tecnologias clínicas não oncológicas. Temos uma parte laboratorial que ajuda nesses diagnósticos e faz exames específicos para diagnósticos hematológicos. Também temos a parte de educação, que é justamente passar essas informações da nossa especialidade para outras áreas médicas, para o atendimento a esses pacientes em toda a rede SUS.
Atualmente, quantas unidades formam a rede estadual de coleta de sangue? Elas cobrem todas as regiões do estado? Há planos de ampliação?
Atualmente a Fundação Hemoba trabalha com 29 unidades de coleta, 21 unidades fixas no interior, 5 unidades fixas na região metropolitana e mais 3 unidades móveis que fazem a coleta à distância. A gente entende que esse número de unidades é suficiente para o estado. O que a gente tem agora é a implantação da Hemorede, com os chamados Hemocentros Regionais, que vão fazer a regionalização de todo o programa de saúde. No plano plurianual de 2024 a 2027, a gente tem a proposta da implantação de cinco centros regionais, sendo que o primeiro, este ano, foi o hemocentro regional de Vitória da Conquista, que já foi inaugurado e está em implantação de todas as atividades da Fundação Hemoba para a região Sudoeste. Temos ainda a implantação de mais quatro hemocentros regionais para os próximos três anos.
Como funciona a coleta externa realizada na Unidade Móvel de Coleta?
As coletas à distância, fora dos nossos pontos físicos, basicamente tem duas modalidades. A primeira e mais conhecida, e que a gente utiliza com muito mais frequência, são os Hemóveis, estruturas nas quais são montadas todas as especificações e todas as exigências para que se dê o processo de matrícula, triagem, exame clínico, coleta, lanche e dispensação do doador. Ela é feita dentro de uma unidade montada em um ônibus que tem todos esses equipamentos disponíveis para coleta. A segunda é a coleta itinerante, em um espaço físico que seja adequado para fazer a coleta, onde a gente monta a estrutura de coleta.
Como estão os estoques de sangue na Bahia neste momento?
Na região metropolitana a gente tem uma certa preocupação com os estoques, pela concentração daqueles hospitais de maior complexidade, com procedimentos mais complexos que acabam por usar um número de hemocomponentes, um número de transfusão maior do que em situações de menor gravidade. Então, em relação a essa concentração de grandes hospitais e de hospitais de maior complexidade, nós temos uma dificuldade um pouco maior de manter os estoques de sangue de maneira satisfatória. Tanto é que várias vezes vocês presenciam a Hemoba fazendo chamadas, campanhas e coletas externas, seja com o Hemóvel seja itinerante, para que a gente tenha uma maior mobilidade e possa chegar de maneira mais objetiva ao doador de sangue. Já no interior do estado, a gente tem um melhor controle desses estoques, a gente não tem uma dificuldade tão grande quanto na região metropolitana. Do ponto de vista técnico, temos conseguido manter esses estoques, ou seja, eles não estão no nível de segurança que a gente gostaria, mas eles são suficientes. Com algum desejo de que ele fosse melhor, mas a gente consegue atender às necessidades de todo o estado. Só para que a gente tenha uma ideia, precisamos de algo entre 500 e 550 doações de sangue diárias para manter esses estoques, sendo mais ou menos 250 unidades para a região metropolitana e normalmente 300 unidades para o restante da Bahia, perfazendo um número de coletas de sangue necessárias bastante alto.
Quantos doadores são cadastrados no Hemoba e qual o principal perfil deles?
Nós temos algo em torno de 16 a 17 mil cadastros mensais, 170 mil cadastros anuais, cerca de 12.513 mil coletas mensais e 130 mil anuais. O perfil do doador são aquelas pessoas que estejam com saúde, ter entre 16 e 69 anos, mas entre 16 e 18 precisa da autorização do responsável e acima dos 60 precisa ter feito uma doação de sangue anterior. Em termos de peso, precisa pesar mais do que 50 quilos, e todas as outras perguntas que são importantes para qualificar o doador, a gente faz numa entrevista pré-doação, para garantir a qualidade do sangue que vai ser utilizado.
Quais são os principais empecilhos para a doação de sangue?
As condições que geram inaptidão do doador estão primeiramente relacionadas ao não cumprimento daquelas situações que eu coloquei. Segundo, como eu disse, estar bem de saúde, não estar com nenhuma infecção ou outra patologia, seja ela infecciosa ou não. Outro grupo principal são aquelas situações que a gente chama de risco aumentado de transmissibilidade de doenças que são passíveis pela transfusão de sangue. E outras situações são o uso de alguns medicamentos. Na realidade, todo doador vai passar por uma triagem clínica e por uma entrevista que vai questionar todos esses dados no sentido de poder dizer se o doador está apto à doação e quando não, ele vai ser orientado sobre a causa que foi realizada a inaptidão.
Dia 25 é o Dia Nacional do Doador de Sangue. Como convencer mais pessoas a doar voluntariamente?
Essa é uma pergunta que a gente se faz todo dia, todo o tempo. Primeiro, a gente sabe que não existe outra maneira de se conseguir os hemocomponentes sanguíneos, seja o concentrado hemácias, plaquetas, plasma, e assim como uma série de outros hemoderivados que tiramos do sangue, como o fator 8, fator 9, complexo pró-trombinico e imunoglobulina para os pacientes que são deficitários. Ou seja, toda essa enorme gama de produtos depende exclusivamente da doação de sangue. A gente tem uma série de projetos, começando por projetos escolares, que a gente chama de doador do futuro, a gente envolve universidades, organizações sociais, organizações religiosas, militares, todos nos ajudam muito. A gente vai aos doadores onde tem uma circulação maior de pessoas, pois a gente entende que a vida está muita corrida e a gente precisa dar oportunidade para que as pessoas façam sua doação de sangue. A gente precisa de um processo educacional, de estar próximo ao doador, e também estar de maneira frequente lembrando as pessoas dessa necessidade, pois o tempo de estocagem não é longo e a gente precisa que o doador faça uma doação nos tempos regulares. A gente precisa da habitualidade dessa doação. É uma parte educacional, uma parte de compromisso cívico da sociedade e outra parte que é estarmos junto da população, lembrando a ela que sem a doação de sangue tudo isso não pode acontecer. A Hemoba é um intermediário entre a pessoa que está doando e o paciente que está do outro lado. A Fundação Hemoba precisa desse doador e não há outra maneira de buscar estes hemocomponentes e hemoderivados, que são fundamentais para melhorar a saúde da população.
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