CINEBIOGRAFIA
“Nosso Sonho” brilha ao apostar na vida e não na tragédia
Filme conta a história real da dupla Claudinho e Buchecha
Por Edvaldo Sales
A onda de cinebiografias de grandes artistas e figuras históricas brasileiras continua a todo vapor. Apenas para este ano, títulos como "Meu nome é Gal", "Angela" e "Mussum - O Films" prometem levar o público aficionados pelo gênero aos cinemas. Entre eles, também está “Nosso Sonho”, dirigido por Eduardo Albergaria, e que conta a história real da dupla Claudinho (Lucas Penteado) e Buchecha (Juan Paiva), que marcou o cenário musical brasileiro no final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Criar uma narrativa à altura do impacto cultural da dupla e balancear o roteiro de maneira que o texto valorizasse as particularidades de ambos eram coisas necessárias para esse filme funcionar. Além disso, Nosso Sonho carrega a difícil missão de homenagear Cláudio Rodrigues de Mattos, o Claudinho, que morreu após o carro em que ele estava derrapar e bater em uma árvore na rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, em julho de 2002.
O texto de Maurício Lissovski, Fernando Velasco, Eduardo Albergaria e Daniel Dias, roteiristas de Nosso Sonho, segue uma estrutura simples, porém eficiente. Ao focar, principalmente, na relação entre Claudinho e Buchecha e não na tragédia pela qual ambos são comumente lembrados, o filme brilha. Isso se deve ao carisma de Penteado e Paiva - em poucos minutos de tela ambos conversem que são amigos de infância e que se amam, acima de tudo - e a interação da dupla, que soa natural em todas as suas nuances.
Já é quase regra em cinebiografias de artistas essas personalidades enfrentarem problemas familiares, o que pode render ótimas motivações e pontos de virada interessantes na história, mas também, dependendo da abordagem, pode ser apenas mais do mesmo. É necessário ter algo a dizer ao fazer uso desse recurso de roteiro.
Sabendo disso, os roteiristas de Nosso Sonho usaram esse artifício para falar sobre a importância de se dar segundas - e até terceiras - chances às pessoas e, dessa forma, ter um diferencial e também criar momentos genuinamente emocionantes. A aposta do filme nesse sentido pode ser percebida na relação do Buchecha com o pai, Claudino, interpretado de maneira irretocável por Nando Cunha.
A interação de Claucirlei Jovêncio de Souza, o Buchecha, com Claudino é parte essencial para o desenrolar da trama e desenvolvimento dos dois. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre todo o elenco coadjuvante, que conta com Tatiana Tiburcio, Lellê e Antônio Pitanga. As duas primeiras interpretam a mãe e a esposa do artista, respectivamente, e têm papéis pouco desenvolvidos.
A escolha por uma narrativa não linear construída a partir da perspectiva do Buchecha sobre a relação dele com o Claudinho e todas as pessoas que o cercam é outra escolha bastante acertada do longa e contribui para que o filme tenha um fio condutor e uma dinâmica interessante. Contudo, algumas escolhas criativas quebraram um pouco a fluidez do filme. Uma delas é o voice over, que em muitos momentos é desnecessário, pois é colocado apenas para reforçar algo que está na tela.
A direção de Eduardo Albergaria, de “Happy Hour - Verdades e Consequências”, foi bem pensada e articulada para contornar as limitações orçamentárias. O cineasta apostou em soluções visuais e de edição simples e inteligentes para mostrar, por exemplo, as turnês de Claudinho e Buchecha pelo mundo. Ademais, Albergaria demonstrou muita sensibilidade nas suas composições, fazendo o uso, inclusive, de uma rima visual bem construída e com força dramática.
Com grandes sucessos da dupla, como "Nosso Sonho" - que dá título à cinebiografia -, "Só Love" e “Fico Assim sem Você”, a trilha sonora do longa cumpre um papel importante na história. Além do fator nostálgico, as músicas são colocadas em momentos pontuais e que enriquecem a narrativa.
Buchecha sem Claudinho
A fatalidade que vitimou Claudinho e interrompeu a carreira de sucesso da dupla é um dos capítulos mais dolorosos da história recente da música. Precursora do funk melody carioca, a dupla estava no auge da carreira quando o acidente aconteceu. Essa parte da história é colocada no roteiro de maneira sensível, mas não é o foco. A homenagem ao Claudinho celebra a sua vida e ascensão.
Nosso Sonho deixa isso claro não apenas ao longo do filme, mas também em seus créditos finais, com registros reais de momentos importantes da vida da dupla. E que bom que essa é a história que virou cinema, como profetizou a canção "Coisa de Cinema", antigo sucesso na voz da dupla.
Confira os horários das sessões de Nosso Sonho no Cineinsite A TARDE.
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