José Ro­nal­do, o fenô­me­no de Feira | A TARDE
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José Ro­nal­do, o fenô­me­no de Feira

De­sem­pe­nho do político nas elei­ções não tem pre­ce­den­te nas ou­tras gran­des ci­dades bra­si­lei­ras

Publicado quinta-feira, 25 de abril de 2024 às 11:42 h | Atualizado em 25/04/2024, 11:46 | Autor: Pedro Menezes*
José Ronaldo, prefeito de Feira de Santana 4 vezes
José Ronaldo, prefeito de Feira de Santana 4 vezes -

O re­sul­ta­do da elei­ção pra pre­fei­to de Fei­ra de Santa­na foi o mes­mo em 2000, 2004, 2012 e 2016: José Ro­nal­do ven­ceu em pri­mei­ro tur­no com mais de 60% dos vo­tos. Ne­nhum ou­tro bra­si­lei­ro tem um his­tó­ri­co se­melhan­te numa das 50 mai­o­res ci­da­des do Bra­sil. Outros ven­ce­ram 4 elei­ções mu­ni­ci­pais nes­sas gran­des ci­da­des, mas ne­nhum ven­ceu tan­tas com tan­ta fol­ga num pe­río­do tão cur­to. É um fenô­me­no sem pre­ceden­te.

Ou­tros de­ta­lhes tor­nam a his­tó­ria de José Ro­nal­do ain­da mais úni­ca: ele nun­ca per­deu uma elei­ção majo­ri­tá­ria em Fei­ra. Até na elei­ção pra  go­ver­na­dor em 2018, quan­do Rui Cos­ta go­le­ou José Ro­nal­do por 76% a 22%, o ex-pre­fei­to re­ce­beu a mai­o­ria dos vo­tos de Fei­ra e se­ria elei­to em pri­mei­ro tur­no se só os fei­ren­ses vo­tas­sem.

Como se não bas­tas­se, José Ro­nal­do será can­di­da­to a pre­fei­to em 2024 e li­de­ra nu­me­ri­ca­men­te a primei­ra pes­qui­sa Atlas / A Tar­de, ape­sar de es­tar tecni­ca­men­te em­pa­ta­do com Zé Neto, can­di­da­to do PT. Tudo in­di­ca que a elei­ção des­se ano será o de­safio mais di­fí­cil que o ex-pre­fei­to de Fei­ra já en­frentou.

José Ro­nal­do re­nun­ci­ou à Pre­fei­tu­ra pou­co mais de um ano após o iní­cio do seu quar­to man­da­to, ini­ci­ado em 2017. Na elei­ção de 2018, o gru­po po­lí­ti­co dele era po­pu­lar en­tre os fei­ren­ses. Em 2020, o então pre­fei­to Col­bert Mar­tins ven­ceu por 55% a 45% no se­gun­do tur­no, uma van­ta­gem pe­que­na, in­fe­ri­or a 30 mil vo­tos.

De­pois de se en­ga­jar na cam­pa­nha do seu ex-vice em 2020, José Ro­nal­do tem um pro­ble­mão em 024: a pes­qui­sa Atlasintel/A Tar­de in­di­ca que 72% dos elei­to­res fei­ren­ses re­pro­vam o de­sem­pe­nho de Colbert. Ape­nas 15% apro­vam. O fei­ren­se está in­fle­xível: a Atlas / A Tar­de per­gun­tou so­bre o de­sem­penho do pre­fei­to em vá­ri­as áre­as e a re­pro­va­ção se man­tém em to­das.

Em 2012, José Ro­nal­do su­pe­rou a im­po­pu­la­ri­da­de de Tar­cí­zio Pi­men­ta, pre­fei­to elei­to com seu apoio em 2008. A di­fe­ren­ça é que ele bri­gou com Tar­cí­zio e ven­ceu a elei­ção de 2012 como can­di­da­to de oposi­ção. Em 2024, o jei­to tem sido es­con­der Col­bert Mar­tins e apos­tar na his­tó­ri­ca re­la­ção de José Ronal­do com o elei­tor fei­ren­se.

O pe­tis­ta Zé Neto, can­di­da­to der­ro­ta­do no se­gundo tur­no de 2020, vai ten­tar aqui­lo que nin­guém con­se­guiu: ven­cer um dos mai­o­res fenô­me­nos da his­tó­ria elei­to­ral bra­si­lei­ra.

O re­cor­de de José Ro­nal­do não é uma mera cu­ri­o­sida­de, nem é uma in­for­ma­ção re­le­van­te ape­nas para en­ten­der as elei­ções des­se ano. É im­por­tan­te ter um olhar crí­ti­co so­bre esse fato, seja qual for a conclu­são: José Ro­nal­do é tão bom a pon­to de jus­ti­fi­car tão pou­ca al­ter­nân­cia de po­der?

Não sei. Os fei­ren­ses que se de­ci­dam. Sen­do fo­rastei­ro, me li­mi­to a apon­tar que a his­tó­ria de José Ronal­do em Fei­ra não é nor­mal. Li­te­ral­men­te, não é a nor­ma. Sei que é uma ve­lha re­a­li­da­de com a qual os fei­ren­ses já se acos­tu­ma­ram, e jus­ta­men­te por isso es­cre­vo este tex­to. É im­por­tan­te re­co­nhe­cer esse fenô­me­no sem pre­ce­den­te na po­lí­ti­ca bra­si­lei­ra.

Nor­ma­li­zar uma his­tó­ria tão ex­cep­ci­o­nal é, além de tudo, um des­res­pei­to à cul­tu­ra da se­gun­da mai­or cida­de da Bahia, cuja tra­di­ção co­mer­ci­al per­mi­te que lá se en­con­tre de tudo, es­pe­ci­al­men­te o que é inu­sita­do e pe­cu­li­ar. Hon­ran­do a fama, Fei­ra tem seu pró­prio Ro­nal­do fenô­me­no. Ele é po­lí­ti­co, ain­da joga e fará his­tó­ria em 2024, seja qual for o re­sul­tado da elei­ção.

*Pedro Menezes é economista e analista político

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo A TARDE

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