TURISMO
O glamour está de volta ao Copa

Por JORNAL A TARDE
História de uma época de ouro faz do Copacabana Palace uma síntese do antigo prestígio internacional do Rio
Um hotel que inaugurou a praia, e não a praia que descobriu o hotel. Esta frase traz uma revelação que tem muito a ver com o Rio de Janeiro dos dias de hoje, com sua transformação urbana e social. Dita por Maneco Müller o famoso Jacinto de Thormes , no prefácio do livro Copacabana Palace Um hotel e sua história, do jornalista Ricardo Boechat, ela soa, no mínimo, curiosa. Por dizer muito da cidade cosmopolita que influenciou a moda de um 0país inteiro e tem nas suas praias uma das paixões do seu povo, os cariocas.
Pois é. Lá pelos idos de 1922, quando o hotel ainda estava em construção, Copacabana não passava de uma promessa de bairro. Tudo ali era ermo; salvo algumas casas de veraneio, só havia as montanhas e o mar. Assim, o projeto de construir ali um hotel nos moldes dos existentes nas mediterrâneas Nice e Cannes tinha um quê de fantasioso para a época.
Ninguém acreditava que aquilo desse certo. A não ser o seu idealizador, Octávio Guinle, homem de negócios e apaixonado pela hotelaria, que se dispôs a atender a uma sugestão do então presidente Epitácio Pessoa. Desafios à parte, o empreendimento estava fadado a mexer com os costumes provincianos da cidade, sendo oportuno lembrar que a elite carioca à época não cultivava o hábito de tomar banho de mar... uma coisa pouco civilizada.
Na verdade, o Rio vivia longe do mar. A paisagem marinha contava pouco no contexto urbano da então capital do Brasil. No seu livro, Boechat observa que entre os ricos, banhar-se no mar e esticar-se na areia eram atividades tão incomuns que muitos atribuem a uma estrangeira Sara Bernhardt o título de primeira banhista ilustre do Rio de Janeiro.
SACRILÉGIO De fato, em 1886, em pleno Brasil Império, a artista francesa de renome internacional desembarcou no Rio para apresentar os espetáculos Froufrou e A Dama das Camélias, no Teatro São Pedro. Por curiosos, os relatos do autor de Copacabana Palace merecem constar deste rápido flash-back do Rio antigo: Dias depois, a atriz chocaria toda a Corte com os trajes de banho que usou na longínqua Praia de Copacabana, onde passou horas sentada na areia, contemplando o horizonte.
Lembra ainda o autor que Sara Bernhardt cometeu outro sacrilégio, mergulhando, após as 7 horas da manhã, coisa inaceitável à época. Quem diria... Tempos em que o sol e o mar não eram coisas da moda. E muito menos os banhos de água salgada, justificáveis apenas se tivessem fins terapêuticos, mesmo assim tinham que ser tomados somente pela manhã cedo. Boechat textualiza assim a sociedade carioca da época: Bronzear a pele era considerado não só hábito danoso à saúde, mas também forma de adquirir as cores do povo, do qual a elite procurava distinguir-se.
É com este interessante contraponto aos modismos de hoje que se cultiva a legenda do Copacabana Palace. Ali está, de certa forma, tombada, uma tradição dos cariocas: a paixão pela vida ao ar livre. Os banhos de mar e de sol. O hotel, lá pela metade do século XX, era o referencial do Brasil no exterior, justamente por ter aberto suas portas para os prazeres dos trópicos. Octávio Guinle estava certo com seu pioneirismo.
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