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CINEMA CENTENÁRIO

Com lotação frequente, Cine Glauber Rocha tem futuro otimista

Cineinsite conversou com o cineasta Cláudio Marques e o crítico Adolfo Gomes sobre legado e desafios do cinema

Por Edvaldo Sales*

16/09/2023 - 9:00 h
Fachada do Cine Glauber Rocha
Fachada do Cine Glauber Rocha -

Em 16 de setembro de 2021, o triste anúncio de que o Cine Glauber Rocha iria fechar causou comoção entre a comunidade cinéfila de Salvador. Na época, o Núcleo Itaú Cultural, que tinha parceria com o equipamento, alegou uma taxa de ocupação baixa.

>>> Veja as sessões de filmes do Cine Glauber Rocha

Pouco tempo depois, em novembro do mesmo ano, época do Panorama Internacional Coisa de Cinema, foi anunciada uma nova parceria, dessa vez com o Grupo Metha. Inicialmente, o acordo estava previsto para durar cinco anos. No dia 22 de junho, porém, a empresa encerrou a parceria e o cinema voltou a ser o Cine Glauber Rocha.

Inaugurado em 1919 como Cine-Theatro Guaranny, o centenário cinema é um dos poucos de Salvador que não estão localizados dentro de shoppings. O equipamento cultural ganhou o nome de Glauber Rocha em 1981, depois da morte do cineasta baiano.

Ao Cineinsite A TARDE, o cineasta e sócio do espaço, Cláudio Marques - que já dirigiu e produziu sete curtas e três longas -, falou sobre o legado do Cine Glauber Rocha. Segundo ele, em suas fases distintas, o espaço sempre foi a principal sala de cinema da Bahia. “Nos anos 50, o cinema sediou o Cineclube da Bahia, de Walter da Silveira e Carlos Coqueijo da Costa. Durante anos, o espaço foi fundamental na formação de cineastas como Glauber Rocha, a quem prestamos homenagem”, destacou.

Marques também cita os cineastas Orlando Senna, Roberto Pires e Oscar Santana, que também tiveram forte ligação com o Cineclube da Bahia. “Caetano Veloso, em seu livro Verdade Tropical, diz ter recebido a principal formação intelectual no Cineclube da Bahia, dentro do Cine Glauber Rocha. O Ciclo de Cinema da Bahia (1959-1963) teve naquela sala de exibição sua principal referência, com exibição de copiões, pré-estreias e filmes em cartaz”, relembrou.

Fundador do Panorama Internacional Coisa de Cinema, um dos mais importantes eventos do cinema brasileiros, que, entre outras ações culturais, alia a exibição dos filmes a bate-papo com profissionais da área e oficinas, o cineasta afirmou que, em sua nova fase, iniciada em 2008, “o cinema foi o motor para a renovação de todo o entorno, que estava abandonado”.

Ninguém acreditava no centro da cidade e na Praça Castro Alves. Hoje, é uma das áreas mais valorizadas da cidade. Uma sala de cinema possui esse poder de redesenhar o tecido urbano.

Cláudio Marques - cineasta

Em meio à polêmica da aprovação do PL da Cota de Tela, que retirou o cinema do texto final, o cineasta garantiu que, independente da falta de políticas públicas para fomento, o local sempre vai exibir cinema nacional. “O Cine Glauber Rocha é uma sala com excelentes projetores, um dos poucos equipamentos culturais inclusivos, preços populares e com diversidade em sua programação”.

De acordo com o sócio e diretor do Cine Glauber Rocha, as salas de cinema no Brasil ainda operam em cerca de 50% de público do que era antes da pandemia. Ele pontuou que os números estão melhorando porque “as pessoas estão cansando do streaming, redescobrindo a experiência única possibilitada pelas salas de exibição”. No entanto, Marques ressaltou que ainda é um momento delicado, “mas já estamos vislumbrando dias melhores para o país, como um todo”.

Otimismo e cinema democrático

Cineasta, autor e produtor, Cláudio Marques
Cineasta, autor e produtor, Cláudio Marques | Foto: Divulgação

O Cine Glauber Rocha passou por momentos difíceis ao longo da história. Antes de iniciar a sua nova fase em 2008, acabou desativado por alguns anos e, como supracitado, ficou um período fechado em 2021 também. Atualmente, porém, o cenário é de otimismo, conforme Cláudio Marques.

“A população, que ficou apartada da experiência cinematográfica durante a década passada dada a crise econômica, ama o cinema. Quer voltar! A possibilidade de preços populares e a melhora na economia significam uma situação melhor para as salas de cinema”, afirmou.

Fato é que o cinema tem registrado bons números na bilheteria, especialmente nas sessões especiais como as matinês, aos domingos, quando os ingressos são comercializados a apenas R$ 5. As salas lotadas são frequentemente comemoradas no perfil do Instagram do equipamento cultural.

