TEMA DE SÉRIE
Sumiço de Priscila Belfort foi “um fracasso policial”, diz diretor
Mistério vai ser abordado na série documental "Volta Priscila" do Disney+
Por Edvaldo Sales
“História de um fracasso policial”. É assim que o diretor Eduardo Rajabally (“Amazônia Desconhecida”) define o desaparecimento da irmã do lutador de MMA, Vitor Belfort, Priscila Belfort. “Volta Priscila”, uma série documental de quatro episódios sobre o caso, está sendo produzida pelo Disney+, que fez anúncio em evento realizado no Rio, no início de junho, com a presença dos diretores da produção e de Jovita Belfort, mãe de Priscila e de Vitor.
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Em entrevista exclusiva ao Cineinsite A TARDE, Rajabally disse que a série se trata de um true crime diferente “porque é uma história sobre uma ausência”. “O caso não acabou, não foi concluído. Não tem culpado, não teve julgamento, não teve uma cena do crime, não tem um corpo, não se sabe o que aconteceu com a Priscila. A mãe da Priscila não sabe o que aconteceu com ela 20 anos depois”, enfatizou.
Para o diretor, o caso é a história de “um fracasso policial” porque, mesmo depois de 20 anos, ainda não há respostas concretas. “É uma história em aberto, é uma ferida para família que não fecha nunca porque a história não acaba. Quando a pessoa morre tem como enterrar ela, você fica de luto e aprende a conviver com aquilo, mas quando a pessoa desaparece é como se a história não tivesse acabado. Então, todo dia é a mesma dor, é isso que Jovita conta pra nós. Foi muito difícil.
Eu acho que, por um lado, é a história de um fracasso policial, porque a polícia em 20 anos não conseguiu descobrir. É uma bateção de cabeças da polícia. Por outro lado, é a história de uma família em apuros, desesperada. E um terceiro lado é: quem é essa pessoa? Porque a gente está falando tanto dela, mas quem é ela?
Arquivo pessoal
Segundo Jovita Belfort, a família sempre teve o costume de registrar momentos em gravações de vídeo. Esse material serviu como base para fazer o documentário. “E aí eu acho que o grande trunfo da série é ter esbarrado nesse grande arquivo pessoal da família, tem fotos e vídeos VHS, Super 8, que são imagens muito íntimas. Poucas séries no Brasil, que eu me lembre, tem tanto material de arquivo pessoal íntimo como essa série”, pontuou Eduardo Rajabally.
O diretor disse ainda que, a partir desse material, tudo mudou. “Você começa a ouvir a Priscila, a ver o que ela pensava, como ela se portava, como ela era, ouvir a voz. E aí tudo muda, porque a pessoa parece que está de repente presente de novo, mesmo a gente estando discutindo uma grande ausência muito sentida. De certa forma, ela está presente na série, é como se resgatasse essa pessoa, não só para a família, como para todo mundo”.
Além da história policial que não dá em nada, é uma série que tenta trazer a Priscila e tratar ela como protagonista. Como se ela pudesse contar a história dela através desses muitos materiais.
Depois do desaparecimento da jovem, a polícia passou a trabalhar com a hipótese de homicídio, mas a família não descarta que ela possa estar viva. Após investigações, as suposições foram descartadas e o caso foi arquivado, mas, com o anúncio da série, a investigação foi reaberta pelas autoridades cariocas.
A produção abordará também como o caso Priscila Belfort ajudou a mudar a maneira como autoridades lidam com pessoas desaparecidas. Um exemplo disso foi a criação de uma delegacia especializada em desaparecimentos no Rio, em 2012. Até então, familiares eram obrigados a lidarem com a delegacia de homicídios.
Ponto de partida
Antes de Rajabally integrar o time, a jornalista e diretora de conteúdo Bruna Rodrigues foi responsável pela pesquisa. Ao Cineinsite, ela contou que atuava como repórter quando Priscila desapareceu. “Eu nunca cobri o caso, mas sempre me chamou a atenção a quantidade de matérias que se tinha na mídia sobre a Priscila, com poucas informações sobre a própria vítima. E mesmo o que se dizia era sempre muito superficial, mas isso lá em 2004, 2005, 2006, ela desapareceu 9 de janeiro de 2004”, disse.
Rodrigues começou a se aprofundar no desaparecimento por conta própria há quatro anos. Ela já trabalhava com não-ficção. “Peguei todas as matérias, me aprofundei, e aí estreitei a relação com a família da Jovita. Expliquei que eu tinha feito um estudo mais aprofundado. Foi aí que o Raja entrou no processo e a gente, de fato, com a família e a produtora Pródigo, desenvolvemos essa série para trazer os 20 anos de investigação esmiuçados”, detalhou.
Algo que o Raja falou muito é que é um perfil da Priscila mais aprofundado, porque até então eu nunca nem tinha ouvido a voz da Priscila. E quando nós acessamos esses vídeos, esses documentos, a gente ouviu a voz dela, a gente viu as cartas, o diário, e a gente conseguiu começar a traçar um perfil da Priscila.
“Órfão de mãe viva”
Jovita Belfort fez um relato emocionante no painel sobre o documentário realizado no Rio. Ela revelou que o desaparecimento da filha afetou toda a família, e citou um dia em que Vitor perguntou se ela sabia o que é ser “órfão de mãe viva”.
“O Vitor já era casado, com três filhos e bem-sucedido. Mas ele tinha um buraco grande na vida dele, e eu entendo. Quando um filho desaparece, você só pensa naquele filho”, disse. Na ocasião, Jovita também falou que os netos dela perguntam por Priscila. “Isso faz parte da vida deles, apesar de ela não estar aqui”, completou.
Relembre o caso
Priscila foi vista pela última vez em 2004, quando saía do trabalho para almoçar. Ela atuava como servidora na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro. Desde então, boatos e denúncias deram contornos de mistério para a história ainda sem conclusão judicial.
A família denunciou o desaparecimento à polícia após dois dias sem ter notícias de Priscila. Não houve nenhum pedido de resgate. O caso ganhou bastante repercussão midiática devido a Vitor, que, na época, despontava na carreira como lutador e estava recém-casado com Joana Prado, a ex-Feiticeira.
Desde o desaparecimento, muito se especulou sobre os motivos que levaram Priscila a não ter sido mais vista. Até mesmo confusão mental chegou a ser cogitada, pois ela já havia apresentado lapsos de memória, a dívidas por uso de drogas, devido a uma denúncia feita em 2007.
Na época, uma mulher se entregou à polícia afirmando que ela e um grupo de pessoas tiveram envolvimento no assassinato de uma vítima que, supostamente, seria a ex-servidora.
A família, porém, negou que Priscila tivesse envolvimento com drogas e disse não acreditar que ela possa ter se envolvido em dívidas para proteger algum ex-namorado. Na época, o lutador afirmou que a família forneceu para a Delegacia Antissequestro do Rio de Janeiro os nomes.
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