SAÚDE
Saiba o que é e como tratar Nevo Melanocítico Congênito
Por Dahiele Alcântara* | Foto: Arquivo Pessoal
Algumas pessoas têm sua própria marquinha única que cativa a gente, em alguns casos essa marquinha é literal. Como é o caso dos portadores do Nevo Melanocítico Congênito (NMC), popularmente chamada de pintas, sinais ou marcas de nascença. Mas na verdade, a mancha é uma doença que segundo os especialistas, atinge um a cada 20 mil recém nascidos.
O Nevo Melanocítico Congênito é um tumor benigno causado pelo acúmulo anormal de melanócitos após a formação do embrião. Este acúmulo extensivo está associado a uma mutação das células progenitoras dos melanócitos (que produzem melanina). Algumas pessoas nascem com o Nevo, em outras aparecem até os três anos. Mas há também casos raros em que o nevo surge de acordo com a exposição ao sol e fatores genéticos, entre os 5 e 25 anos do portador. Este são chamados de nevos melanocíticos adquiridos. O NMC não é hereditário, muito menos contagioso.
Classificação e risco a saúde
De acordo com o dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Carlos Barcaui, os NMC classificam-se em categorias: pequeno (menores de 1,5 cm), intermediários (entre 1,5 cm a 20 cm) e gigantes (que possuem diâmetro maior que 20 cm). O especialista alerta ainda que em alguns casos, o NMC pode evoluir para um melanoma, ou seja, um câncer de pele grave, que quando não tratado pode causar a morte. "A classificação auxilia no mapeamento do risco de evoluir para melanoma. Pequenos têm o risco de 0,7% enquanto os gigantes possuem 6% de chance de malignização ainda na primeira década de vida do portador", explica o médico.
Além do risco de malignização, em casos raros podem ocorrer a Melanocitose Neurocutânea (MNC), uma doença congênita neurológica caracterizada por agregações anormais de nevo melanócitos dentro do sistema nervoso central (melanocitose leptomeníngea).
Tratamento e sinais de alerta
Alteração de relevo, pigmentação, dor, sangramento ou surgimento de nódulos, são indicadores de que o médico deve ser procurado imediatamente. "Após o nascimento, a mãe deve levar o bebê ao dermatologista para que seja catalogado, medido, fotografado e acompanhado o desenvolvimento do NMC", alerta o doutor.
Não existe tratamento, nem nenhum creme ou loção clareadora que seja capaz de remover o nevo, a única forma de eliminação é por meio de intervenção cirúrgica com a retirada total do NMC.
Vivendo com nevos
Para a modelo e youtuber de 25 anos, Mariana Mendes, que exibe a marca que cobre parte de seu nariz, do olho direito e da bochecha direita, o NMC nunca foi um problema. Mariana ficou mundialmente conhecida quando um repórter britânico a encontrou pelo Instagram e percebeu que ela lida bem com a pinta. "Depois de viralizar no mundo todo essa entrevista, começaram a surgir trabalhos de modelo por causa de todo o meu discurso de aceitação e autoestima. Hoje eu amo o que faço e poder levar minha ideologia para milhares de pessoas de todo o mundo é incrível. "
Ela contou em entrevista ao Portal A TARDE que a criação que recebeu da mãe foi fundamental para a auto-aceitação. "Eu nunca me senti uma criança diferente. A forma que a minha mãe me criou tem tudo a ver com isso, porque em casa ela sempre foi muito aberta para falar sobre a minha pinta, sempre me perguntava como era na escola e nas situações da minha vida. E sempre que eu falava pra ela ou contava alguma situação ela lidava da melhor forma, sempre me explicando que eu sou normal e me tratando como uma criança normal", revela.
A youtuber afirma que não considera as perguntas indiscretas e comentários maldosos que ouviu ao longo da vida como bullying porque nunca deixou que isso a atingisse de forma que ela sofresse. "Eu sempre consegui separar os comentários como simplesmente a opinião da pessoa, mas a minha opinião sobre mim mesma sempre terá mais valor", declarou a mineira.
Ao ser questionada sobre a dificuldade de representatividade no meio da moda a modelo relatou que ainda é difícil marcas abrirem espaço para o diferente. "Estou batalhando nisso para quebrar um padrão de beleza social, nas revistas, na TV e em todos os lugares, porque faltam pessoas diferentes na mídia, para que todos se sintam representados. Se eu sou "incomum" é porque isso tem algum significado na minha vida, e hoje eu sei que é para eu poder levar a representatividade para as pessoas, para mostrar que podemos nos amar da forma que somos", conclui Mariana.
Para a auxiliar de serviços gerais, Patricia Souza, o segredo é não se importar com os olhares e perguntas constrangedoras. "Você deve se importar mais com você mesmo do que com o que os outros acham. Graças a Deus eu aceitei naturalmente. Em 40 anos eu nunca sofri bulliyng". Patricia revelou ao portal A TARDE que acha graça dos olhares e comentários e não se sente ofendida.
Lidando com filhos
Para a jovem mãe de 19 anos, Tifane Cerqueira, o nascimento de seu primeiro filho foi um pouco complicado. Gustavo nasceu com NMC gigante no lado esquerdo do rosto. "No começo foi difícil, eu não sabia o que era, fiquei bem assustada. Tive medo de ser algo grave". Logo após os primeiros dias de vida, Gustavo, de 1 ano, iniciou o acompanhamento médico e Tifane ficou conhecendo um pouco mais sobre o NMC.
A jovem relatou que ainda sofre com os comentários negativos. "Pior de todos foi uma mulher ter comparado ele com um lobisomem, fiquei muito triste, mas vou ensinar ao meu filho que o essencial e invisível aos olhos de quem vê", conclui.
*Sob supervisão da editora Lhays Feliciano
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