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21/07/2024 às 7:20 - há XX semanas | Autor: Rafael Carvalho

JOIA REDESCOBERTA

Primeiro longa rodado na Chapada, "Cristais de Sangue" ganha sessão nesta quarta

As cenas foram filmadas no inverno, em Mucugê e uma parte em Lençóis

Filme da ítalo-brasileira radicada em São Paulo Luna Alkalay, era dado como perdido
Filme da ítalo-brasileira radicada em São Paulo Luna Alkalay, era dado como perdido -

Por muito tempo, Diamante Bruto (1977), de Orlando Senna, era considerado o longa-metragem mais antigo feito na Chapada Diamantina a que se tinha acesso. Isso porque o filme Cristais de Sangue, dirigido três anos antes pela ítalo-brasileira radicada em São Paulo Luna Alkalay, era dado como perdido.

Em 2021 e 2022, no entanto, materiais em negativo e interpositivo do filme foram encontrados na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e no Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro, pelo esforço do pesquisador e realizador Felipe Abramovictz. Seguiu-se então um trabalho de restauração do material. Agora, Cristais de Sangue ganhou uma cópia digital de alta qualidade de som e imagem que terá exibição especial em Salvador na próxima quarta-feira, 24, no Cine Glauber Rocha, às 19h.

“A coisa mais incrível e que me comove mais foi terem recuperado as cores originais do Cristais de Sangue. Ele estava todo verde e rosa. A fotografia do filme é maravilhosa, deslumbrante. Filmamos no inverno e nas montanhas, em Mucugê, e uma parte pequena em Lençóis”, comemora Luna Alkalay em entrevista para A TARDE. Essa fotografia foi assinada por Aloysio Raulino, grande fotógrafo e cineasta brasileiro com quem Alkalay foi casada – ele também participou da escrita do roteiro, junto com Caetano Lagastra e a própria Luna.

Alkalay, no entanto, tem o seu lugar próprio na história do cinema brasileiro. Uma das pioneiras dentre as diretoras mulheres no Brasil, ela encarou o desafio de rodar um longa-metragem na Chapada Diamantina em plena ditadura militar. Mas destaca o trabalho em conjunto com outros profissionais que permitiram a feitura do filme, incluindo-se em meio à turma que fazia à época o dito cinema marginal.

“Trabalhar coletivamente era absolutamente necessário naquela época. Era a única forma de sobreviver porque era tudo tão terrível, tão proibido, tão censurado, que poder falar e se mostrar contra aquele estado de coisas só era possível através de um grupo de pessoas com as quais era possível produzir filmes”, afirmou.

Agora, 50 anos depois dessa corajosa aventura, o filme poderá ser visto pelo público de Salvador. Na ocasião, serão exibidos também o curta-metragem Sangria, primeiro curta que Alkalay dirigiu sozinha – já havia codirigido os curtas Lacrimosa e Arrasta a Bandeira Colorida, em parceria com Raulino – e também o documentário Cristais de Sangue 1974-2024, de Felipe Abramovictz, sobre o processo de restauração do longa.

Mágico marginal

Nascida na Itália e tendo morado um período na Argentina, Luna Alkalay se mudou ainda pequena com os pais para o Brasil. Em São Paulo, na juventude, começou a cursar a Faculdade de Filosofia, na USP, mas foi tomada de assalto pelo cinema brasileiro.

“Um belo dia, eu estava no meu Fusca, indo para a faculdade, quando eu parei para olhar uma equipe de estudantes de cinema que estavam filmando alguma coisa na rua. Eles invadiram o meu carro e me pediram para levá-los à Reitoria e para outros lugares. Pronto, a partir daí eu troquei a faculdade pelo cinema”, relembrou a cineasta.

Depois disso, Alkalay começou a participar da realização de vários filmes em diversas funções, até dirigir seu primeiro curta-metragem solo, no início dos anos 1970. Ela nos contou também como chegou até o interior baiano para fazer Cristais de Sangue.

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“Nós fizemos uma viagem para a Bahia e eu gosto muito de percorrer o sertão. E aí alguém soprou que a gente devia conhecer a Chapada Diamantina. Quando eu cheguei em Mucugê, eu disse: ‘esse é o lugar mais mágico que eu conheci na minha vida’. Quando eu vi aquele cemitério, aquelas ruas, era uma cidade quase deserta, já decadente depois do auge do diamante, eu achei tudo fantástico”, confidenciou.

Foi nessa viagem que Alkalay ouviu as histórias do antigos coronéis da região, as maldades cometidas em busca da riqueza e também as tramas de tons mágicos.

Aquilo começava a fazer muito sentido para mim. Eu gosto muito desse caminho do realismo fantástico porque a gente tinha a necessidade de usar sempre metáforas para retratar a realidade. Logo, pensei: ‘É aqui que eu quero fazer o meu filme”, conta.

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Nasce, então, a trama de Cristais de Sangue, que conta a história de um homem (Rui Polanah), viajante africano que chega na Bahia em busca do pai desaparecido depois de encontrar um grande diamante na Chapada Diamantina. O viajante trava contato especialmente com uma misteriosa mulher (Salma Buzzar), prisioneira de um coronel da região.

Filmagens locais

Alkalay nos contou também sobre as filmagens nas cidades de Mucugê e Lençóis. “Nossa equipe era de 14 pessoas no total. Imagina chegando um povo completamente diferente – porque a gente era esquisito – numa cidadezinha como aquela! A gente ficava hospedado na única pensão que existia na época e saíamos para a rua com os figurinos do filme, equipamentos, a gente conversava com todo mundo. As pessoas se aproximavam rapidamente”, contou.

Ela relembrou a mobilização dos moradores que queriam participar da produção e estavam sempre dispostos a ajudar. As pessoas abriam suas casas para a equipe, até mesmo para servir de locação.

“Mas a gente filmava muito na rua. Era praticamente tudo em externas. Primeiro porque a luz era lindíssima e segundo porque a gente não tinha equipamento de iluminação”, diz.

No final do filme, havia cenas que precisavam de muitos figurantes. Para isso, eles criaram uma estratégia: preparam um feijão para servir às pessoas e isso atraiu muita gente para as locações. “Era alegria total, todo mundo queria entrar na filmagem. Essas cenas finais do filme são praticamente com a cidade inteira”, revelou a cineasta.

Há alguns meses, eles puderam exibir Cristais de Sangue em Mucugê, o que deixou a cineasta muito emocionada porque as pessoas se viam na tela ou então reconheciam familiares que participaram do filme na época. O filme acabou sendo um registro importante da população daquele lugar em 1970.

É por esse sentido de identidade nacional que Alkalay define o próprio filme: “Cristais de Sangue é uma saga sobre o lado mágico do Brasil, em que o diamante representa a possibilidade de passar a viver uma outra vida. Fala muito de perto a esse lado mítico da imaginação e do pensamento brasileiro”.

Cristais de Sangue / Direção: Luna Alkalay / Roteiro Luna Alkalay, Aloysio Raulino / Com Fernando Peixoto, Emmanuel Cavalcanti, Ruy Polanah, Salma Buzzar, Tuna Espinheira, Claudia Mello, Clodomiro Bacellar, Yara Espinheira, Waldemar Santana / Exibição nesta quarta-feira (24), no Cine Glauber Rocha, 19h.

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