SURTO NA EUROPA
Sem casos no Brasil, varíola dos macacos é pouco contagiosa
Infectologista esclareceu dúvidas sobre a doença que tem crescido no mundo
Nas últimas semanas, a população brasileira passou a temer uma doença até então pouco comentada nas últimas décadas: a varíola. Com a infecção comum considerada erradicada há 40 anos por conta de uma extensa vacinação global, a chamada 'varíola dos macacos' está causando um grande surto na Europa e instigando os cientistas. No Brasil, os órgãos de saúde já monitoram e se preparam para ter casos da doença.
Em meio a notícias conflitantes sobre a possibilidade um novo surto, o Portal A TARDE conversou com a infectologista Clarissa Cerqueira, que esclareceu sobre as diferenças entre a varíola dos macacos e a varíola comum, sua forma de transmissão e como se proteger e evitar o contágio.
De acordo com a especialista, a varíola dos macacos apresenta uma letalidade menor do que a varíola comum, doença que antes de ser erradicada, causou mortes por centenas de anos. Apesar dos dois vírus pertencerem à mesma família de Orthopoxvirus, a doutora em infectologia apontou que um dos sintomas do responsável pelo atual surto é diferente.
"A varíola do macaco é diferente da varíola comum. Eu posso dizer que clinicamente a grande diferença perceptível é a questão dos linfonodos. Quem está [infectado] com varíola do macaco, em geral, ela dá íngua, aqueles linfonodos na região do pescoço. Na varíola comum, isso não acontece. Além disso, a letalidade dela é bem menor do que a comum", falou Clarissa Cerqueira.
O surto do vírus acontece enquanto a população ainda se recupera de ondas severas da pandemia de Covid-19, que gerou muito temor pela sua alta contaminação. No entanto, apesar de ser uma doença transmitida por gotículas, a varíola dos macacos apresenta transmissibilidade menor e necessita de um contato longo com a pessoa contaminada para ser disseminada.
"O vírus não é muito contagioso. Ele precisa de um contato mais próximo e prolongado para ocorrer a transmissão. Pessoas que moram na mesma casa, que tem o contato mais próximo com outra doente, profissionais de saúde que atenderam caso, que tenham contato mais próximo com o paciente. Não é simplesmente uma pessoa que passou perto por outra, cruzou o caminho, que vai pegar", explicou a doutora.
"A pessoa para se infectada precisa ter um contato mais próximo, mais íntimo para uma transmissão efetiva. Então não é só um rápido contato, tem que ser algo mais prolongado, por algumas horas. Isso que leva a transmissão e por isso que estão avaliando a questão da transmissão sexual, em que as pessoas tem um contato próximo com as secreções, com gotículas, com saliva da pessoa", acrescentou a infectologista.
A varíola comum foi a primeira doença erradicada da história há mais de 40 anos, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou seu fim em 1980, após uma bem-sucedida campanha de vacinação global. "A vacina da varíola funciona para evitar os casos da varíola, dos macacos", garante a médica.
A doença causa febre, desconforto corporal, fadiga, dores musculares e dor de garganta. A sua grande diferença é o surgimento de pústulas cutâneas (bolinhas na pele), que podem deixar cicatrizes visíveis na pele dos pacientes. O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar entre 5 e 21 dias. A versão da doença que causa o surto na Europa apresenta uma mortalidade entre 1% e 10%, de acordo com cientistas ouvidos pela BBC News Mundo.
Por conta do surto, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou a manutenção de algumas medidas que eram usadas no combate à covid-19 para evitar que o surto mundial de varíola dos macacos chegue ao Brasil. O órgão orientou o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento físico sempre que possível em aeroportos e aeronaves.
"O uso de máscaras e distanciamento são medidas que servem para reduzir a transmissão porque é uma doença transmitida pelo contato e por gotícula. Então você mantendo o distanciamento e reduzindo o contato com gotícula, consegue reduzir a transmissão da doença. Tem que ficar vigilante para o aparecimento dos casos. Nessa doença, os casos suspeitos devem ser investigados e seus contatos. Uma vez que identifica uma pessoa que tem a varíola do macaco, aí tem que investigar as pessoas próximas que ela teve contato para tentar cortar a cadeia de transmissão da doença", opinou Clarissa.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes