PREVENÇÃO
Vacinação contra dengue na Bahia deve acelerar a partir de hoje
Primeiro lote contempla 44 dos 115 municípios definidos pelo Ministério da Saúde
Por Jane Fernandes
Após uma abertura com procura relativamente baixa, a vacinação contra a dengue em Salvador deve engrenar a partir de hoje - pelo menos esta é a expectativa da gestão da área de Saúde. Na capital baiana, o imunizante começou a ser aplicado na última sexta-feira, um dia depois de Feira de Santana, que vacinou 490 crianças em 48 horas. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), as doses recebidas até o momento estão sendo destinadas a 44 municípios entre os 115 definidos pelo Ministério da Saúde.
As cidades baianas para as quais a pasta direcionou as 120.108 doses já recebidas pelo Estado compõem as regiões de saúde de Salvador, Feira de Santana e Camaçari. A coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), Vânia Rebouças, conta que até o final da semana passada, apenas alguns municípios contemplados tinham feito a retirada dos imunizantes na central de distribuição.
Com maior concentração de casos graves, o público entre 10 e 14 anos foi definido como prioritário pelo Ministério da Saúde, em sintonia com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o combate à doença.
De acordo com Vânia, a disponibilidade ainda restrita do imunizante - fabricado por apenas um laboratório – levou o ministério a fixar uma faixa etária ainda menor para a aplicação das primeiras doses enviadas aos estados: 10 e 11 anos. São duas doses, com intervalo de três meses entre elas. “A gente só vai ter uma proteção mais significativa para essa população a partir do mês de junho. Então, a gente não vai perceber mudança no cenário epidemiológico neste momento”, ressalta.
Em Feira de Santana, a vacina foi destinada a crianças e pré-adolescentes de 10 a 14 anos nos postos da cidade desde o início da aplicação, na última quinta-feira, conforme a assessoria da Secretaria de Saúde. Com 127 casos registrados este ano, o município programou vacinação durante o final de semana, incluindo uma caravana no distrito de Maria Quitéria.
Com previsão de retirar as vacinas hoje e iniciar a aplicação depois de amanhã, Camaçari registrou 71 casos prováveis de dengue entre 1º de janeiro e 16 de fevereiro, segundo a assessoria da Secretaria de Saúde do município. A nota destacou que “esse número pode ser maior, uma vez que muitas pessoas com suspeita da doença não vão à unidade de saúde ou ao hospital”.
Sem filas nos postos
Mesmo considerando que parte da população de Salvador ainda estava se recuperando do Carnaval quando a vacinação começou, as mães ouvidas por A TARDE no 5º Centro de Saúde (Barris) ficaram surpresas com a ausência de fila. Daiane Andrade já estava pensando em levar Gustavo, de 10 anos, para ser vacinado na rede privada, então não perdeu tempo quando o imunizante ficou disponível no SUS.
Gustavo teve dengue há cerca de dois anos, enquanto o irmão mais velho, de 13, contraiu a doença no ano passado. Nenhum dos dois desenvolveu um quadro grave, mas ela ficou ainda mais alerta para a importância de garantir a proteção. Agora, sua expectativa é pela liberação da vacina para a faixa etária do outro filho.
Cláudia Azevedo esperava encontrar uma fila grande e acabou entrando direto na sala de vacinação com Davi, de 11 anos. “É um apelo de mãe: vacinem seus filhos. Muitas doenças e consequências podem ser evitadas”, enfatizou. Moradora da Graça, ela contou que não houve casos na sua família e que também não tem conhecimento de episódios de dengue na vizinhança, mas considera que vacinar é necessário, independentemente desses dados.
Fechando o primeiro dia com 780 crianças de 10 e 11 anos vacinadas, a secretária da Saúde e vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, considerou que o resultado foi positivo, “principalmente porque foi um dia muito mais de sensibilização, de conversa com as famílias”. Ela disse ainda que a gestão municipal está se preparando para adotar outras estratégias como vacinação nas escolas e, eventualmente, em drives.
Imunizante Qdenga está em falta
Atualmente, a vacina batizada de Qdenga não está disponível na rede privada de Salvador. No Sabin Diagnóstico e Saúde, a assessoria informou que a venda foi suspensa devido à indisponibilidade de fornecimento pelo fabricante. O infectologista Marcelo Cordeiro, que integra a equipe, explica que o imunizante previne cerca de 80% dos casos gerais de dengue e reduz em mais de 90% a hospitalização. A vacina foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março do ano passado para uso entre a faixa etária entre 4 e 60 anos. A Qdenga é o primeiro imunizante contra a dengue aprovado para um público amplo no Brasil, pois o anterior (Dengvaxia) era indicado apenas para quem já havia tido a doença.
Cidades com epidemia e sem vacina
Bonito, Novo Horizonte, Piatã, Morro do Chapéu, Lajedão, Rodelas, Macaúbas, Jacaraci, Piripá, Encruzilhada, Cordeiros, Vitória da Conquista e Ipiaú são os 13 municípios baianos com epidemia de dengue, mas nenhum deles foi contemplado pelo Ministério da Saúde nos dois lotes enviados para o Estado. Ainda sem previsão, as próximas remessas serão direcionadas às regiões de saúde de Ilhéus, Itabuna, Jequié e Barreiras.
Nem todos os municípios em epidemia apontados pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) tem vacinação prevista na programação atual do Ministério da Saúde, incluindo a região de saúde de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano.
Segundo a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações da Secretaria da Saúde (Sesab), Vânia Rebouças, inicialmente o ministério fez um ranking nacional apenas com municípios de maior porte, mas depois incluiu toda a região de saúde à qual cada um deles pertence. Entre os critérios considerados estão o número de casos registrados em 2023 e a circulação do sorotipo 2 no ano passado.
Apesar dos 13 municípios em epidemia e dos oito em alerta, Vânia ressalta que o cenário epidemiológico do Estado neste início de 2024 é de queda. A ponderação é confirmada pelos boletins de arboviroses até 6 de fevereiro, que mostram uma redução 11,8% no número de casos prováveis quando comparado com o mesmo período de 2023, passando de 4.614 para 4.068 registros.
Duas mortes por dengue foram confirmadas pela Sesab na última quinta-feira, incluindo a de uma criança de 5 anos, e um terceiro óbito está sob investigação. No primeiro semestre de 2023, nove pessoas morreram em decorrência da dengue na Bahia.
Gravidade
O risco de morte surge quando o paciente desenvolve dengue grave, antigamente chamada de dengue hemorrágica, explica o infectologista Marcelo Cordeiro, do Sabin Diagnóstico e Saúde. “A dengue é causada por um vírus que tem quatro sorotipos distintos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. A infecção por qualquer um desses sorotipos pode resultar em um espectro de doenças, que vão desde sintomas leves até formas graves”, completa.
Segundo o médico, existem estudos apontando um risco aumentado de ter dengue grave quando ocorre uma infecção secundária - ou seja, um paciente já infectado por um sorotipo do vírus causador da doença acaba sendo contaminado novamente por outro sorotipo. “Alguns estudos sugerem que o DENV-2 e o DENV-3 podem estar mais frequentemente associados a doenças mais graves, mas isso pode variar entre diferentes populações e regiões geográficas”, ressalta.
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