Sobre a diversidade de filmes que o espaço oferece atualmente, Cláudio disse que a ideia sempre foi conciliar o que todos “querem ver” com o que há de melhor do mundo do cinema. “Por exemplo: enquanto exibíamos ‘Barbie’, na sala ao lado tínhamos o belo ‘A Máquina do Desejo’, filme com o magnífico Zé Celso, que acabou de falecer. Todos os domingos, temos o Cineclube Glauber Rocha que exibe os clássicos do cinema. Mas, também exibimos filmes mais populares. Ou seja, buscamos atender a todos. Um cinema democrático e acessível, no coração da cidade”.

De Glauber para Glauber

Baiano é considerado um dos maiores nomes da história do cinema brasileiro
Baiano é considerado um dos maiores nomes da história do cinema brasileiro | Foto: Divulgação

O cineasta baiano Glauber de Andrade Rocha nasceu em Vitória da Conquista em 14 de março de 1939, e morreu no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1981. Considerado um dos maiores nomes da história do cinema brasileiro, Glauber é reverenciado como um gênio revolucionário, visionário e intelectual.

Ele foi um dos fundadores do movimento de vanguarda Cinema Novo, e muitas de suas obras, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, são frequentemente listadas como alguns dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Na avaliação do jornalista e crítico de cinema Adolfo Gomes, a obra de Glauber continua em fluxo e se desenvolvendo como sugere a poética de "A Idade da Terra", que acabou sendo seu último trabalho. “Até hoje quando revejo esse filme tenho a sensação que ainda vou encontrar o próprio Glauber, o Jece Valadão ou o Maurício do Vale em algum cortejo ancestral pelas ruas do centro de Salvador, cantando: ‘Ela não gosta de mim, ela não gosta de mim'".

No nosso país todas as coisas são interrompidas, as melhores ideias, pessoas, projetos e lutas não têm continuidade. Para mim, Glauber permanece. Como ele mesmo disse: ‘Só o real é eterno’.

Adolfo Gomes - crítico de cinema

Por isso, para o jornalista, é impossível avaliar o legado de Glauber já que a sua filmografia ainda é tão presente. “É uma realidade em construção, estimulante, sonhada e, quem sabe um dia, a alcancemos, enfim. Estejamos à altura da reforma do olhar que ela nos propõe. Compreender tal desafio, acho que faria bem para a cultura brasileira”.

“Transcende fronteiras”

Crítico Adolfo Gomes
Crítico Adolfo Gomes | Foto: Divulgação

As contribuições de Glauber Rocha para o cinema nacional são muitas e para Adolfo Gomes elas “transcendem as fronteiras formais e os territórios nacionais". “É um amálgama das suas raízes e convicções mais conservadoras e regionais com uma utopia revolucionária e universalista", definiu.

Ele desconfia que Glauber tinha a “autoconsciência do fracasso do seu projeto de um ‘cinema novo’, por isso se tornou uma espécie de nômade, transitando e questionando as esferas de poder na América Latina, África e Europa”.

“Queria espalhar sua ‘mensagem’ de corpo presente e não apenas através de seus filmes e escritos. Apontou o caminho para o audiovisual do Terceiro Mundo: essa ideia atemporal de que as contingências, limitações e até mesmo a precariedade das condições de produção não são páreo para o impulso criativo. É uma assertiva absolutamente libertária”, enfatizou.

Para Adolfo Gomes, consumir a obra de Glauber não deve ser uma imposição, “tem que ser um processo livre”. “As pessoas se sensibilizam ou não. Descobrem, refletem, reconfiguram, acolhem, apreendem ou não. Sem tutelas, direcionamentos, imposições. O que resta fazer é garantir o acesso e a difusão de sua obra. O que pode resultar a partir daí, acredito, é mais liberdade, no olhar e da imaginação”, disse o crítico, que defendeu: “Glauber não deve ser ‘leitura obrigatória’ e sim escolha, surpresa, novidade. E cada um tem que fazer o seu próprio caminho”.

Por fim, o crítico também deu detalhes do seu amor tanto pelo cineasta Glauber Rocha quanto pelo Cine Glauber Rocha. "Se a sala de cinema é, para mim, como um útero, o Glauber, persona, representa um vulcão".

Ambos representam para mim abrigo e risco, cinefilia e vida fora dos filmes. Se a sala de cinema é, para mim, como um útero, o Glauber, persona, representa um vulcão. E ele bem que poderia, em algum momento, entrar em "erupção" e trazer à tona o magma da polêmica que sempre o caracterizou. Por Glauber, gênio inquieto e iconoclasta, não ponho a mão no fogo. Mas acredito que o Cine que leva seu nome faz jus à sua trajetória multifacetada e diversa - e também ao seu espírito livre.

Adolfo Gomes - crítico de cinema

*Sob supervisão de Bianca Carneiro

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Tags:

Adolfo Gomes Cine Glauber Rocha Cláudio Marques Desafios Glauber de Andrade Rocha Legado perspectivas futuras

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