ANIMAÇÃO BRASILEIRA
Ex-animador do "Sítio" estreia novo projeto infantil: "Inspirador"
Reynaldo Marchesini revelou planos de fazer longas e parcerias com animadores baianos
Por Bianca Carneiro
Um dos campos mais ativos do audiovisual brasileiro, a animação tem tido cada vez mais destaque no país. O segmento, inclusive, é o tema da tradicional CineOP, Mostra de Cinema de Ouro Preto, que vai até o dia 24 de junho: “Cinema de animação no Brasil: uma perspectiva histórica”.
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Na vanguarda da animação, estão nomes como o de Reynaldo Marchesini. Com 27 anos de experiência no mercado, ele é fundador da produtora de conteúdo infantojuvenil Flamma e assinou animações famosas como as do "Sítio do Picapau Amarelo" e "Princesas do Mar". Seu mais recente projeto, a série infantil “Lupi e Baduki”, estreou na última segunda-feira, 17, no Discovery Kids e na Max.
A riqueza das histórias e a originalidade visual são marcas registradas das produções brasileiras. Muitas vezes, as obras animadas exploram temas sociais e culturais enraizados no país. É aí que se encaixa “Lupi e Baduki”, que conta as aventuras de dois animais tipicamente brasileiros, que são melhores amigos: uma loba-guará e um bicho-preguiça.
Em entrevista ao Cineinsite A TARDE, Reynaldo disse que a inspiração para fazer o desenho surgiu a partir da própria família. “Eu sempre observava atento às diferenças entre minha filha e meu filho. Ela, agitada, falante, e ele, por outro lado, sempre na dele, evitando, ao máximo, chamar a atenção. Mas era encantador ver que, entre eles, nada disso importava. Quando criei a série, em 2014, já vivíamos num mundo com polarização e pouca empatia, foi então, que juntando essa admiração pelo exemplo deles de que diferentes podem sim conviver em harmonia com a minha inquietude diante da polarização e intolerância à diversidade, que criei o universo ao redor de Lupi - essa lobinha guará intensa e alegre - e Baduki - um bicho-preguiça observador e curioso”, explicou.
Reynaldo afirma que a escolha de representar animais brasileiros foi de não só homenagear a fauna do país, como também, chamar a atenção para os riscos de extinção que eles vivem na vida real. Mas estes animais não são os únicos, na floresta dos amigos também há espaço para Carlos, um ouriço-cacheiro, Jabu, um jabuti-piranga, Ana Maria, uma onça jaguatirica, e até a gata Ceci.
Toda a série é guiada pela alteridade, que, para Reynaldo, é crucial no desenvolvimento da infância. No entanto, outros temas relacionados são abordados. “Ciúmes entre amigos, a descoberta de gostos em comum com amigos improváveis, a pressão para se encaixar no grupo. Estes aspectos positivos e negativos do contato com o outro requer este incentivo a perceber e acolher o outro, por mais diferente que ele aparenta ser. Todos os episódios partiram de premissas baseadas numa questão relacionada às diferenças”, explica ele, que contou com a ajuda de uma consultora pedagógica da Universidade de São Paulo (USP) para escrever as histórias.
Animação no Brasil
Nesta quarta-feira, 19, Dia do Cinema Nacional, vale lembrar que além do sucesso em séries, a exemplo de "Irmão do Jorel" e "Cidade dos Piratas", a animação brasileira também se destaca no cinema, com produções premiadas e até indicadas ao Oscar como "O Menino e o Mundo", de Alê Abreu. Reynaldo tem projetos envolvendo longas.
“Estou escrevendo o roteiro de um longa chamado "Miguel e Juca" sobre um aprendiz de anjo da guarda cujo sonho é proteger crianças e seu encontro com um menino órfão à procura do pai aviador sumido”.
“Em outro projeto, estou pesquisando o uso de ferramentas de produção virtual para uma nova forma de produção de técnicas mistas, unindo personagens de animação renderizados em tempo-real interagindo com atores em live-action num set com tela de LED. Tenho também um projeto dos roteiristas Mabel Lopes [“Turma da Mônica Jovem”] e Pedro Aguilera [“3%”], chamado ‘Astronomeba’ sobre seres microscópicos que viajam numa espaçonave pelo ‘universo’, que na verdade é o quarto de uma criança. Todos estes sem previsão de lançamento”, completa ele, que descartou uma nova produção envolvendo o Sítio do Picapau Amarelo.
“São personagens fortes, divertidos e conhecidos do público, o que facilita muito na hora de convencer possíveis executivos de canais a considerarem investir em uma nova temporada. Mas, sendo sincero, se por um lado a familiaridade que desenvolvi com este universo facilitaria a minha atuação na produção de algo novo do Sítio, eu desejo mesmo é focar nos meus personagens e projetos pessoais com os temas da infância que me inspiram a criar”, pontua
E na Bahia? Reynaldo conta que já trocou experiências em Salvador com nomes como Amadeu Alban, Candida Luz Liberato, Toni Couto, Isabelle Santos e Michel Santos. “Eu ainda não coproduzi com estas pessoas, mas espero que isso aconteça logo. O Brasil precisa de mais coproduções de animação entre produtoras de todos os estados”, destacou ele, que falou sobre a necessidade de mais investimentos na animação.
“É preciso percorrer eventos e rodadas de negócios à procura de parceiros, distribuidores e exibidores. Como diria Lupi: ‘Vam'bora!’".
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