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Serviço gratuito do SUS auxilia casais com dificuldades para ter filho

Trabalho inovador do Sistema Único de Saúde muda vida de quem deseja gerar uma criança

Publicado domingo, 05 de maio de 2024 às 07:12 h | Autor: Da Redação
Sede do Hospital da Mulher no Largo de Roma
Sede do Hospital da Mulher no Largo de Roma -

Em meados de 2019, o sonho da maternidade bateu à porta da técnica de enfermagem Rejane Dias. Aos 27 anos, a moradora de Salvador e o seu parceiro decidiram que gostariam de ter um filho, mas o que eles não imaginavam é que o caminho seria repleto de dificuldades. Ao longo de dois anos como tentante – termo usado para a mulher que tenta engravidar – , Rejane sofreu três abortos espontâneos e uma gravidez ectópica, quando o óvulo fertilizado é implantado fora do útero. “Foram anos de muita tristeza e sofrimento”, lembra. “Depois da gravidez ectópica, precisei retirar uma das trompas, o que acabou dificultando ainda mais o processo”.

Em uma das idas ao posto de saúde do seu bairro, Rejane recebeu o encaminhamento para o Serviço de Reprodução Humana do Hospital da Mulher Maria Luzia Costa dos Santos, o ‘Hospital da Mulher’, unidade da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) localizada em Salvador que atende 100% via Sistema Único de Saúde (SUS). “Comecei o tratamento com meu parceiro, fizemos todos os exames e tivemos a sorte de encontrar médicos que nos acolheram com muito carinho e cuidado”, lembra.

Depois de muitos exames, medicações, orientações e até mesmo frustrações pela demora em conseguir engravidar, a técnica de enfermagem recebeu a notícia que mais esperava: o tratamento tinha dado certo e Rejane deixava de ser uma tentante e se tornava uma futura mamãe. Hoje, com a pequena Isabela Vitória, de 4 anos, a técnica de enfermagem agradece por ter conhecido o serviço do Hospital da Mulher.

“Fui uma tentante por muito tempo e falo com toda certeza para as mulheres que estão na mesma condição: conheçam o serviço do Hospital da Mulher”, sentencia. “Encontrei um atendimento muito acolhedor e me surpreendeu demais tudo isso ser oferecido pelo SUS. A gente tem direito, sim, de tentar, de correr atrás do nosso sonho de ser mãe. A mensagem que eu deixo é para que as mulheres que estão tentando não percam a esperança”.

Infertilidade

Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Reprodução Assistida mostrou que o caso de Rejane é mais comum do que parece. De acordo com o estudo, a infertilidade conjugal afeta de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva no mundo. No Brasil, cerca de 8 milhões de pessoas podem ser inférteis ou terem dificuldade para engravidar. Desde que o pioneiro Serviço de Reprodução Humana do Hospital da Mulher foi implantado, em 2017, mais de 22 mil atendimentos multidisciplinares já foram realizados pelo SUS. Somente nos primeiros meses de 2024, cerca de 500 atendimentos ambulatoriais foram feitos, assegurando assistência às baianas que têm o sonho de gerar uma criança.

Diretora-médica do Hospital da Mulher, Jamile Martins destaca que, entre os serviços oferecidos, estão a realização de exames como ultrassons, medição de taxas hormonais e a realização de procedimentos mais delicados, como o que proporciona uma visão detalhada do interior do útero, chamado de histeroscopia. “Nosso ambulatório de reprodução é o que chamamos de média complexidade, ou seja, o paciente vai ter acesso a um médico especialista na área de reprodução humana, o que é extremamente difícil de ser assegurado através do SUS”, explica Jamile. “A partir disso, partimos para a etapa da realização de exames para identificarmos causa da infertilidade e tratamento”.

Como as causas da infertilidade podem ser femininas, masculinas ou de ambos, o tratamento do Serviço de Fertilidade é direcionado ao casal, oferecendo acompanhamento e exames para ambos, como explica a ginecologista do Hospital da Mulher e especialista em reprodução humana, Tirza Ramos. “Esse acompanhamento interdisciplinar é dado aos casais que querem engravidar e inclui consultas, diagnóstico e até medicações, com o objetivo de ter sucesso no processo de reprodução humana no âmbito da média complexidade”, afirma a especialista.

Acompanhamento

O Serviço ainda não realiza exames mais elaborados como espermograma, um dos parâmetros para analisar a fertilidade masculina. “Apesar de não oferecermos tratamento de alta complexidade, como fertilização in vitro e inseminação artificial, conseguimos obter ótimos resultados através do acompanhamento e tratamento ambulatorial e multidisciplinar”, explica Tirza.

“Por exemplo, caso a infertilidade seja causada por endometriose, nós conseguimos fazer essa cirurgia aqui e depois realizar todo esse acompanhamento”, detalha a diretora-médica da unidade. “Cada caso é um caso, para a reprodução existem vários fatores envolvidos. Mas conseguimos chegar a essa conclusão do motivo dela não estar engravidando e dar esse direcionamento.”

Tratar de endometriose ajuda jornada das tentantes

Muitas vezes, o caminho das mulheres tentantes também acaba cruzando com o Serviço de Endometriose do Hospital da Mulher, o que faz com que os centros trabalhem em comunhão.

Na Bahia, dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) apontam que cerca de 10% das baianas em idade fértil convivem com a doença, causada pela formação anormal do endométrio, camada que reveste o útero. Nos casos de endometriose, as células do endométrio não são expelidas como deveriam na menstruação e caem na cavidade abdominal, podendo se instalar em diversos órgãos, como intestino, bexiga e ovários, causando dores intensas.

Desde 2017, o Serviço já realizou mais de 10 mil procedimentos por meio de atendimento multidisciplinar e integrado, que garante ao paciente todo o acompanhamento necessário. No Serviço de Endometriose do Hospital da Mulher, as pacientes têm acesso a exames como ressonância ou laparoscopia, que permitem identificar o grau de evolução e assim definir o tratamento adequado à paciente. “O acesso ao Serviço de Endometriose do Hospital da Mulher é feito por meio da Central Estadual de Regulação ou por encaminhamento de pacientes que já são atendidas na unidade”, detalha o coordenador do serviço, o ginecologista Heron Cangussu.

Regulação

“A paciente atendida pela atenção primária é encaminhada para a Central de Regulação da Sesab e, chegando no Hospital da Mulher, ela é acolhida pela equipe de ginecologia, que vai aprofundar a investigação solicitando ressonância, ultrassom ou outros exames feitos no próprio HM e que vão nortear esse diagnóstico”, destaca o coordenador. “A partir daí, vão propor o tratamento clínico ou a necessidade de cirurgia, ambos oferecidos na própria unidade”,

Em tratamento há cerca de um ano, a cozinheira Luíza Santos, de 39 anos, aguarda pela próxima consulta no Serviço de Reprodução do HM, agendada para o final de maio. “A ansiedade é grande, né? Mas tenho fé que vou conseguir”, acredita.

Para ter acesso ao serviço do Hospital da Mulher, Luíza precisou ser encaminhada pela Atenção Primária, ou seja, após o atendimento na Unidade Básica de Saúde de Lauro de Freitas, onde reside. “Fui até o posto de saúde, contei minha história, mostrei os exames que já tinha e recebi o encaminhamento para o Hospital da Mulher”, conta a cozinheira. “Na primeira consulta, a médica já me pediu novos exames e agora espera que seja possível identificar qual o meu problema.”

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