SAÚDE
Zoofobia é considerada algo 'natural', mas deve ser tratada
Por Gisele Souza*

O medo é uma das características inerentes aos seres humanos, que leva a ativar o sistema de defesa a algo que representa perigo, sendo baseado na ideia de sobrevivência. Contudo, a acentuação dessa emoção leva à fobia, com um caráter mais irracional e que faz o indivíduo perder o controle sobre as próprias ações.
Entre elas está a zoofobia, que é mais comum do que se imagina, mas ainda é pouco mencionada e alertada, ao passar despercebida como algo 'natural', como explica a psicóloga Fernanda Santiago. Essa fobia específica se refere ao excesso do medo de determinados animais - fazendo com que a convivência com eles seja evitada -, que pode ainda desencadear casos mais graves, acentuando sintomas apenas em imaginar estar no mesmo ambiente do animal.
Alguns sintomas comuns são: ataque cardíaco, desmaios, sudoreses, falta de reação, perca de funcionalidade, tontura, respiração acelerada, tremores e congelamento dos movimentos. “Com esses sintomas, a gente entende que não há mais um processo de medo, mas a pessoa já está diante de um quadro fóbico”, alerta a psicóloga.
A especialista conta que a fobia causa o sentimento de repulsa no indivíduo, e o medo passa para o estágio de um exagero, tornando-se necessária a busca por uma ajuda psicológica e, em alguns casos, por intervenção medicamentosa recomendada por um psiquiatra. Além disso, como as pessoas mais afetadas pela zoofobia são os adultos, pois ela é caracterizada pela passagem do tempo, a idade impacta na complexidade do caso e do processo.
Não há dados concretos sobre quantas pessoas sofrem das fobias de animais, ou quais os motivos. No entanto, de acordo com a especialista em neuropsicologia, a causa mais comum é relacionada à infância, pois é natural a criança ter medo de um animal, como barata e aranha, por exemplo. Mas, quando esse medo apresenta exagero, em razão de histórias e comentários contados, o indivíduo começa a desenvolver a fobia.
A pedagoga Ana Clebia Abreu, 40 anos, acredita que pode ter desenvolvido fobia a cobra, intitulada de herpetofobia, ainda na infância. Sem nenhuma situação negativa em relação ao animal, ela analisa que o possível início da aversão pode ter se dado pelos comentários sobre espinhos de cobra.
Como ela não costuma ver o animal pessoalmente, os vídeos já causam para Ana os piores sentimentos. “Medo, nojo e pavor”, descreve alguns deles. Contudo, ela não buscou ajuda até então, mesmo obtendo consciência de não ser algo natural.
“Talvez por ser um animal que não é tão comum eu encontrar, de certa forma me tranquiliza. Mas sei que não é comum nem natural o medo em excesso, então busco de alguma forma o equilíbrio para, se me deparar com uma situação desse tipo, não entrar em pânico”, informa.
A psicóloga Fernanda Santiago alerta que a ajuda profissional contribui para que esses casos sejam minimizados, visto que a completa superação da zoofobia é um processo mais difícil e é dependente de cada especificidade e do tipo de animal. “Precisamos levar em consideração se houve na história daquele sujeito uma experiência negativa com o animal ou qual o contexto que aquela pessoa vive”, menciona, ao dizer que não validar a fobia tende a agravá-la.
Ela explica que muitas pessoas possuem essa fobia sem nenhum tipo de fundamentação racional. Nesse caso, o ser humano desenvolve a zoofobia sem nunca sequer ter obtido vivência ou evento traumático com o animal, se baseando apenas no que ouve falar. Porém, o mais comum é que a fobia seja desenvolvida em pessoas que obtiveram contato negativo com o animal.
Os animais mais frequentes nas menções em relação a essa fobia são cobras, aranhas, abelhas e pássaros, no qual para cada um destes há uma intitulação, espécie de categoria dentro da zoofobia. Mas se engana quem pensa que esses são os únicos. Há pessoas que apresentam medo excessivo, inclusive, de animais domésticos, como cachorros e gatos.
O historiador Viktor Suvorov, por exemplo, acredita que o líder nazista Adolf Hitler sofria de zoofobia - neste caso de cinofobia, ou a aversão a cães -, e que apenas se aproximada de cachorros para fins de propaganda, visto que um cão de raça se alinhava com a imagem que ele queria passar.
Para a psicóloga, a fobia desencadeada em relação aos animais domésticos são casos raros e que, em sua maioria,conseguem resposta mais eficaz com o tratamento. “A gente consegue fazer um processo de dessensibilização para que o indivíduo vá criando estratégias de enfrentamento desse medo e consiga estabelecer o mínimo de racionalidade diante desse sentimento”, analisa.
Processo de dessensibilização
O processo de dessensibilização, conforme técnicas utilizadas na psicologia cognitiva comportamental, é o contrário do afastamento do animal doméstico, ou seja, é baseado na aproximação, para contribuir na superação da zoofobia. Já quanto aos animais silvestres, essa medida é mais difícil, pois não é possível se aproximar do animal, no qual essa ação poderia potencializar o quadro fóbico.
As mulheres estão dentre as mais atingidas pela zoofobia. A faturista Fabiana Carneiro, 43 anos, convive com a aracnofobia - a fobia de aranha - e nunca procurou ajuda de especialista, embora reconheça que não deve tratar este fato como algo natural. O desenvolvimento desta zoofobia começou na casa dos avós, por ser um imóvel sem forro e que possibilitava a visualização das telhas com os insetos, com predominância das aranhas.
“Tenho mais medo quando a aranha está próxima e sinto mais medo ainda ao dormir e imaginar que ela possa estar escondida entre os lençóis. Possuo a sensação de que é algo invisível, que pode me atacar a qualquer momento, sem que eu perceba”, comenta.
Medo ajuizado
O simples medo ajuizado de animais que, de fato, representam perigo à espécie humana, não pode ser relacionado a zoofobia, conforme a especialista. “Se for um medo dentro do espectro que utilizamos com relação à sobrevivência humana, não [pode ser associado à fobia], pois a cobra representa uma ameaça, então é um medo natural e instintivo, o que preserva a nossa espécie”.
O que se torna complicado é quando esse medo foge do controle, “quando se apresenta de uma maneira exacerbada e exagerada, aí a gente pode falar de um processo de zoofobia”, salienta.
*Sob supervisão da editora Thaís Seixas
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