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Programa dá mais qualidade de vida a renais crônicos

Iniciativa do governo estadual amplia repasse a clínicas e permite maior número atendimentos em hemodiálise

Publicado segunda-feira, 17 de julho de 2023 às 13:00 h | Autor: Da Redação
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Pelo menos três vezes na semana, Roni Deivid Costa tem um compromisso que ocupa quatro horas de seu dia: fazer hemodiálise. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ele e mais 8.894 pessoas que residem na Bahia precisam passar pelo tratamento que limpa e filtra o sangue através de uma máquina. Assim que termina o procedimento, Roni pode voltar para casa e estar junto de sua família. Essa jornada não foi sempre assim. Por um tempo, ele precisou ficar internado apenas por causa da hemodiálise.

Roni só teve a possibilidade de voltar para casa após iniciar o tratamento de forma ambulatorial. E o surgimento de uma vaga está diretamente ligado ao Programa de Cofinanciamento Estadual na  Atenção Especializada às Pessoas com Doença Renal Crônica. Lançado em março pelo governo do Estado, o programa está fazendo um incremento de 25% no valor repassado às clínicas de hemodiálise. 

De acordo com informações da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o valor por sessão de hemodiálise repassado pelo SUS às clínicas é de R$ 218,47. Com o incremento do Estado, o valor passa a ser de R$ 273,08. Ainda de acordo com a pasta, há também um incentivo financeiro, com incremento de 25% no valor, para a confecção de fístula arterio-venosa para hemodiálise, que é a ligação entre uma veia e uma artéria, feita para criar um acesso por onde será realizada a hemodiálise.

Um levantamento da Sesab aponta que, em apenas quatro meses, o programa já fez com que 227 pessoas pudessem passar a fazer a hemodiálise ambulatorialmente. A coordenadora da Comissão Estadual de Nefrologia, a médica Danusa Pamplona, explica que antes de começarem o tratamento em clínicas, estes pacientes necessitavam ficar internados para garantir o tratamento. “Eram pacientes que já estavam estabilizados, sem a necessidade de ficaram internados, ocupando leitos” afirma.

A secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, aponta que o programa tem impacto direto na regulação. “O investimento que estamos fazendo reflete no sistema estadual de regulação”, afirma. “Conseguimos liberar 227 vagas em hospitais. Para se ter uma ideia, são três vezes o total de vagas do Hospital Regional Piemonte do Paraguaçu. Mais importante que isso é poder estar devolvendo a possibilidade de cada um deles poder retornar para suas casas, estar junto das suas famílias, recebendo o apoio diariamente, sem ter que ficar dentro de um hospital”.

Qualidade de vida

Roni Costa conta que trabalhava como serralheiro quando descobriu que estava com a função renal comprometida. “Sentia um cansaço além do normal e os exames passados pela médica mostraram níveis alterados”, lembra. “Meu quadro acabou agravando, busquei uma UPA e acabei tendo de ser internado em uma UTI. Após ter melhorado e com condições de alta, precisei ficar cerca de 30 dias internado somente por conta da hemodiálise.” 

Ele comemorou quando pode ir para casa e continuar o seu tratamento ambulatorialmente. “Poder ir para casa depois da hemodiálise faz toda diferença”, avalia. “Mesmo com o bom atendimento que tive enquanto estava internado, o melhor é estar em casa com minha família. Tenho todo apoio de minha esposa e de minha filha.”

Para o presidente da Associação Renal Bahia, José Vasconcelos de Freitas, que é transplantado do rim, o Programa de Cofinanciamento Estadual na Atenção Especializada às Pessoas com Doença Renal Crônica reduz o sofrimento de muitas famílias. “A associação vê com bons olhos a iniciativa”, afirma. “Acredito que, com isso, vamos vencer mais uma dificuldade. Sem esse financiamento, seria impossível, os pacientes encontrariam as portas fechadas.”

Clínicas

O SUS é o responsável pelo financiamento de cerca de 90% dos tratamentos de pacientes em terapia renal substitutiva (TRS) no País. Esses tratamentos são oferecidos em grande parte por clínicas privadas credenciadas. De acordo com o vice-presidente regional da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), Maurício Cerqueira, o programa do governo baiano é um movimento bem-vindo. “É um olhar muito sensível para os pacientes em hemodiálise” afirma.

Ele explica que o incremento no recurso foi fundamental para manutenção do funcionamento e expansão de vagas em diversas clínicas. “Os nossos custos aumentaram”, argumenta. “Para mantermos a qualidade da assistência, precisamos sempre investir na manutenção das máquinas e na qualificação dos profissionais. Não conseguiríamos ofertar novas vagas sem um maior aporte.”

O vice-presidente da ABCDT, que também é sócio de uma clínica de hemodiálise em Camaçari, ainda aponta que seu serviço atualmente tem capacidade para 300 pacientes e em outubro deve chegar a 390. “Sem o programa, dificilmente isso seria possível”, declara

Preocupação com condições de acesso deixa tratamento viável

Responsável por avaliar e autorizar a inclusão de pacientes em unidades de hemodiálise, a Comissão Estadual de Nefrologia trabalha para garantir que todos os pacientes tenham as mesmas condições de acesso ao tratamento renal substitutivo. Para que o paciente seja direcionado para um serviço de saúde que tenha o recurso, a unidade hospitalar onde ele se encontra internado deverá encaminhar a solicitação pelo SISNEFRO, que é o sistema utilizado pela comissão para reunir todas as informações de pacientes e unidades executoras.

“Para aqueles pacientes que não estão internados, a solicitação deve ser feita por meio da secretaria municipal de saúde de onde ele reside”, esclarece a coordenadora da Comissão Estadual de Nefrologia, a médica Danusa Pamplona. De acordo com ela, é preciso que sejam apresentados alguns exames como hemograma, glicemia, ureia, creatinina, potássio, sódio e USG de rins e vias urinárias, além de um relatório feito por um médico nefrologista. “Esses procedimentos valem tanto para pacientes adultos quanto para os pediátricos”, pontua.

Segundo Danusa, o principal critério para a disponibilização de vaga é o local de atendimento. “A nefrologia é muito baseada na residência do paciente”, afirma. “A gente precisa ofertar o tratamento no local mais próximo da sua residência. Então, existe um desenho regional da rede de atenção ao paciente renal crônico, que referencia a diálise para cada município. Desta forma, o paciente que mora no oeste baiano, por exemplo, faz o procedimento na própria região.”

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