CARNAVAL 2024
Público LGBTQIAPN+ está cada vez mais presente nos blocos de Salvador
O que antes era limitado apenas à Praça Castro Alves se expandiu significadamente para o circuito Barra-Ondina
Por Silvânia Nascimento
Quem acompanha o Carnaval de Salvador, seja presencialmente, pela televisão ou outros meios de comunicação, com certeza já deve ter notado o aumento significativo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e travestis, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais e Não binários (LGBTQIAPN+) nos circuitos da festa.
E não! Não é impressão, a presença em massa desse público realmente tem sido cada vez maior no evento carnavalesco, principalmente em blocos que, por muitos anos, foram formados, na sua maioria, apenas por heterossexuais.
E, sem dúvidas, ninguém melhor do que integrantes e representantes da comunidade LGBTQIAPN+ para comentar sobre esse assunto. Para a produção desta matéria, o Portal Massa! bateu um papo com Renildo Barbosa, presidente Pro Diversidade e coordenador estadual da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas (Abrafh). Também participou da entrevista, Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Para Renildo, esse crescimento do público LGBTQIAPN+ na maior festa de rua do planeta pode ser atribuído a vários fatores que vão desde a abertura à comunidade até a resistência. “Sempre tivemos, na Castro Alves, blocos que deram a origem ao carnaval e que tinham transexuais desfilando. É que a geração atual talvez não saiba, e os historiadores esqueceram de contar. Mas hoje, a presença de artistas como Pablo Vittar, Daniella Mercury, Anitta, Aila Menezes e outros, que fazem parte e apoiam a comunidade têm contribuído pra essa presença no carnaval”, disse.
A união da comunidade em exigir e questionar a forma de atuação do poder público também tem fortalecido o movimento. Durante a entrevista, Renildo pontuou algumas iniciativas e órgãos criados exclusivamente para eles. "Hoje temos o Observatório da Discriminação Racial e LGBT, a Superintendência de Prevenção à Violência (Sprev), que também nos apoia, Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid), e outros", lembrou Renildo.
A tendência é essa presença se tornar ainda maior
No bate-papo com Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, ele destacou a expansão da comunidade LGBTQIAPN+ que, por muito tempo, foi limitado à Praça Castro Alves. “A presença gay, apesar de ser antiga no Carnaval de Salvador, se restringia a locais específicos durante a folia, ao exemplo da Praça Castro Alves, e a alguns bailes que existiam, como o baile de Oxum, em um hotel da cidade. A homofobia do passado empurrava os gays para esses locais", pontuou Marcelo.
"Tudo tem início quando Daniela Mercury desce para a Barra. E claro, os gays foram atrás da Rainha, se instalaram entre a Rua Dias D’Ávila e o Camarote de Daniela, e foram chegando mais e ocupando a Rua Marques de Leão. A Barra já tinha uma presença gay no cotidiano e no Carnaval foi elevada ao ápice", relatou Marcelo ao lembrar o pontapé inicial pra presença massiva desse público no carnaval da capital baiana.
Pink Money segue em alta
A famosa expressão pink money ('dinheiro rosa') usada para remeter ao crescimento populacional e econômico da comunidade gay, tem feito cada vez mais sentido.
Se há alguns anos, o público gay era mais visto no Carnaval do Campo Grade, nos tempos atuais, o cenário é outro. Nos tradicionais blocos que desfilam no circuito Barra-Ondina, como o Crocodilo, Coruja, Largadinho e Os Mascarados, também já é possível encontrar essa comunidade de maneira bem predominante.
Entretanto, segundo Renildo, na maioria dos casos, existe uma diferença no poder aquisitivo das pessoas LGBTQIAPN+ que frequentam o Campo Grande e a Barra-Ondina. "Uma parte dessa expansão se dá ao crescimento econômico. O centro é considerado como mais acolhedor, tem diferentes segmento sociais, tem os Filhos de Gandhy, os Afoxés (porque o candomblé acolhe essa comunidade, mesmo com as suas ressalvas) e são blocos que têm muitos gays e negros", pontuou.
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