SAÚDE
Procura por vasectomia tem aumento na Bahia no pós-pandemia
Procura pelo procedimento no estado acompanha crescimento nacional
Por Jane Fernandes
Informações do DataSus mostram que a realização de vasectomias aumentou cerca de 33% entre 2018 e 2019 no Brasil, últimos anos antes da desaceleração resultante da pandemia de covid-19. A retomada da procura pelo procedimento fica evidente nos dados da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), que apontam 6191 cirurgias feitas entre janeiro e 24 de outubro deste ano, um crescimento de aproximadamente 76% em relação às 3.522 vasectomias de 2019.
A vasectomia é um procedimento cirúrgico feito por homens como uma medida contraceptiva, evitando que eles possam engravidar suas parceiras. “É um procedimento ambulatorial, onde você secciona os ductos deferentes, que são as estruturas onde passam os espermatozoides”, explica o urologista Augusto Modesto, sócio da Clínica de Urologia da Bahia.
Para o médico, a maior procura pela cirurgia é motivada pelo interesse crescente dos homens em cuidar da sua saúde e buscar informações sobre o tema, se livrando de mitos que cercavam a vasectomia no passado. "Só teve uma queda durante a pandemia, mas vinha em curva crescente de procura, porque eles começaram a ver que era um procedimento rápido e seguro, sem esses preconceitos todos que tinham no passado", enfatiza.
“É um preconceito essa ideia dos homens perderem a sua masculinidade. São coisas totalmente diferentes, o mecanismo de ereção do pênis não passa por esse ponto, e sim pela via intra-abdominal. Os nervos responsáveis pela ereção passam ao lado da próstata”, diz o especialista, reforçando que a vasectomia não traz risco de disfunção erétil.
O procedimento também não tem impacto sobre a libido, reafirma, esclarecendo que a produção de testosterona - hormônio ligado ao desejo sexual - ocorre no interior dos testículos, parte do corpo que não é afetada. A única alteração resultante da vasectomia é o bloqueio da passagem dos espermatozoides, que deixarão de estar no sêmen ejaculado.
“Após a vasectomia, os espermatozoides continuam a ser produzidos, mas não são expelidos. Com o tempo existe um sinal dizendo para o organismo que não é mais necessário produzir espermatozoides, então ele para de produzir ou pelo menos vai diminuir bastante a produção”, completa o urologista.
Critérios
Segundo o médico, o procedimento não tem contraindicações e para que seja realizado basta o desejo do paciente e o atendimento aos critérios legais. De acordo com a Lei 14.443/2022, a partir dos 21 anos, homens e mulheres podem escolher pela esterilização voluntária. Se o interessado tiver idade inferior a 21, mas tiver dois filhos vivos, o procedimento também pode ser realizado.
Promulgada em março do ano passado, a legislação vigente dispensa o consentimento do cônjuge para a realização da vasectomia. Para evitar decisões impulsivas, a lei estabelece um prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade do paciente e a cirurgia. Além de atender aos critérios legais, quem for fazer vasectomia pela rede pública precisa fazer o cadastro por meio da secretaria municipal da cidade onde vive e inserir o nome no sistema da lista única do Estado, conforme informado pela Sesab.
"Após isso, o representante da Sesab entra em contato e faz o agendamento por ordem de cadastro, sendo que o paciente pode acompanhar a evolução da fila por meio de um link enviado a ele. Quando chega a vez dele na lista, primeiramente, é agendada uma triagem, em que o paciente é avaliado para ver se está tudo ok, com exames atualizados. Se não tiver, a própria unidade em que a triagem foi feita os realiza. Quando estiver tudo ok, a marcação da cirurgia é feita", explica a secretaria, em nota.
Modesto ressalta que o procedimento tem eficácia de 99% e curta duração, é feito com anestesia local e o paciente vai para casa no mesmo dia. “Antigamente fazia-se duas incisões, agora a gente faz uma só, de uns dois ou três centímetros no máximo, e por essa única incisão a gente já aborda os dois ductos e corta eles”, detalha.
Edema na bolsa testicular, hematoma, dor local, infecção e a abertura dos pontos são as ocorrências mais comuns no pós-operatório, elenca o especialista. Embora raras, existem duas complicações importantes: a recanalização do ducto e a dor crônica. Na primeira, ele destaca nunca ter acompanhado nenhuma ocorrência, embora essa possibilidade de retomada espontânea da fertilidade esteja descrita na literatura médica e tenha incidência estimada em menos de 1% das cirurgias.
A segunda complicação ressaltada pelo urologista tem incidência inferior a 2% e consiste na aparição de dor testicular crônica. "Essa dor muitas vezes só melhora com o uso de remédios mais fortes", alerta. Já a dor local do pós-operatório deve durar poucos dias, tanto que o paciente pode retomar a atividade sexual após cinco dias, em média. A prática de atividades físicas, a exemplo da musculação, geralmente é liberada em 30 dias.
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